A morte à espreita
Dossier Nos 70 anos do Campo de Concentração do Tarrafal
«O campo de concentração do Tarrafal é um rectângulo de arame farpado, exteriormente contornado com uma vala de quatro metros de largura e três de profundidade. Tem duzentos metros de comprimento por cento e cinquenta de largo e está encravado numa planície que o mar limita pelo poente e uma cadeia de montes por norte, sul e nascente. Dista três quilómetros da Vila do Tarrafal, na ilha de Santiago.
«A falta de vegetação, os montes escarpados, o mar e o isolamento a que os presos estão submetidos, dão à vida, aí, uma monotonia que torna mais insuportável o cativeiro. Como únicos vestígios do mundo há o ar carrancudo dos guardas e das sentinelas negras que vigiam, as cartas das famílias que demoram meses a chegar, e dias a serem distribuídas, os castigos e os enxovalhos, os trabalhos forçados, as doenças e a morte de alguns companheiros.
«A 29 de Outubro de 1936, na pequena baía do Tarrafal, desembarcámos 150 presos antifascistas, os primeiros que o fascismo português atirou para o Campo de Concentração de Cabo Verde (…) Éramos camponeses, operários, soldados, os gloriosos marinheiros das revoltas dos navios Dão, Bartolomeu Dias e Afonso de Albuquerque, estudantes, intelectuais, filhos do povo que lutávamos pela felicidade do nosso País.
«A bordo foi-nos imposto um severíssimo comportamento. As metralhadoras estiveram assestadas durante toda a viagem, para abrirem fogo à primeira voz. Praças da GNR vigiavam-nos (…) Quando chegámos ao campo de concentração, fomos alojados em doze barracas de lona, com sete metros de comprimento por quatro de largo. Aí deviam viver doze homens.
«Durante quase dois anos, essas barracas, que o sol e a chuva depressa apodreceram, serviram para nos arruinar a saúde …»
«A falta de vegetação, os montes escarpados, o mar e o isolamento a que os presos estão submetidos, dão à vida, aí, uma monotonia que torna mais insuportável o cativeiro. Como únicos vestígios do mundo há o ar carrancudo dos guardas e das sentinelas negras que vigiam, as cartas das famílias que demoram meses a chegar, e dias a serem distribuídas, os castigos e os enxovalhos, os trabalhos forçados, as doenças e a morte de alguns companheiros.
«A 29 de Outubro de 1936, na pequena baía do Tarrafal, desembarcámos 150 presos antifascistas, os primeiros que o fascismo português atirou para o Campo de Concentração de Cabo Verde (…) Éramos camponeses, operários, soldados, os gloriosos marinheiros das revoltas dos navios Dão, Bartolomeu Dias e Afonso de Albuquerque, estudantes, intelectuais, filhos do povo que lutávamos pela felicidade do nosso País.
«A bordo foi-nos imposto um severíssimo comportamento. As metralhadoras estiveram assestadas durante toda a viagem, para abrirem fogo à primeira voz. Praças da GNR vigiavam-nos (…) Quando chegámos ao campo de concentração, fomos alojados em doze barracas de lona, com sete metros de comprimento por quatro de largo. Aí deviam viver doze homens.
«Durante quase dois anos, essas barracas, que o sol e a chuva depressa apodreceram, serviram para nos arruinar a saúde …»
Pedro Soares, in Tarrafal, Campo da Morte Lenta, Edições Avante!