A condenação da política de direita
Os eslovacos manifestaram, nas eleições legislativas de sábado, 17, o seu repúdio pelas orientações liberais seguidas nos últimos anos e uma vontade clara de mudança de política.
Os sociais-democratas garantiram a vitória com um discurso antiliberal
Esmagados pelas reformas anti-sociais conduzidas nos últimos oito anos pelo governo do cristão-democrata Mikulas Dzurinda, os eslovacos deram uma expressiva vitória ao partido Smer-SD (social-democrata) que, durante a campanha eleitoral, apostou na denúncia das consequências da política de direita, prometendo realizar um «programa de esquerda» e revogar as medidas mais gravosas que penalizam a população.
O partido Smer, liderado por Robert Fico, um advogado de 41 anos, conseguiu assim obter 29,1 por cento dos votos e 50 lugares no parlamento, num total de 150, enquanto que a União Cristã-Democrata (SDKU), principal partido no poder, baixou para os 18,4 por cento, elegendo apenas 31 deputados.
Contudo, o descontentamento popular acabou inesperadamente por beneficiar também a extrema-direita representada pelo Partido Nacional Eslovaco (SNS), que tinha sido arredado do parlamento desde 1998.
Desta vez, apoiado num discurso populista e xenófobo, cuja palavra de ordem é «A Eslováquia aos eslovacos», o SNS recolheu 11,7 por cento dos votos, conquistando 20 deputados e consagrando-se como a terceira força política do país. Extasiado com o seu êxito, o líder desta formação, Jan Slota, declarou-se de imediato disponível para negociar uma coligação de governo com Robert Fico.
Este, por sua vez, disse estar pronto para «discutir com toda a gente» com excepção do partido do governo, uma vez que «tal constituiria uma grande decepção para os eleitores». Sem mais adiantar quanto ao assunto, Robert Fico considerou a vitória do seu partido como «um resultado fantástico», expressando unicamente desejo de «conseguir formar uma coligação governamental capaz de fazer passar um programa de esquerda».
Entre as medidas que Fico prometeu ao eleitorado (nas quais também se incluem a retirada de militares eslovacos do Iraque) estão a revisão da impopular reforma do sistema de saúde, o aumento das prestações sociais e a substituição da actual taxa fiscal única de 19 por cento, que incide indiferenciadamente sobre o IVA e os rendimentos, por um sistema socialmente mais justo que imponha contribuições maiores às empresas.
Mas, para além das habituais pressões provenientes dos círculos económicos, preocupados com o equilíbrio orçamental do país que se prepara para aderir ao euro em 2009, o programa de Fico, admitindo a sua sinceridade, arrisca-se a não encontrar os necessários apoios de esquerda no parlamento.
Na verdade, o partido mais próximo é o Movimento para uma Eslováquia Democrática (HZDS) do antigo primeiro-ministro, Vladimir Mecier (1992-1998), impulsionador da cisão da Checoslováquia, ocorrida na sequência da destruição da União Soviética, e responsável por obscuras privatizações e favorecimentos clientelares. Contudo, o HZDS sofreu uma estrondosa queda eleitoral, baixando de 20 por cento, nas legislativas de 2002, para 8,8 por cento e 15 deputados agora.
Tendo em conta que também os comunistas eslovacos (KSS) sofreram um sério revés eleitoral (3,9%), perdendo os 11 deputados que tinham conquistado em 2002, ano em que atingiram os 6,2 por cento dos votos, os sociais-democratas terão de completar a maioria parlamentar com a extrema-direita xenófoba, com os cristãos-democratas do KDH (8,3% e 14 deputados) ou com o Partido Húngaro (SMK que obteve 11,7% e 20 deputados), todos à sua direita e certamente pouco interessados em promover políticas de carácter social.
Vaga de contestação
Todavia, os resultados das legislativas eslovacas confirmam a tendência dos povos da Europa central e de leste para uma rejeição crescente das políticas liberais, que justamente responsabilizam pela destruição dos sistemas de protecção social e de saúde criados durante o período socialista, pelo desemprego em massa e pela pobreza que afecta milhões de pessoas.
A identificação destas políticas com as orientações emanadas da União Europeia explica em grande parte a vitória do líder eurocéptico de direita, Miriek Topolanek, nas legislativas da República Checa, realizadas em 2 e 3 de Junho, tal como já antes sucedera na Polónia, em 2 de Fevereiro, onde a retórica social e anti-europeia garantiu o sucesso eleitoral aos populistas e nacionalistas católicos actualmente no governo.
Também na Hungria, nas eleições de 23 de Abril, a direita populista seguiu esta linha de discurso anti-europeísta, embora não tenha logrado os seus objectivos face ao social-democrata Ferenc Gyurcsany, que se comprometeu na campanha eleitoral a respeitar a «coesão social», promessa que, aliás, já está a defraudar (ver peça).
O partido Smer, liderado por Robert Fico, um advogado de 41 anos, conseguiu assim obter 29,1 por cento dos votos e 50 lugares no parlamento, num total de 150, enquanto que a União Cristã-Democrata (SDKU), principal partido no poder, baixou para os 18,4 por cento, elegendo apenas 31 deputados.
Contudo, o descontentamento popular acabou inesperadamente por beneficiar também a extrema-direita representada pelo Partido Nacional Eslovaco (SNS), que tinha sido arredado do parlamento desde 1998.
Desta vez, apoiado num discurso populista e xenófobo, cuja palavra de ordem é «A Eslováquia aos eslovacos», o SNS recolheu 11,7 por cento dos votos, conquistando 20 deputados e consagrando-se como a terceira força política do país. Extasiado com o seu êxito, o líder desta formação, Jan Slota, declarou-se de imediato disponível para negociar uma coligação de governo com Robert Fico.
Este, por sua vez, disse estar pronto para «discutir com toda a gente» com excepção do partido do governo, uma vez que «tal constituiria uma grande decepção para os eleitores». Sem mais adiantar quanto ao assunto, Robert Fico considerou a vitória do seu partido como «um resultado fantástico», expressando unicamente desejo de «conseguir formar uma coligação governamental capaz de fazer passar um programa de esquerda».
Entre as medidas que Fico prometeu ao eleitorado (nas quais também se incluem a retirada de militares eslovacos do Iraque) estão a revisão da impopular reforma do sistema de saúde, o aumento das prestações sociais e a substituição da actual taxa fiscal única de 19 por cento, que incide indiferenciadamente sobre o IVA e os rendimentos, por um sistema socialmente mais justo que imponha contribuições maiores às empresas.
Mas, para além das habituais pressões provenientes dos círculos económicos, preocupados com o equilíbrio orçamental do país que se prepara para aderir ao euro em 2009, o programa de Fico, admitindo a sua sinceridade, arrisca-se a não encontrar os necessários apoios de esquerda no parlamento.
Na verdade, o partido mais próximo é o Movimento para uma Eslováquia Democrática (HZDS) do antigo primeiro-ministro, Vladimir Mecier (1992-1998), impulsionador da cisão da Checoslováquia, ocorrida na sequência da destruição da União Soviética, e responsável por obscuras privatizações e favorecimentos clientelares. Contudo, o HZDS sofreu uma estrondosa queda eleitoral, baixando de 20 por cento, nas legislativas de 2002, para 8,8 por cento e 15 deputados agora.
Tendo em conta que também os comunistas eslovacos (KSS) sofreram um sério revés eleitoral (3,9%), perdendo os 11 deputados que tinham conquistado em 2002, ano em que atingiram os 6,2 por cento dos votos, os sociais-democratas terão de completar a maioria parlamentar com a extrema-direita xenófoba, com os cristãos-democratas do KDH (8,3% e 14 deputados) ou com o Partido Húngaro (SMK que obteve 11,7% e 20 deputados), todos à sua direita e certamente pouco interessados em promover políticas de carácter social.
Vaga de contestação
Todavia, os resultados das legislativas eslovacas confirmam a tendência dos povos da Europa central e de leste para uma rejeição crescente das políticas liberais, que justamente responsabilizam pela destruição dos sistemas de protecção social e de saúde criados durante o período socialista, pelo desemprego em massa e pela pobreza que afecta milhões de pessoas.
A identificação destas políticas com as orientações emanadas da União Europeia explica em grande parte a vitória do líder eurocéptico de direita, Miriek Topolanek, nas legislativas da República Checa, realizadas em 2 e 3 de Junho, tal como já antes sucedera na Polónia, em 2 de Fevereiro, onde a retórica social e anti-europeia garantiu o sucesso eleitoral aos populistas e nacionalistas católicos actualmente no governo.
Também na Hungria, nas eleições de 23 de Abril, a direita populista seguiu esta linha de discurso anti-europeísta, embora não tenha logrado os seus objectivos face ao social-democrata Ferenc Gyurcsany, que se comprometeu na campanha eleitoral a respeitar a «coesão social», promessa que, aliás, já está a defraudar (ver peça).