Não baixar a guarda!

Albano Nunes

A vitória parcial alcançada quanto à «resolução anticomunista» é importante, mas é necessário não baixar a guarda.

Os aspectos mais perigosos da «resolução anti-comunista» votada em 25 de Janeiro na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa não passaram. Os sectores mais reaccionários e revanchistas representados naquela instituição – um típico produto da «guerra fria», criado precisamente para minar e combater os Estados socialistas e a ideologia dos comunistas – sofreram uma clara derrota.

Seria entretanto errado pensar que o assunto foi encerrado. O simples facto de se ter chegado a tal provocação numa organização internacional por muitos considerada vitrine dos «direitos humanos» e guardiã dos valores da civilização ocidental», é suficientemente grave para não baixar a guarda. Além de que a parte da resolução aprovada, mesmo se o foi por uma minoria de parlamentares (99 num total de 315), insiste em considerações tão monstruosas e indignas como a da equiparação de comunismo e fascismo, constitui um incentivo à perseguição dos comunistas e da sua ideologia, é uma ingerência inadmissível nos assuntos internos dos ex-países socialistas da Europa e um acto de aberta hostilidade para com a China, Cuba e outros países que proclamam o objectivo do socialismo.

É pois necessário continuar vigilante, alargar o movimento de protesto aos mais amplos sectores democráticos e antifascistas, denunciar e dar o mais firme combate a toda e qualquer manifestação de ressurgimento do anticomunismo como política e ideologia oficial de partidos, instituições e Estados como o projecto de resolução pretendia. Tanto mais necessário quanto o problema está já aí no processo contra-revolucionário nos Estados Bálticos, na República Checa e outros países, a exigir a solidariedade activa para com dirigentes, partidos e organizações juvenis comunistas objecto de ilegalização e perseguição. Quando se procede de modo cada vez mais aberto e provocatório à banalização, reabilitação e mesmo promoção do fascismo e do nazismo. Quando, para combater as forças que se apresentam perante as massas com alternativas de progresso social e conteúdo anti-imperialista, se apoiam por todo o mundo forças de cariz ideológico conservador e obscurantista, em geral tão «radicais» quanto inclinadas ao compromisso com o opressor. Particularmente elucidativo a este respeito é o que se tem passado no Médio Oriente e Ásia Central em particular na Palestina, com a emergência do Hamas frente à OLP, a grande conquista revolucionária do povo palestiniano e da sua luta libertadora.

A luta contra o anticomunismo é parte integrante e prioritária da luta contra toda uma orientação e prática visando criminalizar toda e qualquer forma de resistência, organizada ou espontânea, à sua violenta ofensiva exploradora e agressiva. Uma orientação e uma prática que está a unir, por cima de reais divergências e contradições, as grandes potências imperialistas; desentendidas aquando da guerra do Iraque por culpa dos apetites hegemónicos dos EUA, estão de novo a coordenar estreitamente a recolonização do planeta. Isso é evidente tanto em relação ao Iraque, ao Afeganistão, ao Irão, à Síria, à Palestina, como a aspectos nucleares do abocanhamento em curso do continente africano, no qual, o governo Sócrates se propõe desempenhar um papel particularmente sujo, chegando ao ponto de defender o velho projecto dos racistas sul-africanos de alargamento da NATO ao Atlântico Sul. A evolução da situação na Alemanha da sorridente senhora Merkel está a facilitar esta «união sagrada» de interesses de classe exigida pela manifesta incapacidade do capitalismo para dar resposta aos problemas da Humanidade.

Perante a agudização da crise do sistema e a crescente resistência dos trabalhadores e dos povos, os sectores mais reaccionários do grande capital numa resposta de força brutal em que, como sempre, o anticomunismo é uma peça central. A vitória parcial alcançada quanto à «resolução anticomunista» é importante, mas é necessário não baixar a guarda.


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