Gastos com medicamentos

Poupar à custa dos utentes

«O Governo dá com uma mão mas tira com a outra. E tira mais do que dá», considerou o líder parlamentar comunista, Bernardino Soares, a propósito das anunciadas medidas governamentais sobre o preço dos medicamentos.

A legislação está cheia de alçapões

A questão foi suscitada pelo PCP e esteve em debate no Parlamento, no final da passada semana, em sessão de perguntas ao Governo no decurso da qual o Ministro da Saúde afirmou pretender alterar o cálculo do lucro das farmácias e armazenistas na venda de medicamentos, asseverando com isso obter uma poupança até 50 milhões de euros/ano aos doentes.
António Correia de Campos revelou ser seu propósito até ao final do ano analisar a «lógica perversa das margens» das farmácias e armazenistas sobre a venda dos medicamentos, alterando o sistema para uma lógica «baseada em princípios activos».
No que se refere aos resultados da redução em seis por cento no preço de todos os medicamentos, em paralelo com o fim do acréscimo de dez por cento na comparticipação dos genéricos, medidas que entraram em vigor a 15 de Setembro, o ministro da Saúde sustentou que, no conjunto dos dez medicamentos mais vendidos, a redução do preço em seis por cento vai gerar uma poupança de 5,6 milhões de euros para o cidadão e de 11,6 milhões de euros para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Contas que não batem certo com as feitas pelo Grupo Parlamentar do PCP, para quem a legislação sobre a baixa de preços está «cheia de alçapões. Não aceitando «embustes», como sublinhou Bernardino Soares, os comunistas entendem que a baixa em seis por cento dos medicamentos não pode tapar o facto de, em simultâneo, terem sido adoptadas outras medidas que «introduzem sérias injustiças na distribuição dos gastos com medicamentos».
Convicto de que a política de poupança está a ser feita à custa dos utentes, o presidente da bancada comunista lembrou que a retirada da majoração de 10 por cento de comparticipação dos medicamentos o que vai certamente é levar a «uma estagnação ou mesmo diminuição do seu uso e penalizar os utentes que os usam».
Registe-se que a Associação Nacional das Farmácias (ANF) acusara o Governo, dias antes, de «omitir» que as poupanças afinal representariam acréscimos de gastos na ordem dos 16 por cento ao ano para os doentes, no que toca aos genéricos.
«O Governo tem dito que se trata da uma resposta de um lóbi ofendido. Pois bem, apresente os seus números. Quanto poupa o Governo e gastam a mais os utentes com esta medida? », desafiou Bernardino Soares, antes de chamar a atenção para outras medidas negativas como a baixa de comparticipação dos medicamentos do escalão A de 100 para 95 por cento, a manutenção dos preços de referência ou a retirada de comparticipação em medicamentos como poderá ser o caso da pílula anticoncepcional.


Mais artigos de: Assembleia da República

Governo fecha-se em copas

«Que política salarial vai adoptar para a administração pública e, consequentemente, que indicações vai dar como referência para o sector privado ? Qual vai ser o nível de investimento público; vai continuar o corte no investimento com todas as consequências que isso acarreta para a estagnação da nossa economia ?» A estas perguntas-chave sobre o próximo Orçamento do Estado o Primeiro-Ministro disse nada. Não deu resposta a estas e outras questões centrais formuladas por Jerónimo de Sousa, como passou ao lado de outras igualmente candentes, seja quanto ao agravamento do desemprego ou à estagnação da economia.

Passar das palavras aos actos

Está para breve, com objectivos e composição bem definidos, a constituição da comissão parlamentar para avaliação e acompanhamento das medidas do Governo para a prevenção e combate aos incêndios florestais.

S. Vicente da Raia vítima da negligência

No recente debate sobre os projectos de resolução relativos aos incêndios florestais foi relatada uma história exemplar que atesta bem a responsabilidade própria dos sucessivos governos pela dimensão do flagelo que todos os anos consome vastas áreas do País. Trazido ao debate pelo deputado comunista Agostinho Lopes, este...

Boicote com fins obscuros

Os sucessivos governos do PS e do PSD boicotaram nos últimos quatro anos as candidaturas dos sistemas intermunicipais de abastecimento de água e saneamento em alta apresentadas pelas associações dos municípios do Alentejo. A acusação é do Grupo Parlamentar do PCP, que considera ter havido simultaneamente neste mesmo...

Sacrificados valores democráticos

A nova entidade reguladora da comunicação social é tudo menos plural e independente. Fruto de mais um negócio entre o PS e o PSD, que o aprovaram no Parlamento, o órgão que vem substituir a Alta Autoridade para a Comunicação Social não dá quaisquer garantias de independência, de idoneidade e de credibilidade.É essa a...

Contra a deslocalização

O Governo esta a pactuar objectivamente com aqueles que, não olhando a meios para aumentar os lucros, intensificam a exploração dos trabalhadores, atropelam a lei e não hesitam, sempre que isso é útil aos seus interesses, em destruir o aparelho produtivo. Exemplo desta postura é a multinacional alemã de calçado ROHDE,...