Comentário

Em defesa da verdade histórica

Maurício Miguel
Na sua mini-sessão de Janeiro em Bruxelas, o Parlamento Europeu assinalou o 60.º aniversário sobre a libertação do campo nazi alemão de Auschwitz-Bikernau - onde terão sido assassinadas cerca de 1,5 milhões de crianças, mulheres e homens -, aprovando uma resolução sobre a «memória do Holocausto, o anti-semitismo e o racismo». Esta resolução tinha como objectivo, na definição dos seus promotores, recordar e condenar a «enorme tragédia do Holocausto, mas também para abordar o inquietante recrudescimento do anti-semitismo e, nomeadamente, dos incidentes anti-semitas na Europa». Num quadro de grande ofensiva do imperialismo - demonstrada pela actualidade da agressão e ocupação do Iraque - é de valorizar a denúncia da barbárie fascista. No entanto não podemos deixar de assinalar a premeditada lacuna histórica da resolução em relação ao papel desempenhado pelo exército soviético na libertação dos prisioneiros desse campo e no contributo decisivo para a derrota do nazi-fascismo. A inexistência de referência aos milhares de comunistas vítimas de perseguição política e mortos durante esse período constitui também, por si, uma expressão do carácter revisionista da resolução e a tentativa de apagar da História o seu papel de resistência e combate. A hipocrisia e a mistificação constituem-se como armas poderosas para a burguesia dominante. Aproveitando o palco mediático que o sistema capitalista coloca ao seu dispor, contando com o apoio de alguma esquerda oportunista, tentam apagar da memória dos povos o papel da União Soviética e do seu povo, branqueando as responsabilidades que as grandes potências europeias e os EUA tiveram ao permitir e fomentar o desenvolvimento das aspirações imperialistas da Alemanha contra a pátria de Lénine. Pé ante pé, procuram avançar com a tese do fim da história e do pensamento único, contando para tal com o contributo de muitos comentadores e académicos, numa manifestação de arrogância e prepotência permitida pela força conjuntural do imperialismo americano e europeu. Mas a História não terminou. O legado da URSS perdurará e as conquistas da Revolução de Outubro nos planos político, económico, social, cultural e científico, constituíram uma experiência positiva de um alcance que ultrapassou em muito as suas fronteiras, marcando a luta de classes e os avanços civilizacionais conquistados pelos Povos.

Nada é obra do acaso!

O capitalismo europeu e as grandes potências tentam avançar com a política neoliberal em vários sectores, nomeadamente: nos Serviços, através da chamada directiva Bolkenstein; nas alterações em relação ao tempo de trabalho e aos direitos dos trabalhadores; na implementação da Estratégia de Lisboa; nos critérios do Pacto de Estabilidade e Crescimento; na constituição do pilar europeu da NATO através da militarização da UE; e, sobretudo, no Tratado Constitucional.
No que se refere ao Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa, as instituições estão a mobilizar importantes meios financeiros para a propaganda a favor do sim e o Parlamento Europeu, transcendendo as suas competências, deu o aval através da «manobra» encenada em Estrasburgo onde, através da pompa e circunstância da «aprovação», se deu um passo para influenciar o resultado dos vários referendos e processos de ratificação que se irão realizar em alguns países da União Europeia. A tentativa de apagamento histórico da URSS e o Tratado Constitucional inserem-se num campo mais alargado da resposta do capitalismo europeu à crise, preparando o campo da exploração através da criação de um vazio de referências para os trabalhadores e para os povos e procurando que o navio do neoliberalismo navegue em águas calmas e sem resistência. Pela nossa parte tudo faremos para que tal não se verifique e podem contar com o PCP para a batalha ideológica e para a luta e agitação políticas contra o neoliberalismo e pela necessária construção de uma alternativa política de esquerda, pelo Socialismo.
Os pressupostos assinalados anteriormente convocam-nos para a necessidade de defender a verdade histórica e a construção da memória colectiva baseada no estudo e no esclarecimento de todos quantos acreditam ser possível construir um mundo diferente.

Em Portugal

Num período pré-eleitoral, os irmãos siameses Sócrates e Santana, ou Dupont & Dupont, proclamam discursos redondos em que o acessório reina em detrimento do fundamental, em que a politiquice ganha ao debate de ideias e ao esclarecimento. A manipulação das consciências, o reinado da forma em detrimento do conteúdo é, para PS e PSD, a táctica necessária para avançar com o bipartidarismo. Diz o povo que aquilo que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Chega de alternância entre PS e PSD. No dia 20 de Fevereiro é necessária uma mudança para uma política de esquerda e esta só é possível com o reforço do PCP e da CDU!


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