Salário mínimo volta a perder

O Governo deve decidir hoje qual o valor do salário mínimo nacional, a vigorar em 2005. A matéria foi objecto de discussão com os parceiros sociais anteontem e, no final, Manuel Carvalho da Silva voltou a protestar contra o facto de, mais uma vez, a actualização do SMN não ter sido feita em tempo útil. O Governo, acusou o secretário-geral da CGTP-IN, citado pela Agência Lusa, «primeiro determina o valor, em função do que estabeleceu para as pensões, e depois faz este simulacro de discussão».
Em nota de imprensa, a Intersindical Nacional tinha considerado, segunda-feira, que «a marcação tão tardia desta reunião é, por si só, demonstrativa da insensibilidade social do Governo, agora em funções de gestão». Para a CGTP, esta primeira reunião deveria realizar-se em Outubro de cada ano, pois «há toda a vantagem em que os agentes económicos conheçam o valor do salário mínimo o mais cedo possível».
Além disso, «a actualização do salário mínimo deveria ter sido simultânea com a revisão das pensões mínimas, para evitar o risco de a consulta das organizações sindicais ser simples fachada», defendeu a central.
Quando o Governo, no relatório interministerial sobre a revisão do SMN, afasta a possibilidade de uma actualização de 3,1 por cento (a mais elevada das quatro hipóteses analisadas), fica mais evidente aquela insensibilidade social, acusa a Inter, realçando que aquele valor ultrapassa em pouco a inflação prevista pela Comissão Europeia para Portugal (2,4 por cento) e limitar-se-ia a compensar a perda do poder de compra do salário mínimo ocorrida desde 2003. Pelo Governo, apenas seriam consideradas as hipóteses de actualização em 2,5 ou 2,8 por cento.
Desta forma, o Governo não considera a perda do poder de compra do salário mínimo verificada (0,8 por cento em 2003), nem a aproximação do salário mínimo ao salário médio (compromisso estabelecido na Concertação Social).
A verificar-se uma actualização de 2,8 por cento (ou, pior, de 2,5 por cento) ela «quase não se traduziria em qualquer ganho real do salário mínimo» - antecipa a CGTP-IN.
Por outro lado, os valores em causa «não são compatíveis com o cumprimento da Convenção N.º 135 da OIT, ratificada por Portugal, que manda também ter em conta a situação económica». Reivindica a CGTP que, prevendo o Governo um maior crescimento económico em 2005 (2,4 por cento) face a 2004 (pouco acima de 1 por cento), é justo que os trabalhadores com salários mais baixos beneficiem, tanto mais que, em tempo de crise, viram reduzidos os seus salários.

Euro-inflação...

Ter em conta a inflação média do conjunto de países que adoptaram o euro, em vez da inflação nacional, para fixar o salário mínimo, é um critério que merece frontal oposição da CGTP-IN. A alteração «corresponde a uma violação grosseira da Convenção N.º 131 da OIT», que «fixa dois critérios: as necessidades dos trabalhadores e das suas famílias e os factores económicos».
Como a inflação portuguesa é superior à média da zona euro, o SMN fica assim diminuído. Na base de um critério também contemplado na Constituição portuguesa, a convenção da OIT «manda atender ao custo de vida, bem como a outros elementos como o nível geral de salários no País», frisa a Inter.
Ao tomar posição sobre o SMN, a CGTP-IN reafirmou que reclama um aumento de 25 euros no salário mínimo nacional, fixando-o em 390,60 euros, com efeitos a 1 de Janeiro próximo, e exigiu que o diploma da revisão seja publicado «o mais rápido possível, para evitar que os trabalhadores sejam prejudicados».
Recordando o discurso oficial, sobre a necessidade de deixar de apostar em baixos salários, a central afirma que «é preciso passar do discurso à realidade».


Mais artigos de: Trabalhadores

A greve que parou as roletas

Foram quatro dias de greve no Casino Estoril com a «maior adesão de sempre no maior casino europeu». Na segunda-feira, a luta foi suspensa para se retomar a negociação.

Por aumentos reais

Com o actual ou com o futuro executivo, os trabalhadores não vão baixar os braços, asseverou o coordenador da Frente Comum de Sindicatos, no dia em que uma vigília respondeu na hora à arrogância do Governo nas negociações.

Portarias de extensão já!

Dirigentes e delegados sindicais da CGTP concentraram-se, dia 16, frente à Secretaria de Estado do Trabalho, em Lisboa, para exigir a imediata publicação das portarias.

Ferroviários exigem solução ainda este ano

As comissões de trabalhadores da CP, da Refer e da EMEF, o Sindicato Nacional dos Ferroviários e outras oito organizações sindicais do sector esperam que as administrações apresentem, até dia 28 de Dezembro, propostas que permitam manter os actuais direitos nos acordos de empresa. Caso contrário, «mobilizarão os...

Contra cortes nas escolas agravados no fim de ano

Duas mil assinaturas, de titulares de órgãos de direcção e gestão de seiscentas escolas e agrupamentos, foram entregues, dia 15, no Ministério da Educação pelo Secretariado Nacional da Fenprof. As graves restrições orçamentais, impostas nos meses de Novembro e Dezembro, criam ainda maiores dificuldades, devido ao facto...

Manifesto da CGTP

A CGTP-IN divulgou, no dia 16, um manifesto aos trabalhadores composto por dez conteúdos concretos para dez áreas prioritárias, por uma política alternativa.Congratulando-se com a convocação de eleições antecipadas, a confederação considera que a sua acção empenhada com os trabalhadores foi essencial para este desfecho,...

Vigília contra <em>lay-off</em> na <em>Kaz Ibérica </em>

Na fábrica da multinacional de capitais estado-unidenses, Kaz Ibérica, em Gondomar, os 200 trabalhadores viram, na segunda-feira, serem suspensos os seus contratos de trabalho durante os próximos quatro meses.Os 200 funcionários manifestaram a sua indignação na segunda-feira, no Porto, frente à Segurança Social no Porto...

Pela redução dos preços dos transportes

A União dos Sindicatos de Lisboa promoveu, anteontem, uma acção de sensibilização da opinião pública para a necessidade de reduzir o preço dos passes sociais e dos bilhetes dos transportes públicos.Denominada «em movimento pela redução das tarifas dos transportes públicos», esta iniciativa sindical visou ainda exigir do...

Por políticas alternativas

Estava prevista para ontem a construção em Aveiro de duas árvores de Natal alusivas ao actual momento político. Numa das árvores, segundo a União dos Sindicatos de Aveiro, de quem partiu a ideia de organizar esta iniciativa pública, colocadas foram «as prendas que não dão», enquanto a outra estava destinada a receber «as...

Qualificação desperdiçada

Em nota divulgada sexta-feira, a CGTP-IN lamentou que os meios financeiros disponibilizados pela União Europeia para a qualificação dos recursos humanos, no âmbito do Programa de Incentivos à Modernização da Economia, não estejam a ser convenientemente utilizados pelas empresas portuguesas. O PRIME, refere a central,...