Inverter o rumo seguido
Os comunistas do Sector das Comunicações, Água e Energia (SCAE) da DORL, que preparam a sua 7.ª Assembleia de Organização, consideram que as privatizações das empresas do sector tem posto em causa fatias consideráveis da soberania nacional.
Os trabalhadores confiam nos comunistas para as CT’s e para os sindicatos
Reforçar a organização do Partido nas empresas de comunicações, água e energia é o grande objectivo da 7.ª assembleia de organização do SCAE de Lisboa do PCP, que se realiza no próximo dia 27. Para Jorge Humberto, responsável pelo sector, este reforço é fundamental para combater a ofensiva que os sucessivos governos estão a mover contra as empresas públicas e os direitos dos trabalhadores e das populações.
Entre as empresas em que o SCAE intervém contam-se algumas das maiores empresas nacionais, como a PT, os CTT, a EDP e a Galp Energia, todas elas situadas no primeiros lugares do top das empresas portuguesas. Nos últimos anos, intensificou-se a entrega a grupos privados do capital destas empresas. Uma das primeiras consequências foi a saída de milhares de trabalhadores.
Na EDP foram destruídos, desde 1988, 14 mil postos de trabalho e na PT mais de 12 mil. Em ambas as empresas são esperadas mais saídas até ao fim do ano. Na Petrogal, restam 2500 trabalhadores dos mais de 7 mil que a empresa já empregou.
Estas saídas – através do recurso a rescisões, reformas e pré-reformas – têm como objectivo a valorização da cotação das empresas na Bolsa de Valores, lê-se no projecto de resolução política da assembleia. Para os comunistas, não é o número de trabalhadores que diminui, mas sim o número de efectivos, que são substituídos por outros, precários ou subcontratados.
Jorge Humberto recorda que a saída de tantos trabalhadores teve óbvias consequências na organização partidária, já que dos que saíram alguns eram comunistas. «Há algum enfraquecimento, apesar de mantermos no activo na nossa organização muitos desses camaradas que saíram e que dão um importante contributo à organização», afirma o dirigente do PCP. Apesar de reformados, esses militantes não têm, em grande parte, uma idade muito avançada.
Segundo conta Jorge Humberto, tem-se tentado contornar a saída de tantos comunistas com um trabalho «de fora para dentro», através dos recém reformados, que conhecem bem a empresa e os trabalhadores. E os resultados são positivos, garante.
Hugo Basto, da Petrogal, considera que a qualidade da intervenção dos comunistas da empresa é cada vez maior. E exemplifica: «os trabalhadores continuam a fazer análises sobre a situação da empresa que é resultado da intervenção dos comunistas.» Coordenador da Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal, Hugo Basto recorda um plenário recente, no qual os trabalhadores eram claros a acusar a política seguida pelos governos pela situação da empresa.
Uma influência decisiva
A influência dos comunistas nas empresas das comunicações e energia é grande, nomeadamente ao nível da sua participação nos órgãos representativos dos trabalhadores. Tanto na Petrogal como na PT, as listas onde participam os comunistas elegem nove dos onze membros das comissões de trabalhadores. Na EDP, elege-se seis em onze. No que respeita às sub-comissões de trabalhadores, o caso da PT é revelador. Em 52 existentes no País, as listas de influência comunista são maioritarias em 50. Ao nível dos sindicatos, a situação não é assim tão diferente. Amélia Monteiro, dos CTT, considera que a influência dos comunistas é determinante para o êxito das lutas.
Consequência da grande redução do número de trabalhadores destas empresas é a degradação do serviço prestado às populações. Estando embora em fases diferentes, tanto a PT como a EDP e os CTT pretendem ou estão já a encerrar estações e postos de atendimento. Quem mais sofre são as populações das regiões mais atrasadas, pois são as estações e postos considerados menos rentáveis que estão para encerrar.
Para o responsável pelo sector, tudo isto é resultado de uma política de submissão por parte do poder político ao poder económico.
Governar para os privados
«Falta uma linha condutora em toda esta política», afirma Jorge Humberto. O responsável pelo SCAE considera que a política dos sucessivos governos para estas empresas estratégicas tem sido norteada apenas pela satisfação dos interesses do grande capital. Hugo Basto exemplifica, revelando o que se passa na Galp Energia. Este grupo – criado a partir da fusão dos negócios do petróleo e do gás natural – tem andado ao sabor dos diferentes interesses instalados nos governos, acusa o membro da célula da Petrogal, uma das empresas do grupo.
Após a entrega., pelo governo do PS, de 33 por cento do capital ao colosso industrial italiano ENI, o grupo prepara-se para ter capitais maioritariamente públicos novamente após a reviravolta na estratégia da ENI, que poderá associar-se à EDP, passado o gás natural a estar associado à electricidade.
Para Hugo Basto, as divergências existentes quanto ao futuro do gás natural prendem-se com os lobbies instalados no Governo e na administração do grupo, que se degladiam. «Há várias hipóteses: ou o ministro da Economia sai e mantém-se a administração (chefiada por Ferreira do Amaral e António Mexia, favorável à ENI) ou o ministro fica e sai a administração», afirma este comunista. Deste combate poderá depender o futuro da refinação no Porto, na qual a ENI não está interessada. Assim, esta poderia vender o petróleo já refinado. Se o fecho da refinaria não avançou é porque o Partido e os trabalhadores se opuseram firmemente, destaca Hugo Basto.
Apesar da «desprivatização» da Galp Energia, Hugo Basto confia que o Governo poderá estar já a negociar uma nova privatização. «Não sabemos com quem andam a trabalhar, mas fala-se de uma empresa ligada a Carlucci», denuncia.
Das consequências da política de submissão ao grande capital sofre também a EDP, num grau mais adiantado. Privatizada a setenta por cento durante o governo PS, a empresa nacional de electricidade está praticamente nas mãos de grupos espanhóis. José Coelho, responsável da célula, destaca que se parou o investimento produtivo na EDP e que os espanhóis «andam a pressionar para que sejam construídas seis linhas de ligação com Espanha, para que lhes passemos a comprar a electricidade».
Na PT, as coisas estão ainda mais avançadas: 99,9 por cento do capital está em mãos privadas. Com a venda da rede fixa à PT por parte do Estado, é posta em causa a própria soberania nacional, destaca Francisco Ferrer, do sector das telecomunicações do PCP. Isto porque 70 por cento do capital da empresa está hoje na posse de grupos estrangeiros, em especial norte-americanos.
CTT ainda é do Estado
Uma história conhecida
Ainda de capitais totalmente estatais, a vida e actividade dos CTT é também norteada por interesses alheios ao serviço público. Não são apenas a EDP e a PT – já privatizadas – a pretender encerrar postos de atendimento em diversos concelhos por não serem suficientemente rentáveis. Também nos CTT esse processo está em andamento, com a administração a procurar transferir para as juntas de freguesia e outras entidades e pessoas a gestão das estações de nível 0, 1 e 2, localizadas em zonas despovoadas e nas periferias urbanas. Mais uma vez, perdem as populações destas regiões já carenciadas.
Quando a actual administração, presidida por Carlos Horta e Costa, tomou posse em Julho de 2002, a empresa contava com 18 mil trabalhadores. Actualmente, tem menos de 16 mil. Para Amélia Monteiro, da célula do PCP, «há uma efectiva redução de pessoal, com reflexos na qualidade do serviço».
Conta a comunista que a administração e o Governo «deixaram de apostar em sectores de mercado que acrescentariam mais-valias à empresa e impediram importantes investimentos». Foram ainda retirados aos CTT, nos últimos anos, serviços importantes e rentáveis, como é o caso das encomendas postais, que passaram para a Postlog. Neste momento, está a ser criado o outsourcing de todo o sector informático, que será gerido por um consórcio constituído pelos CTT, PT e IBM.
A história já é conhecida e aconteceu com outras das grandes empresas do sector: Segmentar, privatizar partes, largar o que não é rentável. No horizonte pode estar a privatização dos CTT, isto é, das suas partes rentáveis. Segundo Amélia Monteiro, a situação é parecida nas várias empresas, pois a política é a mesma.
Entre as empresas em que o SCAE intervém contam-se algumas das maiores empresas nacionais, como a PT, os CTT, a EDP e a Galp Energia, todas elas situadas no primeiros lugares do top das empresas portuguesas. Nos últimos anos, intensificou-se a entrega a grupos privados do capital destas empresas. Uma das primeiras consequências foi a saída de milhares de trabalhadores.
Na EDP foram destruídos, desde 1988, 14 mil postos de trabalho e na PT mais de 12 mil. Em ambas as empresas são esperadas mais saídas até ao fim do ano. Na Petrogal, restam 2500 trabalhadores dos mais de 7 mil que a empresa já empregou.
Estas saídas – através do recurso a rescisões, reformas e pré-reformas – têm como objectivo a valorização da cotação das empresas na Bolsa de Valores, lê-se no projecto de resolução política da assembleia. Para os comunistas, não é o número de trabalhadores que diminui, mas sim o número de efectivos, que são substituídos por outros, precários ou subcontratados.
Jorge Humberto recorda que a saída de tantos trabalhadores teve óbvias consequências na organização partidária, já que dos que saíram alguns eram comunistas. «Há algum enfraquecimento, apesar de mantermos no activo na nossa organização muitos desses camaradas que saíram e que dão um importante contributo à organização», afirma o dirigente do PCP. Apesar de reformados, esses militantes não têm, em grande parte, uma idade muito avançada.
Segundo conta Jorge Humberto, tem-se tentado contornar a saída de tantos comunistas com um trabalho «de fora para dentro», através dos recém reformados, que conhecem bem a empresa e os trabalhadores. E os resultados são positivos, garante.
Hugo Basto, da Petrogal, considera que a qualidade da intervenção dos comunistas da empresa é cada vez maior. E exemplifica: «os trabalhadores continuam a fazer análises sobre a situação da empresa que é resultado da intervenção dos comunistas.» Coordenador da Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal, Hugo Basto recorda um plenário recente, no qual os trabalhadores eram claros a acusar a política seguida pelos governos pela situação da empresa.
Uma influência decisiva
A influência dos comunistas nas empresas das comunicações e energia é grande, nomeadamente ao nível da sua participação nos órgãos representativos dos trabalhadores. Tanto na Petrogal como na PT, as listas onde participam os comunistas elegem nove dos onze membros das comissões de trabalhadores. Na EDP, elege-se seis em onze. No que respeita às sub-comissões de trabalhadores, o caso da PT é revelador. Em 52 existentes no País, as listas de influência comunista são maioritarias em 50. Ao nível dos sindicatos, a situação não é assim tão diferente. Amélia Monteiro, dos CTT, considera que a influência dos comunistas é determinante para o êxito das lutas.
Consequência da grande redução do número de trabalhadores destas empresas é a degradação do serviço prestado às populações. Estando embora em fases diferentes, tanto a PT como a EDP e os CTT pretendem ou estão já a encerrar estações e postos de atendimento. Quem mais sofre são as populações das regiões mais atrasadas, pois são as estações e postos considerados menos rentáveis que estão para encerrar.
Para o responsável pelo sector, tudo isto é resultado de uma política de submissão por parte do poder político ao poder económico.
Governar para os privados
«Falta uma linha condutora em toda esta política», afirma Jorge Humberto. O responsável pelo SCAE considera que a política dos sucessivos governos para estas empresas estratégicas tem sido norteada apenas pela satisfação dos interesses do grande capital. Hugo Basto exemplifica, revelando o que se passa na Galp Energia. Este grupo – criado a partir da fusão dos negócios do petróleo e do gás natural – tem andado ao sabor dos diferentes interesses instalados nos governos, acusa o membro da célula da Petrogal, uma das empresas do grupo.
Após a entrega., pelo governo do PS, de 33 por cento do capital ao colosso industrial italiano ENI, o grupo prepara-se para ter capitais maioritariamente públicos novamente após a reviravolta na estratégia da ENI, que poderá associar-se à EDP, passado o gás natural a estar associado à electricidade.
Para Hugo Basto, as divergências existentes quanto ao futuro do gás natural prendem-se com os lobbies instalados no Governo e na administração do grupo, que se degladiam. «Há várias hipóteses: ou o ministro da Economia sai e mantém-se a administração (chefiada por Ferreira do Amaral e António Mexia, favorável à ENI) ou o ministro fica e sai a administração», afirma este comunista. Deste combate poderá depender o futuro da refinação no Porto, na qual a ENI não está interessada. Assim, esta poderia vender o petróleo já refinado. Se o fecho da refinaria não avançou é porque o Partido e os trabalhadores se opuseram firmemente, destaca Hugo Basto.
Apesar da «desprivatização» da Galp Energia, Hugo Basto confia que o Governo poderá estar já a negociar uma nova privatização. «Não sabemos com quem andam a trabalhar, mas fala-se de uma empresa ligada a Carlucci», denuncia.
Das consequências da política de submissão ao grande capital sofre também a EDP, num grau mais adiantado. Privatizada a setenta por cento durante o governo PS, a empresa nacional de electricidade está praticamente nas mãos de grupos espanhóis. José Coelho, responsável da célula, destaca que se parou o investimento produtivo na EDP e que os espanhóis «andam a pressionar para que sejam construídas seis linhas de ligação com Espanha, para que lhes passemos a comprar a electricidade».
Na PT, as coisas estão ainda mais avançadas: 99,9 por cento do capital está em mãos privadas. Com a venda da rede fixa à PT por parte do Estado, é posta em causa a própria soberania nacional, destaca Francisco Ferrer, do sector das telecomunicações do PCP. Isto porque 70 por cento do capital da empresa está hoje na posse de grupos estrangeiros, em especial norte-americanos.
CTT ainda é do Estado
Uma história conhecida
Ainda de capitais totalmente estatais, a vida e actividade dos CTT é também norteada por interesses alheios ao serviço público. Não são apenas a EDP e a PT – já privatizadas – a pretender encerrar postos de atendimento em diversos concelhos por não serem suficientemente rentáveis. Também nos CTT esse processo está em andamento, com a administração a procurar transferir para as juntas de freguesia e outras entidades e pessoas a gestão das estações de nível 0, 1 e 2, localizadas em zonas despovoadas e nas periferias urbanas. Mais uma vez, perdem as populações destas regiões já carenciadas.
Quando a actual administração, presidida por Carlos Horta e Costa, tomou posse em Julho de 2002, a empresa contava com 18 mil trabalhadores. Actualmente, tem menos de 16 mil. Para Amélia Monteiro, da célula do PCP, «há uma efectiva redução de pessoal, com reflexos na qualidade do serviço».
Conta a comunista que a administração e o Governo «deixaram de apostar em sectores de mercado que acrescentariam mais-valias à empresa e impediram importantes investimentos». Foram ainda retirados aos CTT, nos últimos anos, serviços importantes e rentáveis, como é o caso das encomendas postais, que passaram para a Postlog. Neste momento, está a ser criado o outsourcing de todo o sector informático, que será gerido por um consórcio constituído pelos CTT, PT e IBM.
A história já é conhecida e aconteceu com outras das grandes empresas do sector: Segmentar, privatizar partes, largar o que não é rentável. No horizonte pode estar a privatização dos CTT, isto é, das suas partes rentáveis. Segundo Amélia Monteiro, a situação é parecida nas várias empresas, pois a política é a mesma.