Venezuela: novo golpe avança a fogo lento (1)
Em 11 de Abril de 2002, depois de uma escalada de provocações, as forças mais reaccionárias da Venezuela desencadearam um golpe de Estado contra o governo constitucional de Hugo Chávez. Tudo começou quando se fez avançar uma marcha oposicionista sobre o palácio presidencial, sabendo que o mesmo estava rodeado, em jeito de protecção, por defensores do processo revolucionário. Eram necessários mortos que justificassem o golpe. Os líderes da marcha, soube-se depois, abandonaram-na «porque sabiam que haveria mortos» e deixaram que a marcha avançasse para a morte que lhe estava reservada pelos próprios organizadores. A poucos quarteirões do palácio, franco-atiradores, contratados no estrangeiro, colocados estrategicamente, disparam sobre a sua própria gente, enquanto a polícia do bando golpista, que flanqueava a marcha, fazia o mesmo sobre os populares que se prepararam para defender o palácio.
Hoje está fora de qualquer dúvida que os primeiros mortos foram do lado da revolução. Mas os franco-atiradores também eram bons e cumpriram o seu trabalho. Com mortos de lado e lado, estava na mesa a «desculpa» para o golpe. Não foi um golpe venezuelano, ou não só. A CIA, neste como noutros casos semelhantes quando sente que estão em perigos os interesses dos monopólios norte-americanos e dos seus serventes locais, meteu-se nele com armas e bagagens. Para o analista Wayne Madsen, a CIA participou activamente nos acontecimentos: «Facilitou pessoal do Grupo de Operações Especiais, dirigidos por um militar do Comando Especial de Fort Bragg, Carolina, para coordenar o golpe contra Chávez». A mesma informação de Projecto Censura recorda que, já em Junho do ano anterior, adidos militares tinham contactado oficiais venezuelanos para viabilizar um golpe, e que, enquanto se dava a operação golpista, militares norte-americanos estavam estacionados na fronteira colombo-venezuelana para qualquer logística de apoio e para evacuar cidadãos americanos, de ser necessário.
A história ameaça repetir-se
A pouco menos de dois anos de Abril de 2002, o silêncio dos sectores mais reaccionários e poderosos da oposição pressagia a intenção de reeditar os acontecimentos.
As jornadas de recolha de assinaturas para pedir o revogatório de Hugo Chávez não parecem ter-lhes corrido de feição e muito provavelmente não as terão conseguido em número suficiente. Só isso explica os crescentes ataques e provocações da oposição contra os membros do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e que até agora os seus líderes se tenham negado a declarar que aceitariam a decisão do árbitro eleitoral caso declarasse, com base legal, a inadmissibilidade do revogatório. Entretanto, o Centro Carter e a OEA já apelaram para que ambos os lados aceitem a decisão do CNE independentemente de qual seja, e já as forças bolivarianas se declararam dispostas a aceitar qualquer determinação do CNE.
Uma gravação telefónica interceptada entre dois figurões da oposição pode ajudar a entender o clima que ali se vive. Ramón Escobar Salóm, ex fiscal geral da República, fala telefonicamente com o filho e este diz-lhe que, numa reunião de opositores com a empresa Súmate (espécie de CNE da oposição), esta teria admitido que o número de assinaturas não teria excedido as 1,6 milhões, manifestamente insuficientes para convocar a consulta eleitoral.
Se a oposição não conseguir acabar com Hugo Chávez pela via eleitoral – e por esta parece que não pode mesmo – fica então a outra via, já proposta há algum tempo por Carlos Ortega, um dos artífice da greve patronal – indústria do petróleo incluída – de Dezembro 02/Fevereiro 03 (que ainda não foi desconvocada) e que fez descer em 15 pontos o PIB venezuelano. Este «líder» opositor propõe claramente um golpe ainda que este signifique anos e anos de ditadura. Não vem à memória a imagem do Chile de 1973?
Se não é golpe, que seja invasão
A oposição antibolivariana, que não cessa de se afirmar democrática e patriótica, brinca ainda com outras soluções talvez mais tenebrosas. Terminada a bazófia da Praça Altamira, feudo que os militares golpistas «tomaram» sem glória e abandonaram, vários meses e crimes depois, durante uma noite anónima, acaricia outra solução. Fresco o exemplo do Iraque, batem palmas antecipadas na expectativa de uma possível invasão da Venezuela pelos Estados Unidos.
No dia 12 do mês passado, dois militares golpistas refugiados em Miami, solicitaram a invasão do seu próprio país. Um tal Luís Piña afirma mesmo que «80% dos venezuelanos pedem essa intervenção militar». Nenhum país tem tantos traidores… O seu colega Silvino Bustillo, ex coronel conhecido especialmente pelo seu alcoolismo, manifestou-se no mesmo sentido. Entretanto, até agora, os líderes da oposição não se desmarcaram destas declarações.
Hoje está fora de qualquer dúvida que os primeiros mortos foram do lado da revolução. Mas os franco-atiradores também eram bons e cumpriram o seu trabalho. Com mortos de lado e lado, estava na mesa a «desculpa» para o golpe. Não foi um golpe venezuelano, ou não só. A CIA, neste como noutros casos semelhantes quando sente que estão em perigos os interesses dos monopólios norte-americanos e dos seus serventes locais, meteu-se nele com armas e bagagens. Para o analista Wayne Madsen, a CIA participou activamente nos acontecimentos: «Facilitou pessoal do Grupo de Operações Especiais, dirigidos por um militar do Comando Especial de Fort Bragg, Carolina, para coordenar o golpe contra Chávez». A mesma informação de Projecto Censura recorda que, já em Junho do ano anterior, adidos militares tinham contactado oficiais venezuelanos para viabilizar um golpe, e que, enquanto se dava a operação golpista, militares norte-americanos estavam estacionados na fronteira colombo-venezuelana para qualquer logística de apoio e para evacuar cidadãos americanos, de ser necessário.
A história ameaça repetir-se
A pouco menos de dois anos de Abril de 2002, o silêncio dos sectores mais reaccionários e poderosos da oposição pressagia a intenção de reeditar os acontecimentos.
As jornadas de recolha de assinaturas para pedir o revogatório de Hugo Chávez não parecem ter-lhes corrido de feição e muito provavelmente não as terão conseguido em número suficiente. Só isso explica os crescentes ataques e provocações da oposição contra os membros do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e que até agora os seus líderes se tenham negado a declarar que aceitariam a decisão do árbitro eleitoral caso declarasse, com base legal, a inadmissibilidade do revogatório. Entretanto, o Centro Carter e a OEA já apelaram para que ambos os lados aceitem a decisão do CNE independentemente de qual seja, e já as forças bolivarianas se declararam dispostas a aceitar qualquer determinação do CNE.
Uma gravação telefónica interceptada entre dois figurões da oposição pode ajudar a entender o clima que ali se vive. Ramón Escobar Salóm, ex fiscal geral da República, fala telefonicamente com o filho e este diz-lhe que, numa reunião de opositores com a empresa Súmate (espécie de CNE da oposição), esta teria admitido que o número de assinaturas não teria excedido as 1,6 milhões, manifestamente insuficientes para convocar a consulta eleitoral.
Se a oposição não conseguir acabar com Hugo Chávez pela via eleitoral – e por esta parece que não pode mesmo – fica então a outra via, já proposta há algum tempo por Carlos Ortega, um dos artífice da greve patronal – indústria do petróleo incluída – de Dezembro 02/Fevereiro 03 (que ainda não foi desconvocada) e que fez descer em 15 pontos o PIB venezuelano. Este «líder» opositor propõe claramente um golpe ainda que este signifique anos e anos de ditadura. Não vem à memória a imagem do Chile de 1973?
Se não é golpe, que seja invasão
A oposição antibolivariana, que não cessa de se afirmar democrática e patriótica, brinca ainda com outras soluções talvez mais tenebrosas. Terminada a bazófia da Praça Altamira, feudo que os militares golpistas «tomaram» sem glória e abandonaram, vários meses e crimes depois, durante uma noite anónima, acaricia outra solução. Fresco o exemplo do Iraque, batem palmas antecipadas na expectativa de uma possível invasão da Venezuela pelos Estados Unidos.
No dia 12 do mês passado, dois militares golpistas refugiados em Miami, solicitaram a invasão do seu próprio país. Um tal Luís Piña afirma mesmo que «80% dos venezuelanos pedem essa intervenção militar». Nenhum país tem tantos traidores… O seu colega Silvino Bustillo, ex coronel conhecido especialmente pelo seu alcoolismo, manifestou-se no mesmo sentido. Entretanto, até agora, os líderes da oposição não se desmarcaram destas declarações.