Caos na rota do petróleo
O presidente Shevarnadze tem sido subserviente para com os EUA
O impasse eleitoral e governativo que actualmente se observa na Geórgia é mais um episódio da convulsão que assola este país «estratégico» do Cáucaso desde a sua independência. No início da década de noventa, o extremismo nacionalista e a inversão política e económica conduziram, uma vez extinta a URSS, ao desmembramento e fracasso do Estado georgiano. A república autónoma da Abkházia, que o presidente Shevarnadze tentou submeter pela força – sofrendo uma humilhante derrota que resultou em milhares de vítimas -, conquistou a independência de facto em 1993. A Ossétia do Sul escapou também ao poder de Tbilissi, e as relações do poder central com outras regiões são instáveis. Estas são consequências directas da destruição da União Soviética. Shevarnadze, que na qualidade de responsável do MNE soviético e alto dirigente do PCUS contribuiu não pouco para o descalabro da URSS, preside desde 1992 à decadência da Geórgia, um país que se assemelha a uma manta de retalhos.
Devido à sua localização geográfica privilegiada, a Geórgia representa um interesse crucial para os EUA. A chave da política norte-americana na região é a construção do oleoduto Baku-Tbilissi-Ceyan para escoamento do petróleo proveniente do Cáspio (Azerbaijão e, eventualmente, Casaquistão), onde as petrolíferas norte-americanas se instalaram, via Geórgia, para o Mediterrâneo turco, numa rota alternativa à Rússia (e ao Irão). A duvidosa viabilidade económica do megaprojecto é compensada pelos ganhos de cálculo geopolítico.
O presidente Shevarnadze tem sido subserviente para com os EUA. Em 2002 a Geórgia solicitou a adesão à NATO. No ano corrente, Tbilissi ratificou um acordo militar com os EUA que concede condições leoninas às suas tropas que, aliás, já pisam o território georgiano, vizinho do Cáucaso do Norte russo, a região que alguns estrategas norte-americanas gostariam de ver separada de Moscovo. No entanto, a cooperação militar com os EUA provoca divisões nas forças armadas da Geórgia, país onde ainda permanecem tropas russas.
Economicamente a situação está perto do insustentável. A Geórgia encontra-se sob o garrote do FMI, mas mesmo este reconhece que o país se encontra à beira da bancarrota, que já se teria verificado se os Estados Unidos não injectassem anualmente milhões de dólares (a Geórgia é o país do Cáucaso que recebe mais dinheiro do Ocidente). O que resulta numa «democracia privada», onde a corrupção campeia e o clã presidencial controla amplos negócios, da comunicação ao petróleo e gás, enquanto o povo experimenta uma regressão social sem precedentes.
A ruína social produz o efeito de uma mina ao retardador. Shevarnadze, que termina o seu derradeiro mandato em 2005, torna-se rapidamente para Washington uma carta gasta, à medida que cresce a inoperância do seu poder. Sem lhe retirar o suporte, os EUA aumentam a pressão e «acenam» a forças que, explorando o descontentamento popular, agravado pela recente farsa eleitoral, exigem a resignação do presidente, como o «Movimento Nacional» e o «Bloco Democrático». Contudo, os principais líderes desta oposição pertencem à elite da Geórgia e, até há pouco, eram correligionários do presidente, com participação activa na, amplamente, conhecida falsificação das legislativas anteriores, facto a que o Ocidente, ao contrário do presente, não atribuiu importância. Não admira pois que o povo, apesar da crise social que grassa no país, não adira massivamente ao espalhafato de uma oposição comprometida com o sistema político-criminal e a fidelidade redobrada ao «amigo americano». Shevarnadze tem ainda espaço para prosseguir a sua manobra política, virando-se agora para o partido de Abachidze, o líder «pró-russo» da próspera república da Adjária.
Motivos para a inquietação da Casa Branca, num dos países modelo da nova desordem global imperialista.
Devido à sua localização geográfica privilegiada, a Geórgia representa um interesse crucial para os EUA. A chave da política norte-americana na região é a construção do oleoduto Baku-Tbilissi-Ceyan para escoamento do petróleo proveniente do Cáspio (Azerbaijão e, eventualmente, Casaquistão), onde as petrolíferas norte-americanas se instalaram, via Geórgia, para o Mediterrâneo turco, numa rota alternativa à Rússia (e ao Irão). A duvidosa viabilidade económica do megaprojecto é compensada pelos ganhos de cálculo geopolítico.
O presidente Shevarnadze tem sido subserviente para com os EUA. Em 2002 a Geórgia solicitou a adesão à NATO. No ano corrente, Tbilissi ratificou um acordo militar com os EUA que concede condições leoninas às suas tropas que, aliás, já pisam o território georgiano, vizinho do Cáucaso do Norte russo, a região que alguns estrategas norte-americanas gostariam de ver separada de Moscovo. No entanto, a cooperação militar com os EUA provoca divisões nas forças armadas da Geórgia, país onde ainda permanecem tropas russas.
Economicamente a situação está perto do insustentável. A Geórgia encontra-se sob o garrote do FMI, mas mesmo este reconhece que o país se encontra à beira da bancarrota, que já se teria verificado se os Estados Unidos não injectassem anualmente milhões de dólares (a Geórgia é o país do Cáucaso que recebe mais dinheiro do Ocidente). O que resulta numa «democracia privada», onde a corrupção campeia e o clã presidencial controla amplos negócios, da comunicação ao petróleo e gás, enquanto o povo experimenta uma regressão social sem precedentes.
A ruína social produz o efeito de uma mina ao retardador. Shevarnadze, que termina o seu derradeiro mandato em 2005, torna-se rapidamente para Washington uma carta gasta, à medida que cresce a inoperância do seu poder. Sem lhe retirar o suporte, os EUA aumentam a pressão e «acenam» a forças que, explorando o descontentamento popular, agravado pela recente farsa eleitoral, exigem a resignação do presidente, como o «Movimento Nacional» e o «Bloco Democrático». Contudo, os principais líderes desta oposição pertencem à elite da Geórgia e, até há pouco, eram correligionários do presidente, com participação activa na, amplamente, conhecida falsificação das legislativas anteriores, facto a que o Ocidente, ao contrário do presente, não atribuiu importância. Não admira pois que o povo, apesar da crise social que grassa no país, não adira massivamente ao espalhafato de uma oposição comprometida com o sistema político-criminal e a fidelidade redobrada ao «amigo americano». Shevarnadze tem ainda espaço para prosseguir a sua manobra política, virando-se agora para o partido de Abachidze, o líder «pró-russo» da próspera república da Adjária.
Motivos para a inquietação da Casa Branca, num dos países modelo da nova desordem global imperialista.