Os bois pelos nomes
«Agarrem-me, agarrem-me!», berra o valoroso arruaceiro, em vésperas de levar uma coça. Os amigos acorrem, os outros completam-lhe a frase: «...Senão eu fujo!»
Esta caricatura veio-me à memória quando, pela segunda vez, Bush garantiu, agora depois de anunciar a retirada das tropas do Iraque lá para Junho, que não deixaria os iraquianos desamparados. «Não os abandonaremos», terá afirmado.
Os comentadores, por todo o mundo - e também em Portugal - apressaram-se na tarefa difícil de lhe traduzir as palavras e de explicar a novidade da situação. Alguns com laivos de crítica na voz, como o professor Marcelo, outros com ela embargada pela simpatia, como Loureiro dos Santos.
O que é óbvio para toda a gente, mesmo para os acérrimos defensores da imperial invasão, é que a guerra mudou de qualidade, a coisa mudou de figura. E não deixa de ser curioso: a panóplia de palavrões com que levianamente se tratavam os intervenientes também mudou, ao mesmo tempo que os planos (que planos?) de «libertação» do Iraque iam por águia abaixo.
Desde há alguns dias, os «terroristas» de Saddam passaram a ser nomeados como «guerrilheiros». Mais: como «resistentes». E há semanas - com alguma resistência por parte dos comentadores portugueses - que os próprios americanos admitem que os embates entre as facções e os grupos, religiosos ou não, foram substituídos por uma concertação de posições contra o invasor. Bush apressou-se a chamar o seu administrador Bremer e a insistir com o homem para arranjar uma solução rápida. «Até Junho», pretende. E vá de convocar-se os representantes «tribais». Não é uma novidade, esta, de os americanos quererem substituir um poder evoluído e republicano, tão legítimo como a fraudulenta presidência da Casa Branca - mesmo contando com as perversões das ditaduras -, pelas formas arcaicas do poder. Já o fizeram no Afeganistão, arrancando o poder aos talibãs para o dar a guardar aos senhores da guerra, persistindo em mergulhar um país de civilização milenar nas trevas retalhadas da violência tribalista. Para os EUA, todos os estrangeiros são índios. E um índio bom é um índio morto.
Para o colonialismo português também foi um maná poder contar, em certas zonas, com as divisões étnicas e as estruturas de poder tradicional. Mas isso foi no tempo em que os guerrilheiros eram apelidados de «turras», a guerra colonial se chamava «operação de polícia». Dizia-se por fim «guerra do ultramar». Como hoje a «coligação» quer dizer imperialismo e à invasão se chama «missão de paz».
Esta caricatura veio-me à memória quando, pela segunda vez, Bush garantiu, agora depois de anunciar a retirada das tropas do Iraque lá para Junho, que não deixaria os iraquianos desamparados. «Não os abandonaremos», terá afirmado.
Os comentadores, por todo o mundo - e também em Portugal - apressaram-se na tarefa difícil de lhe traduzir as palavras e de explicar a novidade da situação. Alguns com laivos de crítica na voz, como o professor Marcelo, outros com ela embargada pela simpatia, como Loureiro dos Santos.
O que é óbvio para toda a gente, mesmo para os acérrimos defensores da imperial invasão, é que a guerra mudou de qualidade, a coisa mudou de figura. E não deixa de ser curioso: a panóplia de palavrões com que levianamente se tratavam os intervenientes também mudou, ao mesmo tempo que os planos (que planos?) de «libertação» do Iraque iam por águia abaixo.
Desde há alguns dias, os «terroristas» de Saddam passaram a ser nomeados como «guerrilheiros». Mais: como «resistentes». E há semanas - com alguma resistência por parte dos comentadores portugueses - que os próprios americanos admitem que os embates entre as facções e os grupos, religiosos ou não, foram substituídos por uma concertação de posições contra o invasor. Bush apressou-se a chamar o seu administrador Bremer e a insistir com o homem para arranjar uma solução rápida. «Até Junho», pretende. E vá de convocar-se os representantes «tribais». Não é uma novidade, esta, de os americanos quererem substituir um poder evoluído e republicano, tão legítimo como a fraudulenta presidência da Casa Branca - mesmo contando com as perversões das ditaduras -, pelas formas arcaicas do poder. Já o fizeram no Afeganistão, arrancando o poder aos talibãs para o dar a guardar aos senhores da guerra, persistindo em mergulhar um país de civilização milenar nas trevas retalhadas da violência tribalista. Para os EUA, todos os estrangeiros são índios. E um índio bom é um índio morto.
Para o colonialismo português também foi um maná poder contar, em certas zonas, com as divisões étnicas e as estruturas de poder tradicional. Mas isso foi no tempo em que os guerrilheiros eram apelidados de «turras», a guerra colonial se chamava «operação de polícia». Dizia-se por fim «guerra do ultramar». Como hoje a «coligação» quer dizer imperialismo e à invasão se chama «missão de paz».