Melka abandona Portugal
«Os centros de comando do capital europeu deslocalizam as unidades de produção para onde obtenham mais lucro e menos encargos», afirmou António Marques.
Nas 279 empresas em crise estão 28.770 postos de trabalho em risco
Implantada desde 1960, a sueca têxtil Melka anunciou no passado dia 5, o fim da sua actividade em Portugal.
António Marques, dirigente da Fesete/CGTP-IN e do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios e Vestuário do Sul, contou ao Avante! que este grupo chegou a empregar mais de 1200 trabalhadores.
O grupo sueco encontrou agora mão-de-obra e condições mais vantajosas para se implantar na China, Vietname, Indonésia e Polónia e está determinado a efectuar a total deslocalização de todas as unidades portuguesas.
Os encerramentos tiveram início em 1996, na fábrica de Évora, com a consequente perda de 200 postos de trabalho e, em 2002, outros 200 se perderam com o encerramento da unidade de Palmela.
Através de alegadas reestruturações, nos últimos anos reduziu-se o quadro de trabalhadores em mais 224 empregos. Já este ano, no dia 2 de Outubro, foi revelado o despedimento colectivo de mais 94 trabalhadores da fábrica do Sulim, a partir de 19 de Dezembro.
A 5 de Novembro foi anunciado o encerramento definitivo da unidade no Cacém, a partir de Fevereiro ou Março de 2004, despedindo mais 214 trabalhadores, concretizando-se assim a saída do Grupo Melka.
Para o sindicato, não há motivos para esta deslocalização. António Marques considera estranho que a empresa tenha encerrado as suas contas com um saldo negativo entre os três e os cinco milhões de euros, uma vez que de 1999 a 2001, a Melka teve dois milhões de contos de lucros, motivo que leva o sindicato a considerar que a empresa recorreu a «contabilidades arranjadas para justificar que a empresa não é competitiva».
A Melka tem, até ao momento, assumido a intenção de indemnizar os despedidos em cerca de um milhão de contos - cinco milhões de euros. O sindicato vai continuar a bater-se pelo cumprimento do AE e da contratação colectiva.
O têxtil e a crise
Em três anos, 279 empresas do sector ficaram em graves dificuldades financeiras, deixando em perigo 28.770 postos de trabalho.
Os dados do INE encontram-se num estudo sobre as mutações nas indústrias têxtil, do vestuário e do calçado em Portugal, de 1990 a Abril de 2003, da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal, Fesete.
Grande parte das empresas que encerraram, não pagaram qualquer compensação aos despedidos que apenas auferiram do subsidio de desemprego e pouco mais. As indemnizações não pagas atingem, no total, 53 milhões de euros e quanto a salários em atraso, o montante calculado em todo o sector atinge os seis milhões.
Entre 2000 e Abril deste ano, encerraram 206 empresas e foram despedidos 15.077 trabalhadores num sector onde, em doze anos, desapareceram 100 mil postos de trabalho. O investimento em novas tecnologias e modernizações - na ordem dos cinco mil milhões de euros - levou a uma forte redução de postos de trabalho sem que se tenham reduzido os lucros e o produto do sector que ronda os 12 mil milhões de euros, valor equivalente a oito por cento do PIB nacional.
Para António Marques, o sector é prejudicado por estar confinado à produção para grandes marcas. As unidades produzem a preços sete ou oito vezes mais reduzidos do que os que são depois aplicados pelos grandes grupos do mercado europeu.
O dirigente desmentiu a ideia em voga de que a produtividade portuguesa é baixa. No sector têxtil, a taxa de crescimento de produtividade situa-se nos 5,1 por cento, de 1996 a 2000, de acordo com dados do INE que comprovam que a crise anunciada não se deve à falta de produtividade.
O sindicato alerta para o aproximar de 2005, ano para o qual está marcada a liberalização total do comércio têxtil mundial, «sem que a economia portuguesa esteja preparada para concorrer com mercados como, por exemplo, o da China ou da Índia», revelou o dirigente.
Para António Marques, o têxtil português pode ainda tornar-se competitivo «desde que os industriais sejam inovadores e tenham em conta a importância da investigação e do desenvolvimento ligado a novas tecnologias e à moda e design, com o propósito de vencer os desafios do mercado».
Muitas são as empresas com dificuldades, um pouco por todo o País. Em Portalegre, a Francisco Fino, do sector dos lanifícios, faliu e despediu 300 trabalhadores, estando o contencioso a decorrer em tribunal. A Baiona, em Santo Tirso, ou a Vestus, na margem Sul do Tejo são apenas mais dois exemplos de uma crise que alastra por todo o País.
Num sector onde a média salarial ronda os 400 euros por mês, é com grande apreensão que os trabalhadores encaram o futuro e o alargamento da UE a mais dez países, que comportam cerca de meio milhão de trabalhadores têxteis e com os quais Portugal terá de saber competir.
António Marques, dirigente da Fesete/CGTP-IN e do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios e Vestuário do Sul, contou ao Avante! que este grupo chegou a empregar mais de 1200 trabalhadores.
O grupo sueco encontrou agora mão-de-obra e condições mais vantajosas para se implantar na China, Vietname, Indonésia e Polónia e está determinado a efectuar a total deslocalização de todas as unidades portuguesas.
Os encerramentos tiveram início em 1996, na fábrica de Évora, com a consequente perda de 200 postos de trabalho e, em 2002, outros 200 se perderam com o encerramento da unidade de Palmela.
Através de alegadas reestruturações, nos últimos anos reduziu-se o quadro de trabalhadores em mais 224 empregos. Já este ano, no dia 2 de Outubro, foi revelado o despedimento colectivo de mais 94 trabalhadores da fábrica do Sulim, a partir de 19 de Dezembro.
A 5 de Novembro foi anunciado o encerramento definitivo da unidade no Cacém, a partir de Fevereiro ou Março de 2004, despedindo mais 214 trabalhadores, concretizando-se assim a saída do Grupo Melka.
Para o sindicato, não há motivos para esta deslocalização. António Marques considera estranho que a empresa tenha encerrado as suas contas com um saldo negativo entre os três e os cinco milhões de euros, uma vez que de 1999 a 2001, a Melka teve dois milhões de contos de lucros, motivo que leva o sindicato a considerar que a empresa recorreu a «contabilidades arranjadas para justificar que a empresa não é competitiva».
A Melka tem, até ao momento, assumido a intenção de indemnizar os despedidos em cerca de um milhão de contos - cinco milhões de euros. O sindicato vai continuar a bater-se pelo cumprimento do AE e da contratação colectiva.
O têxtil e a crise
Em três anos, 279 empresas do sector ficaram em graves dificuldades financeiras, deixando em perigo 28.770 postos de trabalho.
Os dados do INE encontram-se num estudo sobre as mutações nas indústrias têxtil, do vestuário e do calçado em Portugal, de 1990 a Abril de 2003, da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal, Fesete.
Grande parte das empresas que encerraram, não pagaram qualquer compensação aos despedidos que apenas auferiram do subsidio de desemprego e pouco mais. As indemnizações não pagas atingem, no total, 53 milhões de euros e quanto a salários em atraso, o montante calculado em todo o sector atinge os seis milhões.
Entre 2000 e Abril deste ano, encerraram 206 empresas e foram despedidos 15.077 trabalhadores num sector onde, em doze anos, desapareceram 100 mil postos de trabalho. O investimento em novas tecnologias e modernizações - na ordem dos cinco mil milhões de euros - levou a uma forte redução de postos de trabalho sem que se tenham reduzido os lucros e o produto do sector que ronda os 12 mil milhões de euros, valor equivalente a oito por cento do PIB nacional.
Para António Marques, o sector é prejudicado por estar confinado à produção para grandes marcas. As unidades produzem a preços sete ou oito vezes mais reduzidos do que os que são depois aplicados pelos grandes grupos do mercado europeu.
O dirigente desmentiu a ideia em voga de que a produtividade portuguesa é baixa. No sector têxtil, a taxa de crescimento de produtividade situa-se nos 5,1 por cento, de 1996 a 2000, de acordo com dados do INE que comprovam que a crise anunciada não se deve à falta de produtividade.
O sindicato alerta para o aproximar de 2005, ano para o qual está marcada a liberalização total do comércio têxtil mundial, «sem que a economia portuguesa esteja preparada para concorrer com mercados como, por exemplo, o da China ou da Índia», revelou o dirigente.
Para António Marques, o têxtil português pode ainda tornar-se competitivo «desde que os industriais sejam inovadores e tenham em conta a importância da investigação e do desenvolvimento ligado a novas tecnologias e à moda e design, com o propósito de vencer os desafios do mercado».
Muitas são as empresas com dificuldades, um pouco por todo o País. Em Portalegre, a Francisco Fino, do sector dos lanifícios, faliu e despediu 300 trabalhadores, estando o contencioso a decorrer em tribunal. A Baiona, em Santo Tirso, ou a Vestus, na margem Sul do Tejo são apenas mais dois exemplos de uma crise que alastra por todo o País.
Num sector onde a média salarial ronda os 400 euros por mês, é com grande apreensão que os trabalhadores encaram o futuro e o alargamento da UE a mais dez países, que comportam cerca de meio milhão de trabalhadores têxteis e com os quais Portugal terá de saber competir.