Iraque

A guerra anunciada

O ataque dos EUA ao Iraque está imi­nente. Quando as bombas co­me­çarem a cair sobre Bagdad e tiver início a cha­cina não será apenas o povo ira­quiano a tombar ví­tima do im­pério norte-ame­ri­cano. Nesse pre­ciso mo­mento con­sumar-se-á a morte do di­reito e da ordem in­ter­na­ci­o­nais como os co­nhe­cemos até agora, e sob o clamor da bombas, numa orgia de sangue e des­truição, Washington dará à luz o monstro que há muito vem ali­men­tando nas suas en­tra­nhas.
Os ar­gu­mentos in­vo­cados pelos se­nhores da guerra ins­ta­lados na Casa Branca para atacar o Iraque não passam de pre­textos fa­cil­mente des­mon­tá­veis, como se com­prova no dos­sier que o Avante!  hoje pu­blica. O re­púdio dos povos de todo o mundo não fez ainda abortar este aten­tado contra a hu­ma­ni­dade, mas por mais do­lo­rosa que seja a era que agora se inicia, ela é si­mul­ta­ne­a­mente o prin­cípio do seu pró­prio fim. Quando mais nada resta senão a força o poder é efé­mero.

Neste dos­sier:

• Ana­bela Fino - Um im­pério or­gu­lho­sa­mente só
• André Levy - Fazer a guerra antes que o barro seque
• Jorge Ca­dima - Men­tiras e crimes de guerra
• Luís Ca­ra­pinha - A Rússia in­sus­ten­tável
• Mi­guel Ur­bano Ro­dri­gues - A hu­ma­ni­dade contra o IV Reich
• Rui Paz - Os ale­mães des­co­brem os "fran­kens­teins" ame­ri­canos
• Rui Na­mo­rado Rosa - Uma guerra contra o mundo


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Um império orgulhosamente só

A es­cassos dias de ter­minar o ul­ti­mato im­posto ao Iraque - dia 17 - já não restam dú­vidas de que os EUA, aco­li­tados pela Grã-Bre­tanha, vão atacar o Iraque com ou sem o aval do Con­selho de Se­gu­rança das Na­ções Unidas. É o des­fecho pre­vi­sível da en­ce­nação há muito mon­tada para lançar mão ao pe­tróleo e a uma re­gião do mundo con­si­de­rada de «in­te­resse vital» para os norte-ame­ri­canos.

Fazer a guerra antes que o barro seque

En­quanto o mundo re­agia com horror às ima­gens dos ata­ques ter­ro­ristas do onze de Se­tembro de 2001, ele­mentos da Ad­mi­nis­tração Bush viam o evento como uma fan­tás­tica opor­tu­ni­dade. Assim o des­creveu ex­pli­ci­ta­mente a Con­se­lheira de Se­gu­rança Na­ci­onal, Con­do­le­ezza Rice: «Um tremor de terra da mag­ni­tude do 11 de Se­tembro pode mudar as placas tec­tó­nicas da po­lí­tica in­ter­na­ci­onal. [O pós 11 de Se­tembro marca um pe­ríodo] não só de grande pe­rigo, mas também de enorme opor­tu­ni­dade. Antes que o barro so­li­di­fique de novo, os EUA e os nossos ali­ados devem mover-se de­ci­si­va­mente para tirar pro­veito das novas opor­tu­ni­dades.»

Mentiras e crimes de guerra

«O Mundo as­si­na­lará que a pri­meira bomba ató­mica foi lan­çada sobre Hi­ro­xima, uma base mi­litar. Tal facto re­sulta da nossa in­tenção de, neste pri­meiro ataque, evitar tanto quanto pos­sível a morte de civis». Estas pa­la­vras do então pre­si­dente dos EUA, Harry Truman, foram pro­fe­ridas no dia 9 de Agosto de 1945, num dis­curso trans­mi­tido pela rádio(1). Aquilo que re­al­mente per­mi­tiram ao mundo as­si­nalar é que a na­tu­reza cri­mi­nosa e ge­no­cida da classe di­ri­gente norte-ame­ri­cana é apenas igua­lada pelo seu ci­nismo e pela sua in­com­pa­rável ca­pa­ci­dade para a men­tira mais des­pu­do­rada.

A Rússia insustentável

Neste início de sé­culo, a guerra chega de novo a zonas não muito dis­tantes das fron­teiras da Fe­de­ração Russa pela mão dos Es­tados Unidos. A in­ter­venção mi­litar ame­ri­cana no Afe­ga­nistão, a pre­texto da de­no­mi­nada cam­panha in­ter­na­ci­onal contra o ter­ro­rismo de­cor­rente dos aten­tados de 11 de Se­tembro, que me­receu o apoio da di­recção russa, foi o pre­lúdio para um ano negro para os in­te­resses e se­gu­rança da Rússia: 2002 ficou as­si­na­lado, nas pa­la­vras do ge­neral Iva­chov, an­tigo alto fun­ci­o­nário do Mi­nis­tério da Re­fesa russo, de­mi­tido pelo ac­tual mi­nistro da tu­tela após pres­sões de Washington, por o «recuo ge­o­po­lí­tico de Mos­covo em todas as di­rec­ções es­tra­té­gicas» (So­vi­ets­kaya Rossia, 06.03.03).

A humanidade contra o IV Reich *

O 15 de Fe­ve­reiro de 2003 fi­cará como data de vi­ragem na grande aven­tura da hu­ma­ni­dade.

Em cen­tenas de ci­dades da Eu­ropa, da Ásia, da Amé­rica, da África e da Oceânia mi­lhões de pes­soas saíram nesse dia às ruas para se ma­ni­fes­tarem contra a guerra, res­pon­dendo ao apelo do Fórum So­cial Mun­dial. Nunca antes acon­te­cera algo si­milar. Foi a pri­meira ma­ni­fes­tação de pro­testo global da His­tória.

Os alemães descobrem os frankensteins americanos

O meio mi­lhão de pes­soas que a 15 de Fe­ve­reiro se ma­ni­festou em Berlim e as cen­tenas de mi­lhares que nos úl­timos meses têm vindo a fazer ouvir o seu pro­testo nas ruas, con­firmam que a es­ma­ga­dora mai­oria do povo alemão re­cusa apoiar mais um ciclo de guerras im­pe­ri­a­listas. A mo­bi­li­zação pela a paz atinge ní­veis iné­ditos na his­tória da Ale­manha, apesar de uma cor­re­lação de forças in­ter­na­ci­onal muito mais des­fa­vo­rável às forças pro­gres­sistas do que a que se ve­ri­fi­cava nos anos oi­tenta, no mo­mento das gran­di­osas ma­ni­fes­ta­ções contra o es­ta­ci­o­na­mento dos Pers­ching II.

Uma guerra contra o mundo

No con­fronto pela he­ge­monia eco­nó­mica e po­lí­tica mun­dial, o de­clínio do im­pério bri­tâ­nico é per­cep­tível desde o úl­timo quartel do sé­culo XIX. Tornou-se então pa­tente a in­tensa com­pe­tição entre as po­tên­cias emer­gentes, com des­taque para os EUA e a Ale­manha, que ha­viam con­cluído os res­pec­tivos pro­cessos de con­so­li­dação in­terna e ini­ciado já a ex­pansão ex­terna. A Con­fe­rência de Berlim (1884-85), que re­a­lizou a «par­tilha do mundo» entre as po­tên­cias eu­ro­peias, é sin­to­má­tica do de­clínio do im­pério bri­tâ­nico, e as­si­nala um novo passo na es­ca­lada da glo­ba­li­zação ca­pi­ta­lista.