Só ganha o Stanley Ho

O caso da demolição do Estoril Sol, emblemático hotel do concelho de Cascais, com 320 quartos e 11 salas de reunião, é um dos mais flagrantes – mas longe de ser o único – exemplos das contradições por que passa o sector hoteleiro nacional. Defendida pela autarquia de maioria PSD, que alega razões de ordenamento paisagístico, e contando com o aval do grupo, detido pelo magnata do jogo de Macau Stanley Ho, a demolição do hotel tem tido a forte oposição dos cerca de 250 trabalhadores, que temem pelo futuro dos seus postos de trabalho.

Para além do problema laboral, os trabalhadores do Estoril Sol contestam as próprias vantagens desta solução, que, a seu ver, não existem. Na opinião da Comissão de Trabalhadores, com o fim do Estoril Sol é destruído o que tem sido a «verdadeira âncora do desenvolvimento da indústria turística e hoteleira, que se diz ser a actividade económica estratégica e principal do concelho». Com 38 anos de existência, o Hotel Estoril Sol alojou 3 milhões de turistas ao longo desse período. Estes turistas, recorda a CT, consumiram nos restaurantes de Cascais mais de 8 milhões de refeições, fizeram centenas de milhar de compras de compras nos estabelecimentos de comércio, utilizaram táxis centenas de milhar de vezes, proporcionaram emprego a milhares de pessoas. É esta cadeia de riqueza que, alerta, está em risco de ser quebrada.

No lugar do velho hotel, o grupo pretende construir centenas de apartamentos de habitação, «escondidos por detrás de um "hotelzinho" com 40 quartos, para que não se diga que o empreendimento não é "turístico"», afirmou a Comissão de Trabalhadores, em comunicado à população distribuído nos finais do ano passado. O próprio António Capucho, presidente da Câmara Municipal de Cascais, chegou mesmo a admitir a possibilidade de, no novo empreendimento, a componente imobiliária poder vir a ser «fortemente dominante» relativamente à componente hoteleira. Não pondo em causa a importância de unidades hoteleiras mais pequenas, que, segundo a autarquia, compensarão o desaparecimento do histórico hotel, a CT considera que é sabido que «os grandes grupos de turistas que aqui vêm fazer congressos não aceitam ser dispersos por vários hotéis», o que se perderia irremediavelmente este segmento turístico para outras zonas, provavelmente estrangeiras.

Com a causa da manutenção do Hotel Estoril Sol estiveram também os eleitos municipais da oposição, bem como a própria Ordem dos Arquitectos, que considerou desde o início o edifício como «obra de autor» e não «uma construção de pato-bravo». Esta posição contrariou a teoria do «mamarracho» sustentada pelo presidente da autarquia.

A ganhar parece ficar apenas o grupo detentor do hotel. Para além do «hotelzinho» e do bloco de apartamentos, o grupo de Stanley Ho e de Américo Amorim estuda a remodelação do Casino Estoril, que também possui, acrescentando-lhe uma unidade hoteleira de luxo.



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