É um suponhamos

Anabela Fino

A de­cisão da Re­pú­blica Po­pular De­mo­crá­tica da Co­reia, vulgo Co­reia do Norte, de par­ti­cipar nos pró­ximos Jogos Olím­picos de In­verno, na Co­reia do Sul, tem dado azo a pe­cu­li­ares ar­tigos nos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial. Desde os mo­tivos que terão pre­si­dido à de­cisão, pas­sando por «au­sên­cias a reu­niões», tudo tem ser­vido para ali­mentar «no­tí­cias», cujas têm como de­no­mi­nador comum o facto de as­sen­tarem em es­pe­cu­la­ções.

O mais cu­rioso, no en­tanto, são as acro­ba­cias a que certos plu­mi­tivos se têm de­di­cado para tentar ex­plicar o inex­pli­cável, a saber, o facto de Hyon Song-wol, líder do grupo pop fe­mi­nino Mo­ran­bong, ter vol­tado do mundo dos mortos (e a ava­liar pelas fo­to­gra­fias em muito bom es­tado de con­ser­vação) para di­rigir a de­le­gação norte-co­reana ao Jogos. É o que se pode clas­si­ficar de au­tên­tico mi­lagre.

Ex­pli­quemo-nos. Em me­ados de 2013, um jornal sul-co­reano dava conta de que a can­tora, ale­ga­da­mente ex-amante do di­ri­gente Kim Jon-un, tinha sido «exe­cu­tada por um pe­lotão de fu­zi­la­mento», jun­ta­mente com mais onze pes­soas. A
no­tícia, que de resto fez man­chetes em res­pei­tá­veis jor­nais oci­den­tais, de­sig­na­da­mente norte-ame­ri­canos, teve um prazo de va­li­dade de al­guns meses, já que em 2014 a pseudo-ex-amante-pseudo-caída-em-des­graça-pseudo-fu­zi­lada apa­receu na te­le­visão viva da silva, em­bora sem o im­pacto que teve o seu as­sas­si­nato. Agora, com os Jogos Olím­picos à porta, o caso mudou de fi­gura. A morta-de-morte-ma­tada está mesmo viva e sob os ho­lo­fotes in­ter­na­ci­o­nais.

O caso, diga-se em abono da ver­dade, nem se­quer é iné­dito. Os morto-vivos são mais co­muns do que se po­deria pensar na Co­reia do Norte. Que o diga o ex-chefe do Exér­cito norte-co­reano, Ri Yong Gil, exe­cu­tado em Fe­ve­reiro de 2016, que uns meses de­pois voltou do reino dos mortos para as­sumir novos cargos, só para citar um exemplo.

De quem é a culpa de ta­manha de­sin­for­mação? Des­con­fi­amos que é de Pyongyang, mas é um su­po­nhamos...

 



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