Foi você que pediu um consenso nacional?
Com a força de quem manda em rádios, jornais e televisões, emergiu no último fim-de-semana, por intermédio de uma dita Plataforma para o Desenvolvimento Sustentável, uma nova/velha agenda para o futuro do País. O porta-voz foi Jorge Moreira da Silva, ex-ministro do governo PSD/CDS, a quem Passos Coelho arranjou essa nobre missão de ser director-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE, estrutura que nos habituou a sentenças sobre a dita rigidez da legislação laboral ou a necessidade de «tirar» o Estado da economia.
Entrevistas à TSF e ao DN, cobertura televisiva, dezenas de notícias no mundo online, já para não falar da presença do PR no encerramento do evento para abrilhantar e caucionar o acto, e eis que se apresenta uma agenda para o País, no cirúrgico momento do pós-eleições no PSD. É «um grito em defesa dos consensos nacionais» como alguém lhe chamou. Que consensos? Ficam aqui alguns exemplos: «um Estado mais pequeno e austero», eliminando aquilo que resta das suas funções sociais. Menos impostos para o capital «reduzindo o IRC». Alteração das leis eleitorais, reduzindo deputados e promovendo a bipolarização por via dos círculos uninominais. Plafonamento das pensões e privatização da Segurança Social. E até a possibilidade de as Forças Armadas poderem intervir no interior do País. É o consenso da política de direita, a tal «reforma do Estado» que está a caminho do 24 do Abril, em claro confronto com a Constituição da República.
A dita plataforma, onde pontuam figuras como Francisco Balsemão, Ângelo Correia ou Victor Bento, e a iniciativa que teve lugar, vêm na continuidade do que em 2004 se designou por «Compromisso Portugal», cuja iniciativa no Convento do Beato, e os objectivos que daí emergiram, inspiraram, e de que maneira, o governo PS/Sócrates que se lhe seguiu em 2005, bem como esse importante «consenso» nacional carregado de «espírito reformista» que se chamou «Memorando de entendimento» subscrito por PS, PSD e CDS, com a… troika. Haja consensos!