Enquanto o pau vai e vem…

Filipe Diniz

Duas das ordens executivas com que Trump inaugurou a sua segunda presidência congelam os fundos da USAID (United States Agency for International Development) e do NED (National Endowment for Democracy). Nada a opor. São dois reconhecidos tentáculos do imperialismo EUA.

Tendo a influência que têm não surpreende o coro, incluindo algumas vozes que por cá se dizem «de esquerda», a lastimar a suspensão da caridosa agência de «auxílio». Infelizmente para eles o currículo da ingerência USAID sob todas as formas ditas «soft», em muitos casos na contiguidade de outras bem mais duras, é conhecido.

Já acontecia com sua antecessora histórica, a «Alianza para el progreso», criada para tentar conter o impacto da revolução cubana na América Latina. Proclamada em Março de 1961, Cuba recusou subscrever o seu manifesto fundador. Menos de um mês depois (Abril de 1961) deparava-se com – e derrotava – a tentativa de invasão da CIA na Baía dos Porcos. É assim a «ajuda» do imperialismo EUA.

Os milhares de milhões agora suspensos dão bem a dimensão da influência e compra sobre tudo o que se chegue à frente. A Repórteres Sem Fronteiras (olha quem) estima que a suspensão congela 268 milhões de dólares apontados a financiar «media independentes». Além disso, é longa a lista de ONG, órgãos de informação e jornalistas, organizações políticas. Não é difícil descortinar que alguma coisa terá vindo para cá, o que talvez ajude a entender certas queixas.

Sobre o NED a discrição é maior. Não é fácil vir defender publicamente uma organização cujo fundador declarou que «muito do que estão a fazer é o que a CIA fazia há 25 anos».

O mais certo é que regressarão, com o mesmo ou com outros nomes. Mas o seu cadastro foi talvez mais escrutinado. A pausa previne e encoraja os povos: por um lado, meios do inimigo ficaram um pouco mais à vista. Por outro, «enquanto o pau vai e vem, folgam as costas».

 



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