Ocaso

Jorge Cadima

A crise dos EUA não pára de se agravar

Assistimos à mais intensa fase de rivalidades inter-imperialistas desde a II Guerra Mundial. A guerra intestina entre facções da classe dominante nos EUA, que dura há anos, está numa fase de reconfiguração do Estado e do pessoal dirigente. As intensas rivalidades transatlânticas geram muita histeria e delírio. Os vassalos europeus, habituados a alinhar nas guerras e subversões dos EUA contra o resto do mundo, conluiados no genocídio sionista, vergonhosamente coniventes com a sabotagem dos seus próprios recursos económicos (NordStream 2) e das suas próprias economias pelos EUA, descobrem agora aquilo que outros já sabem: a sua vassalagem não os pôs ao abrigo da fúria dominadora do «grande irmão». Não impede que sejam tratados como gostam de tratar os «países recalcitrantes». É a paga para quem vende a sua soberania por um prato de lentilhas.

As fanfarronices já não conseguem esconder o declínio histórico dos EUA e das potências imperialistas europeias. A crise dos EUA não pára de se agravar. Reflecte-se na miséria que alastra mesmo entre quem trabalha. Nas comunidades abandonadas à sua sorte face às catástrofes naturais. Nos 100 mil mortos anuais por overdoses. Num descontentamento explosivo. Na desindustrialização de muitas décadas que gerou uma economia fictícia, com riquezas obscenas para uma pequena minoria cada vez mais parasitária e rentista, incapaz de qualquer actividade útil para a comunidade da qual se alimenta. Numa dívida pública que desde há 40 anos duplica a cada década e que já ultrapassou 120% do PIB. Dívida em muito resultante das despesas militares e da máquina de subversão, o que não impede que também nesse plano os EUA e vassalos tenham coleccionado derrotas. O seu empenhamento a fundo na guerra para destruir a Rússia (como abertamente proclamaram) salda-se pela derrota, que se junta às derrotas humilhantes no Iraque, no Afeganistão, na Venezuela, na Palestina mártir. Em 2024, no orçamento dos EUA os juros de dívida foram maiores que as gigantescas despesas militares. A situação é insustentável. Sobretudo perante a impetuosa ascensão da China, que ultrapassa as potências imperialistas, mesmo em áreas de ponta. Sectores da classe dirigente dos EUA já perceberam que é impossível continuar no mesmo caminho. Procuram recuos que lhes permitam voltar a ganhar força para de novo poder mandar. As incompetentes e corruptas classes dirigentes na UE e Inglaterra, empenhadas em impor o fracassado «modelo americano» aos seus povos (belicismo e militarismo, financeirização, privatizações, destruição do «Estado social», explosão das desigualdades) ainda vivem delírios de «grandezas» (neo)coloniais que já não correspondem à realidade.

Fiel à sua natureza de classe e imperialista, e perante as dificuldades em continuar a extorquir outros povos, o novo poder trumpista parece determinado em extorquir os seus vassalos para tornar a América de novo grande. Sempre é mais fácil roubar quem se põe a jeito. Com a zanga de comadres aprendemos algumas verdades, que importa registar. Mas sem ilusões sobre a verdadeira natureza, quer de uns, quer de outros. Já há mais de 100 anos Lénine advertia que «o imperialismo é a época do capital financeiro e dos monopólios, que trazem consigo, em toda a parte, a tendência para a dominação, e não para a liberdade. A reacção em toda a linha, seja qual for o regime político». Só a luta dos povos lhes poderá dar o merecido destino: o caixote do lixo da História.

 



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