DECOy

Manuel Gouveia

Num país onde 37 milhões de euros do PRR são gastos numa coisa que se apresenta a si própria com um site em inglês sobre «its mission with European Portuguese», permitam-me usar no título um trocadilho que só funciona em inglês.

Decoy é um chamariz usado na caça aos patos (e noutras caças).

Isto a propósito da mais recente campanha da DECO, assumidamente montada para retirar utentes do mercado regulado de electricidade para os colocar no mercado liberalizado. Um simulador encarrega-se de comparar a nossa factura nos diferentes fornecedores para nos indicar qual o mais barato. Conta-nos a DECO: «O casal Marques nunca deu muita atenção à fatura da eletricidade: pagar luz faz parte da rotina, e estando no mercado regulado, sempre assumiram que o preço seria razoável. Até que descobriram o simulador da DECO PROteste.»

Diz a DECO que conseguiu convencer o casal Marques a mudar para o mercado liberalizado. Cá em casa vêm regularmente uns jovens tentar convencer-nos do mesmo, esperando fazer-nos um favor e ainda receber uma comissão.

Percebo a necessidade da comissão, mas o problema está mal colocado. O preço da electricidade disparou com a liberalização. E não disparou mais porque existe um mercado regulado (veja-se o caso do gás engarrafado, totalmente liberalizado, onde a botija já custa o dobro do que custa em Espanha, onde o mercado está regulado). Se conseguirem acabar com o mercado regulado (e a ameaça existe, pois a sua morte está determinada há muitos anos, sendo sucessivamente adiada por portaria governamental) os preços dispararão ainda mais. Se a família Marques não andasse distraída saberia que deveria andar a lutar para que o preço no mercado regulado baixasse, pois este é mantido artificialmente alto. Como saberia que é preciso lutar para defender o mercado regulado e impedir que o governo acabe com ele. Como saberia que o simulador da DECO é uma armadilha, um chamariz, para os encaminhar para uma falsa solução e os afastar da luta pela mudança de política que lhes pode resolver os problemas.

 



Mais artigos de: Opinião

Ocaso

Assistimos à mais intensa fase de rivalidades inter-imperialistas desde a II Guerra Mundial. A guerra intestina entre facções da classe dominante nos EUA, que dura há anos, está numa fase de reconfiguração do Estado e do pessoal dirigente. As intensas rivalidades transatlânticas geram muita histeria e delírio. Os...

Sim, é possível resistir e avançar

São profundas as desigualdades sociais no nosso país: dois milhões de pessoas, onde se incluem 300 mil crianças, vivem abaixo do limiar da pobreza, enquanto os grupos económicos acumulam lucros absolutamente escandalosos. Um país onde os baixos salários e as baixas pensões afectam...

Era só o que nos faltava

A rábula que Ricardo Araújo Pereira ensaiou no passado domingo perante António Filipe, que prontamente rechaçou a insinuação de que o PCP estaria agora alinhado com Trump (para o que é que haveríamos de estar guardados!?), é bem reveladora dos tempos que correm. A máquina de propaganda de guerra que tem carburado nestes...

Enquanto o pau vai e vem…

Duas das ordens executivas com que Trump inaugurou a sua segunda presidência congelam os fundos da USAID (United States Agency for International Development) e do NED (National Endowment for Democracy). Nada a opor. São dois reconhecidos tentáculos do imperialismo EUA. Tendo a influência que têm não surpreende o coro,...

O comunicado

Três anos passados e talvez seja este o momento indicado para regressar ao comunicado que o PCP emitiu a 24 de Fevereiro de 2022, sobre o agravamento da situação no Leste da Europa, que foi alvo de tantos ataques e deturpações e, porventura, de incompreensões. Num contexto de intensa propaganda de guerra, pode ter...