DECOy
Num país onde 37 milhões de euros do PRR são gastos numa coisa que se apresenta a si própria com um site em inglês sobre «its mission with European Portuguese», permitam-me usar no título um trocadilho que só funciona em inglês.
Decoy é um chamariz usado na caça aos patos (e noutras caças).
Isto a propósito da mais recente campanha da DECO, assumidamente montada para retirar utentes do mercado regulado de electricidade para os colocar no mercado liberalizado. Um simulador encarrega-se de comparar a nossa factura nos diferentes fornecedores para nos indicar qual o mais barato. Conta-nos a DECO: «O casal Marques nunca deu muita atenção à fatura da eletricidade: pagar luz faz parte da rotina, e estando no mercado regulado, sempre assumiram que o preço seria razoável. Até que descobriram o simulador da DECO PROteste.»
Diz a DECO que conseguiu convencer o casal Marques a mudar para o mercado liberalizado. Cá em casa vêm regularmente uns jovens tentar convencer-nos do mesmo, esperando fazer-nos um favor e ainda receber uma comissão.
Percebo a necessidade da comissão, mas o problema está mal colocado. O preço da electricidade disparou com a liberalização. E não disparou mais porque existe um mercado regulado (veja-se o caso do gás engarrafado, totalmente liberalizado, onde a botija já custa o dobro do que custa em Espanha, onde o mercado está regulado). Se conseguirem acabar com o mercado regulado (e a ameaça existe, pois a sua morte está determinada há muitos anos, sendo sucessivamente adiada por portaria governamental) os preços dispararão ainda mais. Se a família Marques não andasse distraída saberia que deveria andar a lutar para que o preço no mercado regulado baixasse, pois este é mantido artificialmente alto. Como saberia que é preciso lutar para defender o mercado regulado e impedir que o governo acabe com ele. Como saberia que o simulador da DECO é uma armadilha, um chamariz, para os encaminhar para uma falsa solução e os afastar da luta pela mudança de política que lhes pode resolver os problemas.