Sim, é possível resistir e avançar

Manuel Rodrigues (Membro da Comissão Política)

É um desafio de grande exigência aquele que está colocado aos comunistas

São profundas as desigualdades sociais no nosso país: dois milhões de pessoas, onde se incluem 300 mil crianças, vivem abaixo do limiar da pobreza, enquanto os grupos económicos acumulam lucros absolutamente escandalosos. Um país onde os baixos salários e as baixas pensões afectam profundamente a vida de milhões de portugueses; onde os bens essenciais, como o pão, o leite, os ovos ou a carne, absorvem mais de 40 por cento das despesas das famílias com fracos rendimentos e é cada vez mais difícil o acesso à habitação.

É face a esta situação nacional e a um quadro internacional muito complexo que é preciso intervir, tendo presente que a causa fundamental dos problemas estruturais que vivemos é a política de direita que há décadas vem sendo posta em prática e que o actual Governo PSD/CDS – com o apoio do Chega e da IL e a conivência e cumplicidade do PS – vem agravando.

Intervir com determinação mas também com confiança de que é possível resistir e mesmo conseguir conquistas concretas, como vem acontecendo, nomeadamente neste início do ano de 2025: aumentos salariais e melhoria nas condições de trabalho conseguidos pela organização e a luta em diversas empresas e sectores, e, noutros planos, a eliminação das portagens em diversas SCUT, após uma luta de longo de anos, e a reposição de 302 freguesias, na sequência de mais de 10 anos de luta, primeiro contra a sua extinção e, depois, pela sua reposição, são exemplos concretos que comprovam esta possibilidade real.

Mas também é certo que, se no quadro desta política é possível conseguir avanços, não é menos certo que a resolução dos problemas estruturais do País exige a ruptura com ela e a abertura do caminho à política alternativa, patriótica e de esquerda, que o PCP defende e propõe.

Foi este o caminho que o XXII Congresso apontou e, na sua reunião de 8 e 9 de Fevereiro, o Comité Central do PCP reiterou, ao apontar linhas de acção e iniciativa para os próximos tempos no sentido da concretização das condições para resistir, garantir novos avanços e concretizar a ruptura e alternativa, que se colocam como incontornáveis. O Comité Central sublinhou mesmo que «a situação nacional reclama que se tome a iniciativa na intervenção política, na luta de massas, no fortalecimento das suas organizações unitárias, no envolvimento de democratas e patriotas, na preparação das batalhas eleitorais e no reforço do Partido».

Tomando a iniciativa e desenvolvendo esta intervenção, são muitas as lutas e as batalhas políticas que temos no horizonte e que é preciso travar.

É um desafio de grande exigência aquele que está colocado aos comunistas para resistir à ofensiva da política de direita, mudar de política, responder aos problemas e avançar. Mas é um desafio que se coloca também aos democratas e patriotas, a todos aqueles que não aceitam o rumo que a vida política tem vindo a seguir, que querem ver resolvidos os problemas estruturais, que querem construir um País democrático, soberano, desenvolvido, de paz e progresso social.

Exigência que decorre da constatação, que a vida torna cada dia mais evidente, que não haverá soluções para os problemas estruturais sem uma mudança de rumo político, que requer a intensificação da luta de massas. O reforço do PCP e da CDU e, ao mesmo tempo, o alargamento da unidade e convergência de democratas e patriotas.

É um caminho exigente, sem dúvida, mas é aquele que poderá garantir, com confiança, um Portugal com futuro.

 



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