A face do imperialismo

Pedro Guerreiro (Membro do Secretariado)

A luta pela paz e a solidariedade assume grande importância

O XXII Congresso caracterizou as grandes tendências que marcam a situação internacional, no entanto há que estar atento e acompanhar os ulteriores desenvolvimentos, incluindo os que decorrem do tomada de posse e início de funções da nova Administração norte-americana, presidida por Trump. De forma não exaustiva, o Comunicado do Comité Central do PCP de 8 e 9 de Fevereiro procura contribuir para a análise desses desenvolvimentos e aponta algumas das prioridades de intervenção no plano da luta pela paz e da solidariedade internacionalista.

Proclamando o fim do declínio relativo dos EUA, a Administração Trump procura salvaguardar e impor o primado dos interesses do grande capital norte-americano, seja no plano interno ou no plano externo, continuando de uma ou de outra forma, e levando ainda mais longe, objectivos fundamentais prosseguidos por anteriores administrações norte-americanas, nomeadamente a presidida por Biden.

Um dos aspectos mais desconcertantes para os usuais alinhados e serventuários do imperialismo – incluindo no campo da social-democracia rendida ao neoliberalismo e ao militarismo – é a forma desbragada e despudorada com que Trump afirma o primado dos interesses do imperialismo norte-americano, não só perante os seus adversários, mas também, «pasme-se», perante os seus aliados, fazendo emergir contradições e reduzindo-os à sua dimensão de subordinados.

O que preocupa estes usuais alinhados e serventuários é que a descarada promoção da pressão, da chantagem e da ameaça por parte da Administração Trump, que procura continuar a decretar a excepcionalidade dos EUA e a ditar as suas regras ao mundo – tirando partido do domínio do dólar, do controlo sobre o sistema financeiro internacional, de situações de dependência económica, assim como do seu complexo militar-industrial e poder bélico –, ou a sua assumida e aberta afirmação de linhas de demarcação de domínio (neo)colonial territorial, na melhor tradição da doutrina Monroe – vejam-se os exemplos das anunciadas e diferenciadas pretensões relativas à Gronelândia, ao Panamá, ao Canadá, ao México, à Ucrânia ou à Faixa de Gaza –, quebram o verniz dos tão apregoados «valores ocidentais» e desmascaram a verdadeira face do imperialismo.

A política de confrontação e agressão dos EUA aponta como alvo todos os países que afirmem a sua soberania, direito ao desenvolvimento e às suas opções de relacionamento internacional, desde logo a República Popular da China, apontada como o principal adversário estratégico. É a partir desta premissa, que a Administração Trump intenta de novo diminuir (momentaneamente) a sua pressão sobre a Rússia, procurando enfraquecer a associação estratégica entre esta e a China (ao que, e até ao momento, a União Europeia responde com a insistência de que se os EUA precisam da UE para a sua estratégia de «contenção» da China, terão que apoiar a UE na sua confrontação contra a Rússia).

Uma dinâmica que tenderá a acentuar a dicotomia «ou comigo, ou contra mim» por parte do imperialismo no plano internacional, com os perigos que comporta para a paz, a soberania e os direitos dos povos. Pelo que, a evolução da situação internacional muito dependerá da capacidade de resistência e de iniciativa dos países que não se subordinam aos ditames do imperialismo, da sua firmeza política, condições económicas, disponibilidade de convergência e determinação em implementar medidas, soluções, caminhos que façam face aos intentos dos EUA e seus aliados, particularmente da NATO e da UE.

O desenvolvimento da luta pela paz e da solidariedade internacionalista assume uma grande importância. A manifestação «É urgente pôr fim à guerra! Todos Juntos pela Paz!», realizada dia 18 de Janeiro, em Lisboa, pelos muitos milhares de pessoas que participaram e quase uma centena de organizações que convergiram na sua promoção, evidenciou não só a preocupação com as consequências e os perigos da continuação e agravamento do caminho da escalada armamentista e da guerra, como a ampliação da consciência de que lhe é preciso pôr fim, constituindo um significativo contributo para o avanço em Portugal da acção em prol da paz e da cooperação entre os povos.

 



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