O aldrabamento para 2025

Manuel Gouveia

São tantas as aldrabices no OE2025 que este espaço seria insuficiente para listá-las, quanto mais para as demonstrar. Vou assim ficar-me por uma citação cuja leitura me desencadeou uma genuína e imediata gargalhada: «O Governo continuará, em 2025, a sua aposta na mobilidade verde. Assim, a expansão das redes de Metropolitano de Lisboa, com mais 23 novas estações (…).» No entanto, esta tonta aldrabice já foi repetida na imprensa dita séria e de referência (Expresso, por exemplo), e já ficou assim como que canonizada.

Ora, só estão em construção DUAS novas estações, as de Campolide e Santos, na nova Linha Circular, nenhuma das quais estará inaugurada em 2025. Mesmo somando a este número as estações que estão de facto a ser projectadas para o prolongamento da Linha Vermelha a Alcântara, teríamos Amoreiras, Alvito e Alcântara. Um total de CINCO estações de metro. Como chega o Governo às 23 novas estações de Metro? Classificando as paragens do Metro Ligeiro de Loures – que também está em fase de projecto – como estações de Metro...

Isto é ridículo, mas o texto está cheio destes disparates. Servem para inchar o lado “bom” do Orçamento, para lhe dar um ar robusto, quando todos sabemos que andam ali promessas de investimento que saltam de OE para OE há largos anos e que tão pouco em 2025 avançarão.

Sobre o Metro de Lisboa há ainda duas notas no OE2025 que merecem ser aqui destacadas: a primeira é por omissão, pois o PSD no Governo deixou de criticar a Linha Circular, e até deixou de falar na Linha em Laço como alternativa menos má – limita-se a pegar no erro do governo PS, que tanto e tão justamente criticou, e passar a chamar-lhe obra sua; o segundo destaque para a informação de que o ML vai comprar 36 unidades triplas (o equivalente a 18 comboios) em vez das 14 que o governo PS tinha encomendado em Espanha, o que, por um lado, é de saudar, pois a encomenda era insuficiente (como o PCP alertou logo na altura), e, por outro, exige vigilância, para que não se vá somar às promessas por concretizar que enchem o lado “bom” de cada OE.



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