Crianças órfãs por causa da guerra
Informou a Lusa no domingo passado que o governo israelita emitiu um protesto contra um dos presidentes da organização não-governamental (ONG) japonesa Nihon Hidankyo, a quem foi atribuído o Prémio Nobel da Paz deste ano, por ter comparado a destruição provocada pela operação israelita na Faixa de Gaza com a causada pelos bombardeamentos nucleares norte-americanos em 1945.
Durante uma conferência de imprensa em Hiroxima, na semana passada, após receber o anúncio do prémio, Toshiyuki Mimaki afirmou que «em Gaza estão a abraçar crianças encharcadas de sangue. Depois da guerra, muitas crianças ficaram órfãs devido às bombas atómicas, o mesmo sofrimento das crianças de Gaza».
Ou seja, Toshiyuki Mimaki limitou-se a constatar o paralelismo entre a situação das crianças que ficaram orfãs em consequência do horror atómico sobre Hiroxima e Nagasáqui – crime perpetrado pelos EUA, em 1945 – e das crianças palestinianas em Gaza, igualmente orfãs, em consequência do horror da guerra genocida levada a cabo por Israel.
Não se percebe, por isso, a indignação do governo de Israel, ao ponto do seu embaixador no Japão considerar «ultrajante e sem fundamento» a comparação de Toshiyuki Mimaki. Será que não é verdade que muitas crianças ficaram órfãs, numa situação e na outra?
Ou será que o governo sionista de Israel quer mais uma vez desviar as atenções da sua política de barbárie e genocídio e de violação sistemática das resoluções da ONU, nomeadamente sobre a criação do Estado da Palestina, e de claro atropelo ao direito internacional, como se está de novo a verificar nos bombardeamentos e invasão do Líbano pelo exército israelita, incluindo com os ataques contra a Força Interina das Nações Unidas (UNIFIL), naquele País?...
Foi para pôr fim a este genocídio, por uma Palestina livre e pela paz no Médio Oriente, que, por todo o País, se levantou um forte protesto, de 2 a 12 de Outubro, que culminou num grande desfile no sábado passado, em Lisboa.
Perante a resistência do povo palestiniano e a solidariedade dos povos – que crescem – que dirá agora o Governo de Israel? Que é «ultrajante e sem fundamento» esta luta? Ou constatará, talvez assombrado, que, por mais tenebrosas que sejam as armas de um Estado terrorista como é, de facto, Israel, a força da resistência dos palestinianos e da solidariedade dos povos acabará por deter a sua mão criminosa? Para que nunca mais uma criança fique orfã por causa da guerra.