«Casa nacional» de Camões existe, e o Governo tem de a valorizar
O Secretário-Geral do PCP, visitou, no dia 26 de Setembro, a Casa-Memória e o Jardim-Horto de Camões, em Constância, no quadro do programa do Partido de comemoração do V Centenário do nosso poeta-maior.
É imperioso apoiar a Casa-Memória, face ao seu papel na preservação da memória de Camões
No encontro com a direcção da Associação-Memória de Camões em Constância, o PCP pôde conhecer melhor os problemas e potencialidades da instituição
Ali, onde o Zêzere encontra o Tejo, sobre as ruínas da casa quinhentista que serviu de abrigo ao poeta, ergue-se a Casa-Memória de Camões, mantida há várias décadas pela Associação-Memória de Camões em Constância. Ali, também, decorreu uma visita do Partido que, além do Secretário-Geral, contou com Manuel Rodrigues, da Comissão Política do Comité Central, e Diogo d’Ávila, do CC.
Na casa, os dirigentes comunistas, além de poderem observar um notável espólio referente a Camões e à sua época, puderam realizar um encontro com a direcção da associação, onde se sublinhou tanto o trabalho desenvolvido na Casa-Memória, como os problemas que enfrenta.
«Zero!»
No encontro, Máximo Ferreira, presidente da associação, confirmou que, apesar dos esforços da instituição, esta «vive aflita» e não tem «dinheiro para grande coisa».
A falta de apoios públicos foi notável ao longo da conversa, nomeadamente numa breve mas clara afirmação do dirigente associativo: questionado por Diogo d’Ávila se há qualquer financiamento da parte do Governo, Máximo Ferreira respondeu, peremptoriamente, que há «zero»!
Quanto a esta questão, o Secretário-Geral frisou, em declarações no final da visita, que, face ao «papel determinante, histórico, de presente e de futuro» que a Casa«tem feito em Constância», relevante não só para o concelho mas, também, para o interesse do País, é imperioso que «as instâncias nacionais, nomeadamente o Governo, em particular neste ano em que se comemora os 500 anos de Camões, olhem para estas instituições e as apoiem, lhes dêem vida».
Casa-Memória mantém um espólio inigualável referente a Camões e à sua época
Casa nacional
Porque é que Portugal não poderá (ou deverá) ter uma casa de Camões, à semelhança do Reino Unido, que tem uma casa de Shakespeare, e de Espanha, que tem uma casa de Cervantes?
Esta foi uma das questões que mais sobressaiu no decorrer do encontro, sendo demonstrada a vontade, da parte da associação, de torná-la uma efectiva «casa nacional», com o necessário e devido apoio da parte do Ministério da Cultura.
Nas declarações à imprensa, quando questionado sobre se este era um objectivo para o PCP, Paulo Raimundo fez questão de destacar que «nós já temos uma “Casa Camões”, que é esta que está aqui», afirmando que esse deveria ser «um dos objectivos dos 500 anos».
«Nós temos a Casa-Memória, que pode e deve ser constituída como “casa nacional”, em Constância», afirmou, realçando que «não é preciso ser em Lisboa para ser uma “casa nacional”».
«O povo de Constância merecia isso, e o País merecia isso», concluiu.
Trabalho notável
Tal como pôde ser apreciado na visita, a associação tem desenvolvido uma notável acção na preservação da memória de Camões, com um espólio que conta com inúmeros objectos (como exemplares d’Os Lusíadas, cartas de jogar do século XVI ou uma cópia de um retrato do poeta) e uma exposição, além de realizar actividades como tertúlias de poesia, visitas de particulares e escolas, ou sessões de astronomia referentes às navegações.
Jardim-Horto de Camões retrata diversos aspectos da obra camoniana
A associação mantém, ainda, o Jardim-Horto de Camões (também objecto de visita do PCP), que retrata a flora de locais presentes nas estrofes d’Os Lusíadas, e contém inúmeras referências camonianas, como uma reprodução do Planetário de Ptolomeu (referente à «máquina do mundo») ou uma escultura de Lagoa Henriques (alusiva à Ilha dos Amores). Também neste conjunto, podem-se encontrar dois painéis com as viagens percorridas pelo poeta e uma estátua sua, igualmente de Lagoa Henriques.
Na senda deste trabalho, Paulo Raimundo vincou que «não era possível passar ao lado, pelo contrário, era obrigatório» ir a Constância. E reforçou, quanto à programação oficial do V Centenário, não querer crer, «pelo papel que tem, pelo simbolismo que tem, que a Casa-Memória, por iniciativa do Governo, passe ao lado das comemorações oficiais», desde que seja envolvida atempadamente.
«É uma estrutura com condições para dar um contributo único nas comemorações, e penso que estão disponíveis para isso. Mas têm de ser respeitados e valorizados», declarou.
Apoios necessários
Tal como Manuel Rodrigues lembrou no decorrer do encontro, a importância dada pelo Partido à Casa-Memória não é de agora, não sendo, também, de hoje, a denúncia do descaso do Governo perante a instituição.
Já em 2018, o Grupo Parlamentar do PCPendereçara uma pergunta ao Executivo de então sobre o espaço, lembrando que é «por iniciativa própria» que a associação «tem vindo a desenvolver um trabalho meritório de valorização da memória de Camões na vila de Constância».
Assim, os deputados comunistas, assumindo a ambição legítima da associação em valorizar a Casa-Memória, e afirmando afigurar-se «indispensável o apoio do Ministério da Cultura», questionaram o Governo sobre que apoio tinha este prestado à instituição, «tendo em conta as dificuldades» por que passa, e sobre qual seria a sua disponibilidade em apoiar o projecto de um espaço museológico «dotado de um espólio compatível com a dimensão universal do poeta».
Questões que, passados mais de quatro anos, mantêm uma actualidade incontestável.