Palestina e Líbano resistem enquanto a guerra sobe de tom

Com a in­vasão do Lí­bano anun­ciada, os bom­bar­de­a­mentos contra a Síria e o Iémen e a con­ti­nuada agressão contra o povo pa­les­ti­niano, Is­rael pro­voca a es­ca­lada do con­flito no Médio Ori­ente. Pe­rante a es­ca­lada de pro­vo­ca­ções e crimes de Is­rael – de que é exemplo o as­sas­si­nado de Is­mail Hanyieh, líder do Hamas, em Te­erão – e a im­pu­ni­dade e apoio que lhe é ga­ran­tido pelos EUA, o Irão res­pondeu com o lan­ça­mento de mís­seis sobre ins­ta­la­ções em que Is­rael su­porta a sua agressão.

Na sequência do ge­no­cídio do povo pa­les­ti­niano, Is­rael alastra a guerra ao Lí­bano, à Síria e ao Iémen

Lusa

À hora do fecho desta edição, o Irão tinha lan­çado mís­seis sobre ins­ta­la­ções mi­li­tares e dos ser­viços se­cretos is­ra­e­litas. A Guarda Re­vo­lu­ci­o­nária Is­lâ­mica do Irão ex­plicou esta acção como uma res­posta pelos as­sas­si­natos dos lí­deres do Hamas, Is­mail Hanyieh (em ter­ri­tório ira­niano), e do Hez­bollah, Hassan Nas­rallah, e alertou para novas res­postas caso Is­rael in­sista na es­ca­lada.

Horas antes, Is­rael anun­ciara o início da in­vasão ter­restre do Lí­bano (de­pois das in­va­sões de 1978, 1982 e 2006). Também neste ob­jec­tivo, Is­rael conta com o apoio dos EUA, que já con­fir­maram o envio de «al­guns mi­lhares de sol­dados adi­ci­o­nais» para o Médio Ori­ente, para «de­fender Is­rael». Em de­cla­ra­ções de terça-feira, a porta-voz ad­junta do Pen­tá­gono, Sa­brina Singh, ga­rantiu que as forças en­vi­adas in­cluem uni­dades de de­fesa aérea de com­bate, que assim se juntam às de­zenas de mi­lhares de sol­dados norte-ame­ri­canos des­ta­cados na re­gião.

A in­vasão segue-se a meses de ata­ques is­ra­e­litas contra vá­rias lo­ca­li­dades do Sul do Lí­bano, Bekka e Bei­rute, que desde Ou­tubro de 2023 cau­saram 1640 mortos e 8400 fe­ridos. O agra­va­mento da si­tu­ação nos úl­timos dias pro­vocou já cen­tenas de mi­lhares de des­lo­cados e re­fu­gi­ados que pro­curam pro­tecção na Síria.

O Hez­bollah afirma que con­ti­nuará as ac­ções em de­fesa do seu povo e do povo pa­les­ti­niano. Nas pri­meiras de­cla­ra­ções da di­recção do Hez­bollah após o as­sas­si­nato do seu líder Hassan Nas­rallah – no dia 27 de Se­tembro, num bom­bar­de­a­mento aéreo is­ra­e­lita contra uma zona nos su­búr­bios sul de Bei­rute –, o vice-se­cre­tário-geral, Naim Qassem, su­bli­nhou que Is­rael não po­derá eli­minar as ca­pa­ci­dades mi­li­tares do mo­vi­mento li­banês, afir­mando que as «forças da re­sis­tência estão pre­pa­radas para en­frentar qual­quer even­tu­a­li­dade se o ini­migo de­cidir en­trar por terra» e acen­tu­ando que o sis­tema de li­de­rança do Hez­bollah se mantém es­tru­tu­rado.

Qassem acusou o go­verno is­ra­e­lita de atacar civis li­ba­neses e co­meter mas­sa­cres com o apoio dos EUA.

O res­pon­sável pelas re­la­ções in­ter­na­ci­o­nais do Par­tido Co­mu­nista Li­banês, Omar Deeb, afirmou na se­mana pas­sada, numa en­tre­vista, que o ob­jec­tivo final de Is­rael é «sub­meter todo o Lí­bano e o seu povo à agenda si­o­nista», ela pró­pria ali­nhada com o pro­jecto mais vasto dos EUA para a re­gião. «Para nós – pros­se­guiu – esta é uma luta pro­lon­gada, na qual ha­verá vi­tó­rias e der­rotas em di­fe­rentes fases, mas o con­fronto é con­tínuo. (…) A vi­tória virá da nossa re­sis­tência e da nossa re­cusa em nos sub­me­termos.»

Re­sis­tência pa­les­ti­niana sob fogo
A Frente Po­pular de Li­ber­tação da Pa­les­tina (FPLP), assim como o Hamas, anun­ci­aram em Bei­rute, na se­gunda-feira, 30, a morte de di­ri­gentes em re­sul­tado de ata­ques is­ra­e­litas. Um ataque is­ra­e­lita matou três mem­bros da FPLP, numa in­cursão contra um edi­fício re­si­den­cial na zona de Cola.

O líder do Hamas no Lí­bano, Fateh Sharif, foi as­sas­si­nado, jun­ta­mente com a mu­lher e fi­lhos, num ataque aéreo contra a sua casa, no campo de re­fu­gi­ados de al-Buss, no sul do país. Foi a pri­meira vez que o campo de re­fu­gi­ados, perto do po­voado de Sour, foi ata­cado, desde o início da agressão is­ra­e­lita contra o Lí­bano, em Ou­tubro do ano pas­sado.

Num co­mu­ni­cado emi­tido no dia 28 de Se­tembro, a Frente De­mo­crá­tica de Li­ber­tação da Pa­les­tina (FDLP) re­la­ci­onou a «es­ca­lada san­grenta» e o «dis­curso re­pleto de men­tiras» pro­fe­rido por Ne­tanyahu nas Na­ções Unidas com a con­cre­ti­zação do pro­jecto norte-ame­ri­cano de impor a he­ge­monia e con­trolo sobre o Médio Ori­ente à custa dos di­reitos na­ci­o­nais le­gí­timos do povo pa­les­ti­niano.

En­tre­tanto, os mas­sa­cres con­ti­nuam na Faixa de Gaza, com novos bom­bar­de­a­mentos is­ra­e­litas a pro­vo­carem mais mortos e fe­ridos entre a po­pu­lação pa­les­ti­niana.

O Cres­cente Ver­melho pa­les­ti­niano re­portou que, nos úl­timos dias, re­gis­taram-se bom­bar­de­a­mentos is­ra­e­litas contra alvos na ci­dade de Gaza, pro­vo­cando um nú­mero in­de­ter­mi­nado de ví­timas. Outro ataque ocorreu no campo de re­fu­gi­ados de Ja­balia.

Na Cis­jor­dânia, re­gis­taram-se mais ví­timas, du­rante um ataque das tropas ocu­pantes à lo­ca­li­dade de Aqaba. Neste úl­timo ano, na Margem Oci­dental, as forças is­ra­e­litas ma­taram pelo menos 717 pa­les­ti­ni­anos e pren­deram mais de 10.700.

Se­gundo dados ofi­ciais, mais de 41.500 pa­les­ti­ni­anos foram mortos desde o início da agressão is­ra­e­lita contra a Faixa de Gaza, em Ou­tubro do ano pas­sado, e 98 mil pa­les­ti­ni­anos foram fe­ridos. Os nú­meros reais, no en­tanto, serão muito mais ele­vados, pois muitos corpos per­ma­necem sob os es­com­bros.

 

Em prol da paz

Em Por­tugal, o Con­selho Por­tu­guês para a Paz e Co­o­pe­ração (CPPC) exigiu do go­verno por­tu­guês uma firme con­de­nação dos ata­ques is­ra­e­litas e uma acção de­ter­mi­nada, em todas as ins­ti­tui­ções in­ter­na­ci­o­nais em que par­ti­cipa, em prol da paz e dos di­reitos dos povos do Médio Ori­ente, a co­meçar pelo povo pa­les­ti­niano.

Acu­sando Is­rael e quem o apoia, desde logo os EUA, de serem o «prin­cipal factor de de­ses­ta­bi­li­zação no Médio Ori­ente», o CPPC sa­li­enta que o «ge­no­cídio em curso na Faixa de Gaza, o agra­va­mento da re­pressão na Cis­jor­dânia, as pro­vo­ca­ções ao Irão, os cons­tantes ata­ques contra a Síria e o Lí­bano (que co­nhecem agora este agra­va­mento) de­ses­ta­bi­lizam ainda mais aquela re­gião e re­pre­sentam um ele­vado e pre­o­cu­pante po­ten­cial de es­ca­lada de guerra, com di­men­sões re­gi­o­nais».

Também o Mo­vi­mento pelos Di­reitos do Povo Pa­les­ti­niano e pela Paz no Médio Ori­ente (MPPM) apelou, mais uma vez, a que o go­verno por­tu­guês «se abs­tenha de qual­quer forma de co­o­pe­ração mi­litar ou po­lí­tica com o go­verno is­ra­e­lita e que tome ac­ti­va­mente todas as me­didas para que Por­tugal não possa ser con­si­de­rado cúm­plice no ge­no­cídio em curso contra o povo pa­les­tino e na es­ca­lada agres­siva de Is­rael».

Uma jor­nada na­ci­onal de so­li­da­ri­e­dade com o povo pa­les­ti­niano e pela paz no Médio Ori­ente terá lugar de 2 a 12 de Ou­tubro em vá­rios pontos do País, em que se in­cluem as ac­ções no Porto, a 6, e em Lisboa, a 12 (ver pá­gina 14).

 



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