- Nº 2653 (2024/10/3)

Palestina e Líbano resistem enquanto a guerra sobe de tom

Internacional

Com a invasão do Líbano anunciada, os bombardeamentos contra a Síria e o Iémen e a continuada agressão contra o povo palestiniano, Israel provoca a escalada do conflito no Médio Oriente. Perante a escalada de provocações e crimes de Israel – de que é exemplo o assassinado de Ismail Hanyieh, líder do Hamas, em Teerão – e a impunidade e apoio que lhe é garantido pelos EUA, o Irão respondeu com o lançamento de mísseis sobre instalações em que Israel suporta a sua agressão.

Lusa

À hora do fecho desta edição, o Irão tinha lançado mísseis sobre instalações militares e dos serviços secretos israelitas. A Guarda Revolucionária Islâmica do Irão explicou esta acção como uma resposta pelos assassinatos dos líderes do Hamas, Ismail Hanyieh (em território iraniano), e do Hezbollah, Hassan Nasrallah, e alertou para novas respostas caso Israel insista na escalada.

Horas antes, Israel anunciara o início da invasão terrestre do Líbano (depois das invasões de 1978, 1982 e 2006). Também neste objectivo, Israel conta com o apoio dos EUA, que já confirmaram o envio de «alguns milhares de soldados adicionais» para o Médio Oriente, para «defender Israel». Em declarações de terça-feira, a porta-voz adjunta do Pentágono, Sabrina Singh, garantiu que as forças enviadas incluem unidades de defesa aérea de combate, que assim se juntam às dezenas de milhares de soldados norte-americanos destacados na região.

A invasão segue-se a meses de ataques israelitas contra várias localidades do Sul do Líbano, Bekka e Beirute, que desde Outubro de 2023 causaram 1640 mortos e 8400 feridos. O agravamento da situação nos últimos dias provocou já centenas de milhares de deslocados e refugiados que procuram protecção na Síria.

O Hezbollah afirma que continuará as acções em defesa do seu povo e do povo palestiniano. Nas primeiras declarações da direcção do Hezbollah após o assassinato do seu líder Hassan Nasrallah – no dia 27 de Setembro, num bombardeamento aéreo israelita contra uma zona nos subúrbios sul de Beirute –, o vice-secretário-geral, Naim Qassem, sublinhou que Israel não poderá eliminar as capacidades militares do movimento libanês, afirmando que as «forças da resistência estão preparadas para enfrentar qualquer eventualidade se o inimigo decidir entrar por terra» e acentuando que o sistema de liderança do Hezbollah se mantém estruturado.

Qassem acusou o governo israelita de atacar civis libaneses e cometer massacres com o apoio dos EUA.

O responsável pelas relações internacionais do Partido Comunista Libanês, Omar Deeb, afirmou na semana passada, numa entrevista, que o objectivo final de Israel é «submeter todo o Líbano e o seu povo à agenda sionista», ela própria alinhada com o projecto mais vasto dos EUA para a região. «Para nós – prosseguiu – esta é uma luta prolongada, na qual haverá vitórias e derrotas em diferentes fases, mas o confronto é contínuo. (…) A vitória virá da nossa resistência e da nossa recusa em nos submetermos.»

Resistência palestiniana sob fogo
A Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), assim como o Hamas, anunciaram em Beirute, na segunda-feira, 30, a morte de dirigentes em resultado de ataques israelitas. Um ataque israelita matou três membros da FPLP, numa incursão contra um edifício residencial na zona de Cola.

O líder do Hamas no Líbano, Fateh Sharif, foi assassinado, juntamente com a mulher e filhos, num ataque aéreo contra a sua casa, no campo de refugiados de al-Buss, no sul do país. Foi a primeira vez que o campo de refugiados, perto do povoado de Sour, foi atacado, desde o início da agressão israelita contra o Líbano, em Outubro do ano passado.

Num comunicado emitido no dia 28 de Setembro, a Frente Democrática de Libertação da Palestina (FDLP) relacionou a «escalada sangrenta» e o «discurso repleto de mentiras» proferido por Netanyahu nas Nações Unidas com a concretização do projecto norte-americano de impor a hegemonia e controlo sobre o Médio Oriente à custa dos direitos nacionais legítimos do povo palestiniano.

Entretanto, os massacres continuam na Faixa de Gaza, com novos bombardeamentos israelitas a provocarem mais mortos e feridos entre a população palestiniana.

O Crescente Vermelho palestiniano reportou que, nos últimos dias, registaram-se bombardeamentos israelitas contra alvos na cidade de Gaza, provocando um número indeterminado de vítimas. Outro ataque ocorreu no campo de refugiados de Jabalia.

Na Cisjordânia, registaram-se mais vítimas, durante um ataque das tropas ocupantes à localidade de Aqaba. Neste último ano, na Margem Ocidental, as forças israelitas mataram pelo menos 717 palestinianos e prenderam mais de 10.700.

Segundo dados oficiais, mais de 41.500 palestinianos foram mortos desde o início da agressão israelita contra a Faixa de Gaza, em Outubro do ano passado, e 98 mil palestinianos foram feridos. Os números reais, no entanto, serão muito mais elevados, pois muitos corpos permanecem sob os escombros.

 

Em prol da paz

Em Portugal, o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) exigiu do governo português uma firme condenação dos ataques israelitas e uma acção determinada, em todas as instituições internacionais em que participa, em prol da paz e dos direitos dos povos do Médio Oriente, a começar pelo povo palestiniano.

Acusando Israel e quem o apoia, desde logo os EUA, de serem o «principal factor de desestabilização no Médio Oriente», o CPPC salienta que o «genocídio em curso na Faixa de Gaza, o agravamento da repressão na Cisjordânia, as provocações ao Irão, os constantes ataques contra a Síria e o Líbano (que conhecem agora este agravamento) desestabilizam ainda mais aquela região e representam um elevado e preocupante potencial de escalada de guerra, com dimensões regionais».

Também o Movimento pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) apelou, mais uma vez, a que o governo português «se abstenha de qualquer forma de cooperação militar ou política com o governo israelita e que tome activamente todas as medidas para que Portugal não possa ser considerado cúmplice no genocídio em curso contra o povo palestino e na escalada agressiva de Israel».

Uma jornada nacional de solidariedade com o povo palestiniano e pela paz no Médio Oriente terá lugar de 2 a 12 de Outubro em vários pontos do País, em que se incluem as acções no Porto, a 6, e em Lisboa, a 12 (ver página 14).