Estivadores dos EUA em greve

António Santos

Esta terça-feira, os principais portos dos EUA amanheceram com os portões fechados e guardados por rodas de trabalhadores, em grupos de poucas dezenas, a caminhar em círculos intermináveis. «Até quando?», surge a palavra de ordem solitária «Até ao fim!», responde todo o piquete, que vai revezando ao longo das horas, dos dias ou do tempo que for preciso.

Mais de 45 mil estivadores estado-unidenses começaram, na terça-feira, uma greve de duração indefinida, paralisando totalmente 36 portos em todo o país. Do Texas ao Maine, os estivadores da International Longshoremen’s Association (ILA), o principal sindicato do sector, exigem aumentos salariais de 70 por cento ao longo dos próximos seis anos, protecção dos postos de trabalho contra a automação, horários de trabalho compatíveis com a vida familiar e mais condições de segurança.

A Câmara do Comércio, o equivalente a uma confederação patronal, já veio pedir à Casa Branca que «intervenha para pôr fim à greve»: a primeira greve nacional de estivadores desde 1977 poderia causar prejuízos de 5 mil milhões de dólares por dia e perturbar as artérias de abastecimento logístico que fazem todo o tipo de mercadorias, componentes e matérias-primas chegar às lojas, às casas e às fábricas dos EUA. No linguajar dos patrões, só quer isto dizer o óbvio: nada se mexe sem trabalhadores. Se restassem dúvidas sobre o poderio económico e social dos estivadores, bastaria olhar para a história do movimento operário nos EUA: no passado, duas grandes greves gerais, em 1892 e 1919, começaram com greves de estivadores.

Na realidade, o United States Maritime Alliance (USMX), o grupo de patrões que comanda o sector, é o único responsável pela greve: apesar dos lucros multimilionários, conseguido graças ao brutal aumento do frete dos contentores, permitiu que o contrato de trabalho colectivo caducasse e recusou-se a negociar de forma sincera com os representantes dos trabalhadores, apostando tudo numa intervenção da Casa Branca para proibir a greve. Para já, a Casa Branca recusa invocar a infame lei Taft-Hartley, também conhecida como «lei do trabalho escravo», para travar a greve, mas o cadastro da administração Biden no tratamento de greves não aconselha relaxamento: há um ano, Biden encarregou-se de pôr fim a uma greve dos trabalhadores ferroviários por outra via judicial.

Em vésperas de eleições presidenciais, sobem de volume as vozes na comunicação social dominante que pedem a Biden que «mostre força», seja mais como Trump, e «ponha a casa em ordem» acabando, a bem ou a mal, com a onda de greves que percorre o país. Para além de 45 mil estivadores, também estão em greve de duração indefinida 33 mil operários da Boeing, em Seattle, Washington; 5000 operários da Textron Aviation, no Kansas, e muitos outros milhares de trabalhadores de outros sectores.

 



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