Assembleia Geral da ONU reúne em sessão plenária
À guerra genocida contra o povo palestiniano Israel soma os ataques ao Líbano e a outros países no Médio Oriente; o conflito que se trava na Ucrânia perdura e agrava-se pela acção dos EUA, da NATO e da UE; os EUA e seus aliadoscontinuam a impor bloqueios e sanções ilegais a diversos países: estes são alguns dos temas que marcaram os discursos na Assembleia Geral da ONU, inaugurada a 10 de Setembro.
Guerra no Médio Oriente e na Europa no centro do debate nas Nações Unidas
O debate do 79.º período de sessões da Assembleia Geral das Nações Unidas, que decorreu na sede da organização, em Nova Iorque, encerrou na segunda-feira, 30, depois das intervenções de quase duas centenas de representantes nacionais terem abordado problemas da actualidade, marcada por desafios sem precedentes.
Este ano, o debate teve como mote «Não deixar ninguém para trás: actuar juntos em prol da paz, o desenvolvimento sustentável e a dignidade humana para as gerações presentes e futuras». Apesar deste justo propósito, o principal fórum da ONU ficou marcado pelo dramático incremento da política de guerra de Israel no Médio Oriente, particularmente com a continuação do genocídio do povo palestiniano e a negação dos seus direitos nacionais, ou o prolongamento e agravamento do conflito que os EUA e a NATO travam na Ucrânia, contra a Rússia, entre outros conflitos promovidos pelo imperialismo.
O período em que chefes de Estado e de governo e responsáveis governamentais de todo o mundo intervieram na Assembleia Geral das Nações Unidas começou com a aprovação do “Pacto do Futuro”, uma declaração que pretende impulsionar o projecto da ONU de reforma da dita “governação global”. O documento traça caminhos para uma cooperação multilateral e propõe medidas no sentido de o Conselho de Segurança reflectir melhor o mundo actual, «abordando a histórica sub-representação da África, Ásia e América Latina».
Construir a paz
Sendo o primeiro a intervir, o presidente dos EUA, Biden, reafirmou, sem surpresa, o total apoio militar dos EUA a Israel, isto é, à guerra genocida levada a cabo por Israel contra o povo palestiniano, e à Ucrânia, cujas autoridades não hesitam em sacrificar o seu povo como carne para canhão na estratégia de imposição do domínio hegemónico dos EUA.
O presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmoud Abbas, apelou à Assembleia Geral da ONU que suspenda Israel da organização multilateral e apresentou um plano para dinamizar um diálogo que permita uma paz justa: «A Palestina é a nossa pátria. É a terra dos nossos pais e avós, e continuará sendo nossa. Se alguém tem de ir-se embora são os usurpadores e ocupantes», realçou.
A China, pela voz do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, defendeu uma solução política para a crise da Ucrânia e fez um apelo às partes envolvidas para priorizar a paz e o bem-estar dos povos afectados e de se comprometerem com negociações. O governante chinês considerou a questão palestiniana a «maior ferida na consciência humana» e salientou que a China, do mesmo modo que teve um papel importante nas conversações inter-palestinianas, continuará a bater-se por uma solução justa para a questão palestiniana e para a paz no Médio Oriente.
Sobre a Ucrânia, a Rússia, representada pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, garantiu que está aberta a apoiar a plataforma Amigos da Paz, que tem por base uma proposta para o conflito na Ucrânia apresentada por China e Brasil e outros países do chamado Sul Global.
Pelo multilateralismo
Já Cuba defendeu uma ordem internacional sem bloqueios nem medidas coercitivas, baseada no multilateralismo e com pleno respeito pela Carta da ONU e o direito internacional. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Bruno Rodríguez, denunciou as acções do governo norte-americano para determinar o destino de Cuba: «É uma velha ambição baseada na Doutrina Monroe que define a natureza imperialista, dominante e hegemónica da política dos EUA face a Cuba e à América Latina». E alertou para os danos provocados pelo bloqueio a Cuba, concebido por Washington como uma das principais armas de agressão para destruir a economia cubana.
O chefe do Estado da Colômbia, Gustavo Petro, asseverou que presidentes dos países mais fortes do mundo obedecem ao um por cento dos mais ricos, porque os que pertencem a esta minoria pagam as suas campanhas, são donos dos meios de comunicação. A poderosa oligarquia global é que «permite que se lancem bombas a crianças, mulheres e idosos de Gaza, do Líbano ou do Sudão. Que se bloqueiem economicamente os países rebeldes que não encaixam no seu domínio, como Cuba ou Venezuela, porque necessitam de mostrar o seu poder de destruição aos 99 por cento restantes da humanidade», acusou.
O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, qualificou o genocídio de Israel contra o povo palestiniano como uma continuação do regime do apartheid. Considerou que a violência contra o povo palestiniano é, como o apartheid, um crime de lesa-humanidade. Por outro lado, afirmou que, 78 anos depois da sua fundação, a ONU continua sem mudanças, e que a África e os seus milhões de habitantes foram excluídos do Conselho de Segurança, que não cumpriu o seu mandato de manter a paz. E propôs que o Conselho de Segurança – que «não pode ser um clube exclusivo de cinco países» – seja urgentemente reformado, para que as vozes de todas as nações se possam ouvir e ter em conta.
Pacto do Futuro aborda desafios no século XXI
A Assembleia Geral das Nações Unidas deu «luz verde» ao “Pacto do Futuro” que tem como um dos seus objectivos fazer avançar a reforma da dita “governação global”.
Após longas negociações, o texto – centrado em abordar os desafios do século XXI – foi aprovado sem necessidade de votação, apesar das várias emendas apresentadas durante o fórum integrado por 193 Estados membros da ONU.
O “Pacto do Futuro” foi aprovado no primeiro dos dois dias da Cimeira do Futuro (22 e 23 de Setembro), evento que debateu temas prementes como a paz e a segurança, as alterações climáticas e a reforma do sistema financeiro internacional.
A declaração aprovada procura comprometer os líderes com 60 acções em cinco áreas: o desenvolvimento sustentável e o seu financiamento; a paz e segurança; a ciência, a tecnologia e a inovação; a juventude e as gerações futuras; e a transformação da governação global – incluinso aspectos como a reestruturação do Conselho de Segurança da ONU ou a necessidade de ampliar o financiamento ao desenvolvimento.
Os próximos anos dirão se o Pacto avança ou se, como tantos outros antes dele, fica por cumprir.