Hiroshima e Nagasáqui

Albano Nunes

“Hiroshima nunca mais!” é uma palavra de ordem que ganha renovada actualidade

O bombardeamento atómico das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasáqui em 6 e 9 de Agosto de 1945, constituiu um dos acontecimentos mais sombrios da história da Humanidade. É necessário não o deixar cair no esquecimento. Por um incontornável dever de memória. Mas sobretudo para defender a verdade histórica e lembrar que, o que realmente motivou os EUA a cometer tão monstruoso crime, não foi uma pretensa derrota do militarismo japonês (que se encontrava já derrotado) mas uma arrogante afirmação de poder da única potência que então dispunha da arma atómica, com o propósito de impor ao Japão e ao mundo o domínio do imperialismo norte-americano.

Evocar a tragédia que se abateu sobre as populações de Hiroshima e Nagasáqui é tanto mais necessário quando o mundo está hoje confrontado com o perigo de uma guerra de incalculáveis proporções e o recurso à arma nuclear está a ser irresponsavelmente banalizado e expressamente inserido na estratégia e na táctica dos falcões da guerra.

79 anos depois, “Hiroshima nunca mais!” é uma palavra de ordem que ganha renovada actualidade perante a escalada de confrontação imperialista conduzida pela primeira e única potência que até hoje empregou a arma nuclear, e que está a arrastar numa demencial corrida aos armamentos a NATO, a União Europeia e os seus aliados do G7, incluindo, em posição destacada, o próprio Japão.

A derrota do militarismo nipónico, embora o poder dos monopólios não tenha sido desmantelado e os EUA tenham imposto uma férrea tutela política e militar sobre este país, levou a que o Japão se dotasse de uma Constituição pacifista que condena o militarismo e a participação em operações militares no estrangeiro, mas que nos últimos anos, apesar da oposição de um poderoso movimento pela paz, tem sido frontalmente violada. Renasce o militarismo, crescem as ambições expansionistas da classe dirigente japonesa e, no quadro do binómio submissão/rivalidade inerente às relações inter-imperialistas, reforça-se cada vez mais a aliança nipo-norte-americana e as forças armadas dos EUA têm à sua disposição numerosas bases militares no território japonês como a gigantesca e contestada base de Okinawa. O Japão participa activamente na corrida armamentista na região Ásia-Pacífico num processo que, como foi sublinhado na recente cimeira da NATO em Washintgton, tem como objectivo principal a “contenção” do impetuoso desenvolvimento da Republica Popular da China e o seu crescente papel nas relações internacionais. A gravidade de uma tal situação, em que são de destacar as provocações em torno de Taiwan, é evidente.

A tragédia de Hiroshima e Nagasáqui aí está a lembrar a importância do desenvolvimento de uma ampla frente unitária de luta em defesa da paz e da segurança na Europa e no mundo. Sendo certo que o imperialismo é capaz de todas as arbitrariedades e dos maiores crimes para impedir o avanço do processo libertador da Humanidade, não é menos certo que a palavra decisiva pertence sempre aos povos. A luta pela solução política dos conflitos, pela paz, pelo desarmamento, e pela proibição e destruição das armas nucleares é uma tarefa central na actualidade.

 



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