Por um parto seguro e de qualidade

Margarida Botelho

No mesmo dia em que o PCP deu uma im­por­tante con­fe­rência de im­prensa sobre a si­tu­ação nas ma­ter­ni­dades em Por­tugal, a que o Avante! dá jus­ta­mente des­taque, o Pú­blico trazia na pri­meira pá­gina a fo­to­grafia de um recém-nas­cido sob o tí­tulo «ur­gên­cias fe­chadas – em dois meses, o SNS trans­feriu 42 grá­vidas para ma­ter­ni­dades pri­vadas». No de­sen­vol­vi­mento da no­tícia fi­camos a saber que esses 42 casos são todos da re­gião de Lisboa e Vale do Tejo e que os hos­pi­tais pri­vados que re­ce­beram as grá­vidas eram dos grupos CUF, Luz e Lu­síadas.

Se dú­vidas hou­vesse da afir­mação que o PCP faz de que o prin­cipal be­ne­fi­ciado com estes en­cer­ra­mentos in­ter­mi­tentes – que não têm só a du­ração deste Go­verno e que res­pon­sa­bi­lizam igual­mente os go­vernos do PS – é o sector pri­vado, essa no­tícia do Pú­blico es­cla­rece-as. Às ma­ter­ni­dades pri­vadas in­te­ressam as gra­vi­dezes e os partos de baixo risco, re­correm às ce­sa­ri­anas para me­lhor gerir os “re­cursos” – sabe-se que 2 em cada 3 partos no pri­vado são por ce­sa­riana, prá­tica com mai­ores contra-in­di­ca­ções para as mu­lheres e para os bebés -, des­cartam os casos com­pli­cados.

As no­tí­cias a que as­sis­timos nos úl­timos dias são o re­trato vivo do que já se sabia que ia acon­tecer. Grá­vidas de Leiria com partos agen­dados no Porto, grá­vidas do Seixal que vão ter os bebés em Abrantes, re­latos de mu­lheres em tra­balho de parto que vão a três ur­gên­cias e só con­se­guem as­sis­tência na úl­tima. A so­lução do Go­verno, es­pre­mendo bem, é um nú­mero de te­le­fone.

Gra­videz não é do­ença, cos­tuma dizer-se. E não é. Mas é um pe­ríodo da vida das mu­lheres, prin­ci­pal­mente quando o parto se apro­xima, em que o que mais se quer é se­gu­rança e con­fi­ança. Saber onde se vai ter o bebé, onde se re­corre em caso de dú­vida ou numa aflição, co­nhecer os pro­fis­si­o­nais, estar perto de casa para ter o apoio da fa­mília, é fun­da­mental para que o parto tenha a se­gu­rança e a qua­li­dade ne­ces­sá­rias, mas também para que a mu­lher se sinta res­pei­tada e nas me­lhores con­di­ções para aco­lher o bebé.

 



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