Alguns apontamentos sobre convergência e unidade

João Ferreira (Membro da Comissão Política)

O PCP não é diluível em falsas alternativas

A procura de caminhos de convergência em torno da defesa da liberdade, da democracia, do progresso e da justiça social é um objectivo de ontem, de hoje e de sempre.

Na história do PCP, nas mais diversas circunstâncias da vida nacional, essa procura é uma constante. Ela inscreve-se numa consagrada política de alianças, que emerge da arrumação de forças sociais (de classe) existente.

A classe operária – de que importa não ter uma visão restritiva nem estática e cuja composição se modifica e diversifica significativamente com a evolução do capitalismo – mantém o seu potencial revolucionário. É determinante para qualquer transformação democrática e progressista da sociedade. Pela sua dimensão, pelo seu papel na produção de riqueza, pela sua intervenção na luta social e política, pelo seu confronto objectivo com o mecanismo constitutivo da acumulação capitalista, a extracção da mais-valia. Entretanto, há uma identidade e partilha de interesses e de aspirações entre a classe operária e outras forças sociais, de que resulta um sistema de alianças sociais. A política de unidade do PCP reflecte, de forma ampla, esse sistema.

Mesmo que numerosos factores atrasem ou dificultem tal percepção, os objectivos de luta do PCP – sejam os mais imediatos, sejam os mais profundos – correspondem aos interesses da esmagadora maioria da população portuguesa: de todos os trabalhadores; dos micro, pequenos e médios empresários; dos pequenos e médios agricultores; da juventude; dos reformados, entre outros. No actual contexto, de um prolongado processo de recuperação capitalista e monopolista, com uma vertente de abdicação nacional, que se repercute em múltiplos aspectos da vida económica, social e política do País, pode considerar-se como sendo muito ampla a dimensão potencial da frente social de luta em prol de diversos objectivos concretos, mesmo que de natureza conjuntural. É vasto o campo da unidade.

No plano político, em que a questão da convergência e da unidade também se coloca, em correspondência com o plano social, para o PCP, a política de alianças abrange movimentos, organizações e partidos que, nos seus objectivos e na sua prática, defendam os interesses e aspirações das classes e forças sociais participantes no sistema de alianças sociais.

Enfrentando Portugal as prolongadas consequências da política de direita e de submissão nacional, levada a cabo, em regime de alternância, com óbvia continuidade nos seus aspectos estruturais, por governos do PS e do PSD (com a ajuda do CDS e tendo os sucedâneos Chega e IL como reserva), em procuração dos interesses do poder económico, do grande capital nacional e estrangeiro, a formulação de uma política alternativa patriótica e de esquerda corresponde à definição de um campo de convergência potencialmente amplo: o das forças sociais e políticas antimonopolistas, passível de ser integrado por diversas personalidades e sectores democráticos e patriotas.

Este é o campo da defesa da democracia, da soberania nacional, dos valores de Abril, do acervo de direitos e do projecto de desenvolvimento consagrados na Constituição da República Portuguesa.

O alargamento da influência do PCP na sociedade portuguesa, a par do alargamento e intensificação da luta social de massas, é condição e garantia de alargamento deste campo – objectivo em que o PCP se empenha, não poupando esforços. Podem conjecturar-se múltiplos cenários, mas sem o reforço do PCP – no plano social, político e eleitoral – a defesa da liberdade, da democracia, do progresso e da justiça social não sairão reforçadas, antes enfraquecidas.

Pela forma como assume, em todas as circunstâncias, a defesa dos trabalhadores, do povo e do País, no combate aos interesses do capital e à política de submissão nacional; pelo combate às forças e concepções reaccionárias e fascizantes; pelo combate à política de direita e a quem a promove; pela coragem; pela integridade de princípios, pela clareza de propósitos e por uma prática política coerente com ambas; pelo seu procjeto de construção de uma sociedade nova, livre da exploração capitalista; pelos ideais que abraça, do socialismo e do comunismo – o PCP é elemento dinamizador e agregador da convergência e da unidade efectivamente necessárias e não elemento diluível em falsas alternativas, que alimentam falsas expectativas e branqueiam responsabilidades políticas pelo estado actual do País.

 



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