Baralhar e tornar a dar
É pela luta que se abre caminho às alternativas
A efervescência dos últimos acontecimentos, particularmente no chamado «velho mundo», merece atenção. Tivemos e teremos pela frente tempos em que as classes dominantes tentam encontrar as soluções que mitiguem a crise estrutural do capitalismo. No marasmo económico, procuram o caminho que lhes permita uma «fuga para a frente» para continuar a pôr e a dispor da vida dos trabalhadores e dos povos.
O agravamento da crise económica e social resultante das políticas neoliberais e militaristas levaram à precipitação de eleições antecipadas no Reino Unido e em França. Os resultados eleitorais em ambos os países, apesar das suas especificidades, diferenças e contradições, não deixam de ser expressão de um crescente descontentamento social, mas também da sua instrumentalização pelo grande capital.
No Reino Unido, depois de 14 anos de Partido Conservador no governo, o Partido Trabalhista alcançou cerca de 63% dos assentos no parlamento com 34% dos votos. No entanto, Keir Starmer alcançou uma percentagem de votos significativamente inferior à que Jeremy Corbyn recebeu em 2017 e 2019 – Jeremy Corbyn que agora foi eleito como independente, depois de se ver impedido de concorrer pelo Partido Trabalhista pela sua posição solidária com a Palestina.
Como o Partido Comunista Britânico salienta, «os trabalhadores não devem ter ilusões sobre um novo governo trabalhista de direita», pois pouco o separa das políticas fundamentais do anterior governo conservador, no que toca aos direitos sociais, às privatizações ou ao apoio à política de ocupação e opressão por parte de Israel, ao prolongamento da guerra na Ucrânia, ao militarismo.
Já em França, face ao ascenso do «Reagrupamento Nacional» (RN), na primeira volta, a coligação eleitoral «Nova Frente de Popular» (NFP) e o «Juntos», de Macron, apelaram à mobilização contra a extrema-direita, colocando na segunda volta a NFP em primeiro lugar e o Juntos em segundo, em número de mandatos, apesar do avanço do RN. Um resultado que, não deixando de representar uma derrota para Macron, não afasta – tendo em conta a correlação de forças no parlamento – a possibilidade da continuidade da sua política neoliberal e belicista, o que significaria mais ataques às liberdades e aos direitos democráticos, mais promoção do militarismo e da guerra.
Estes acontecimentos em nada beliscam a realização, por estes dias, da cimeira da NATO de Washington, que assinala os 75 anos da sua fundação na potência dominante do imperialismo. No entanto, enquanto se aprofunda a política belicista da NATO, pairam no ar as incógnitas quanto às próximas eleições presidenciais nos EUA, «assombradas» com a possibilidade de Biden não estar «capaz» de enfrentar Trump, como alguns proclamam de forma alarmada. A verdade é que a realidade tem vindo a demonstrar que o destino dessa nação, tanto nas mãos dos democratas como nas dos republicanos, significará a primazia dos interesses da sua classe dominante nos planos nacional e internacional, pois é muito mais o que os une do que o que os separa.
Perante a promoção das diferentes forças que servem o grande capital, incluindo de extrema-direita – uma carta que lhes interessa utilizar neste jogo do «baralha e torna a dar» dos que servem a exploração e a guerra –, é pela luta dos trabalhadores e dos povos pelos seus direitos e aspirações que se abrirá o caminho para a alternativa que se impõe.