O primeiro condenado na história dos presidentes criminosos

António Santos

A grande surpresa da semana passada foi a condenação de Trump por 34 crimes graves, tornando o magnata no primeiro ex-presidente a ser condenado por um crime. Daqui devem retirar-se duas conclusões importantes: por um lado, surpreende a sentença contra Trump justamente porque, no regime dos capitalistas, não é normal assistirmos à condenação de importantes capitalistas e, por outro lado, algo terá apodrecido no consenso da classe dominante se, no longo rol de genocidas e criminosos de guerra que preenchem a lista dos presidentes dos EUA, o único alguma vez condenado é Trump, e logo por um crime frívolo.

Não está, obviamente, em causa que Trump é um criminoso de carreira. É um criminoso em qualquer acepção do termo, económica, política, militar, sexual, com décadas de responsabilidade directa em todo o tipo de vigarices, fraudes e roubos. Trump mandou bombardear a Síria; enfiou crianças imigrantes em jaulas de cães; mandou estrangular a economia do heróico povo cubano; tentou um golpe fascista; incitou a violência racista contra milhões de trabalhadores. Trump devia estar preso, mas na mesma cela de Nixon, Reagan, Clinton, Bush ou Truman, só para invocar os mais recentes.

Ao longo da sua espúria vida mafiosa, Trump coleccionou mais de 130 acusações judiciais sérias. Nenhuma delas resultara alguma vez em condenação. Subitamente, volvidos oito anos (a justiça dos EUA só é célere a condenar os pobres) sobre a revelação de Stormy Daniels, uma «prostituta de luxo» a quem comprou o silêncio com fundos da campanha eleitoral, Trump é condenado por 34 crimes. É altamente improvável que o candidato republicano venha a cumprir pena de prisão por estas condenações, mas o objectivo também não é esse.

A justiça da classe dominante serve para proteger a classe dominante. É por isso que a condenação de Trump é tão surpreendente: viola a regra de ouro que mantém, com raríssimas excepções, os capitalistas, e os políticos que os servem, acima das leis do regime capitalista. A condenação de Trump é mais um prego no caixão do consenso de classe que se manteve nos EUA desde a guerra civil de 1861-65. Da mesma forma que Trump violou a regra de ouro da transição pacífica do poder entre as diferentes facções da alta burguesia, ensaiando um golpe para se manter no poder, os democratas lançam-se também agora no seu próprio golpe para impedir, pela via judicial, que Trump possa ser reeleito.

O verniz estalou definitivamente. Trump precisa do poder a todo o custo para não ser preso. Os capitalistas que Trump representa precisam do poder a qualquer preço para não serem destruídos pelos capitalistas que Biden representa. A luta entre as duas facções já não cabe nas cofragens da democracia burguesa, da legalidade, da paz nem do consenso de classe. Os governantes, diria Lénine, estão divididos e já não conseguem governar como antes, falta agora que os governados estejam unidos – e queiram deixar de sê-lo.

 



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