Para garantir o futuro não se pode perder a memória
O Secretário-Geral do PCP visitou no dia 9 o Museu do Aljube – Resistência e Liberdade, em Lisboa, um «extraordinário espaço de afirmação da memória» que em 2025 fará 10 anos. Anteontem, 14, esteve em Serralves, no Porto, a ver a exposição Pré/Pós – Declinações Visuais do 25 Abril.
«Querem-nos retirar os instrumentos de soberania»
No Aljube, Paulo Raimundo salientou que aquele museu «vive da história e da resistência», o que tem uma importância acrescida quando se comemoram 50 anos do 25 de Abril. «Não vivíamos num estado “musculado”, mas fascista» e «foi isto que derrubámos com o 25 de Abril» de 1974, sublinhou. A delegação do PCP era ainda composta por Domingos Abrantes, ex-preso político, Luísa Araújo, da Comissão Central de Controlo, e Ricardo Costa, da Comissão Política.
Rita Rato, Directora do Museu, começou por lembrar que o edifício do Aljube (do árabe “al-jubb” – poço sem água, cisterna, masmorra ou prisão) remonta ao período romano e islâmico, tendo sido quase sempre uma prisão: cárcere eclesiástico, prisão de mulheres (durante a 1.ª República) e, finalmente, prisão política desde 1928 até 1965.
Logo à entrada, somos confrontados – numa parede com um óculo de vigilância do parlatório – com fotografias dos presos políticos que por ali passaram, como Sérgio Vilarigues, Bento Gonçalves, António Dias Lourenço, Álvaro Cunhal, Conceição Matos, Miguel Torga, Rosa Viseu e Sofia Ferreira, entre muitos outros. Neste piso o visitante pode ver a exposição temporária «25 de Abril sempre!», até 31 de Janeiro de 2025, uma viagem pela resistência onde as pessoas são convidadas a deixar a sua opinião.
Patente até 31 de Agosto, no 4.º piso, está a instalação «A Liberdade passou por aqui!».
Fascismo, resistência e liberdade
A exposição permanente começa no 1.º piso, abordando, entre outras temáticas, a ascensão e queda do fascismo; a censura na comunicação social e na produção livreira e discográfica; a importância da imprensa clandestina; a clandestinidade.
No segundo piso ilustra-se como foram muitos e diversificados os modos de organização da resistência antifascista; resume-se o funcionamento conjugado do poder policial e judicial da ditadura; os processos de identificação dos presos, a natureza dos interrogatórios, geralmente violentos e de grande pressão psicológica e a utilização sistemática da tortura; a complexa teia de prisões e campos de concentração instalados nas diferentes colónias; a resistência dos homens e mulheres encarcerados, expressa pela sua organização clandestina e pela preparação de fugas, individuais e colectivas.
Tal como a fuga de Peniche, Rita Rato destacou a de Caxias, a 4 de Dezembro de 1961, como uma das mais memoráveis, sobretudo pela utilização do carro oficial de Salazar. Domingos Abrantes, um dos participantes, frisou que aquela, além de ter sido a «última fuga colectiva», foi a única que decorreu à luz do dia: «A fuga ia decorrer sob fogo, não havia alternativas» e «só se podia concretizar se todas as fases corressem» como planeado, descreveu.
Esta mostra termina com a luta colonial, evocam-se os opositores que ficaram pelo caminho, valoriza-se a conquista da liberdade e da democracia em 25 de Abril de 1974, «o dia inteiro e limpo» como escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen, e afirma-se o empenhamento do Museu na preservação e divulgação da memória histórica enquanto actos de cultura e de cidadania.
Pela democracia cultural
O Secretário-Geral do Partido visitou anteontem, 14, a exposição Pré/Pós – Declinações Visuais do 25 Abril, patente no Museu de Serralves, no Porto, que comemora os 50 anos da Revolução dos Cravos e coloca em destaque as tensões, as contradições e os movimentos paradoxais que marcam os períodos imediatamente anteriores e posteriores à Revolução.
Centrada nos anos de 1970 a 1977, a exposição regista como os artistas e, de uma forma geral, o universo das artes reflectiu as experiências e sentimentos que terão acompanhado o processo revolucionário. Por panfletos, pinturas, esculturas, instalações, cartazes, edições de livros e revistas, Paulo Raimundo percorreu a exposição, de onde se destaca também um assinalável contributo de serigrafias e outros elementos emprestados a Serralves pela Organização Regional do Porto do PCP.
Em declarações aos jornalistas, Paulo Raimundo sublinhou o papel fundamental dos artistas e da cultura na construção da democracia e reafirmou o empenho do PCP em fazer da democracia cultural «uma realidade na vida de todos os que vivem e trabalham no nosso País». Sobre Serralves, recordou que o PCP está a desenvolver um abaixo-assinado que tem como objectivo o acesso generalizado e gratuito, aos domingos, da população àquele museu portuense.
A delegação do PCP incluía ainda Jaime Toga, da Comissão Política, e Francisco Calheiros, candidato da CDU às próximas eleições ao Parlamento Europeu.