Milhares saíram novamente à rua pela paz e contra o genocídio

Milhares de pessoas saíram às ruas de Lisboa, no sábado, 11, para afirmar bem alto «Paz no mundo! Palestina livre! Não à guerra!», tal como tinham feito muitas outras, por esses dias, no Porto, em Coimbra, em Aveiro e em Torres Novas. Como ali ficou uma vez mais evidente, cabe aos povos, organizados e mobilizados, travar os perigosos objectivos dos que promovem a guerra, os massacres, a escalada armamentista e as sanções: «É da defesa do nosso futuro colectivo, é de luta pela vida, que se trata», afirmou-se.

É urgente que se escolha o caminho da paz

A manifestação, que uniu o Largo José Saramago ao Martim Moniz – com passagem pelo Terreiro do Paço, Rua do Ouro, Rossio e Praça da Figueira –, foi promovida pelas quatro organizações que desde há meses mobilizam contra o genocídio em curso na Faixa de Gaza e pela concretização do direito do povo palestiniano ao seu Estado independente, soberano e viável: o CPPC, a CGTP-IN, o MPPM e o Projecto Ruído – Associação Juvenil. A elas, como sempre, juntaram-se muitas outras, entre sindicatos, organizações juvenis, de mulheres e de reformados, movimentos anti-racistas e antifascistas, grupos culturais e colectividades.

Ao longo do percurso, os manifestantes mostravam ao que iam, com exigências fortes expressas em faixas, pancartas e palavras de ordem: «o povo quer a paz, não o que a guerra traz»; «a paz é um direito, sem ela nada feito»; «não à escalada de guerra», «queremos paz na Palestina, é urgente acabar com a chacina» ou «fim ao genocídio, fim à ocupação; esta luta é pela libertação». Alguns empunhavam cartazes feitos à mão, como a jovem que pedia «parem de matar crianças!».

A exigência de um cessar-fogo imediato e permanente na Faixa de Gaza, paz no Médio Oriente e a Palestina independente, afirmou-se como questão prioritária na luta pela paz no mundo.

Cessar-fogo imediato para parar o genocídio
A situação na Palestina, pela sua gravidade, concentrou a maioria das atenções dos que intervieram no Martim Moniz: Rui Garcia, do CPPC; Dinis Lourenço, da CGTP-IN; Carlos Almeida, do MPPM; a artista palestiniana residente em Portugal Dima Akram e a jovem Sara Cal, do Projecto Ruído, que conduziu a sessão.

Denunciou-se o genocídio na Faixa de Gaza, feito da soma de inúmeros – e macabros – crimes e que mais não é do que o agudizar da tentativa de expulsão e de destruição económica e cultural do povo palestiniano que dura há já mais de sete décadas. Lembrou-se que também na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental se intensifica a ocupação, a discriminação e a violência e não se esqueceu a conivência dos EUA, da NATO e da UE com os crimes de Israel.

A atitude do Governo português em todo este processo mereceu também alguns reparos, pois apesar de Portugal ter votado favoravelmente, na Assembleia Geral das Nações Unidas, o projecto de resolução que reforça os direitos da Palestina e insiste com o Conselho de Segurança para que reveja a sua posição – ou seja, o veto dos EUA – quanto ao estatuto da Palestina como membro de pleno direito da ONU, o País continua a adiar o reconhecimento do Estado da Palestina – que, insiste-se, podia e devia ser feito de imediato.

Por ali passou, ainda, a oposição a todas as tentativas de silenciar a luta que se desenvolve em todo o mundo pela paz no Médio Oriente e por uma Palestina independente: denunciou-se a detenção de jovens na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa e o impedimento, pela polícia, da pintura de um mural da JCP de solidariedade com a Palestina (e que acabou por ser concluído no dia seguinte).

Pela paz, contra a guerra
Não é só no Médio Oriente que soam os tambores da guerra, afirmou-se na Praça do Martim Moniz, onde nessa tarde era generalizada a consciência de que o que se passa na Palestina não está de todo isolado do agravamento das tensões internacionais que marca o nosso tempo. A intensificação do militarismo, o discurso de uma União Europeia em economia de guerra, o aumento extraordinário das despesas militares e a proliferação de conflitos, sanções e ameaças contra Estados soberanos são disso evidências.

Esta retórica militarista também cresce por cá, sendo exemplo a crescente subordinação do Governo português aos interesses da NATO, dos EUA e da UE, de que não está desligado o recente «debate» em torno da reintrodução do Serviço Militar Obrigatório no País.

E como falar de guerra é também falar de propaganda, de controlo da percepção e do pensamento de cada um, apelou-se também ao combate nesta vertente – através do esclarecimento e da mobilização das populações, a quem, aliás, «não interessa a guerra», como ali se afirmou: «São os trabalhadores e os povos quem mais sofre com as consequências da guerra. Mas há quem queira a escalada armamentista, com as sanções, com os massacres e a guerra. Há quem a promova, quem a imponha e quem lucre com ela. É a esses que temos de dar combate!»

Intensa actividade
Na véspera, no Porto, centenas de pessoas desfilaram entre a Praceta da Palestina e a Trindade com exigências semelhantes. O mesmo que fizeram, no dia 8, muitos outros em Coimbra, entre a Ponte de Santa Clara e a Praça 8 de Maio. No dia 9 teve lugar em acto público em Aveiro e a 11 uma concentração no Jardim das Rosas, em Torres Novas.

Entretanto, o CPPC tem marcados para as próximas semanas quatro concertos pela paz: no Porto, a 19 de Maio; em Coimbra, a 24 de Maio; em Gondomar, a 26 de Maio; e em Vila Nova de Gaia no dia 1 de Junho. Também o MPPM tem previstas várias iniciativas: até dia 18 promove nas instalações da BOTA, em Lisboa, juntamente com outras organizações, um ciclo de cinema palestiniano e uma exposição.


Portugal tem de reconhecer

O PCP esteve presente na manifestação de Lisboa com uma delegação dirigida pelo Secretário-Geral, Paulo Raimundo, que, em declarações aos jornalistas, condenou o «cinismo» e a «hipocrisia» com que vários países olham para este grave problema internacional, incluindo de certo modo o Governo português.

«Há um genocídio em curso e parece que há dois pesos e duas medidas em função de quem são os agressores e quem são os agredidos», afirmou. Paulo Raimundo insistiu na ideia de que não há nenhuma razão para Portugal não reconhecer «de uma vez por todas» o Estado da Palestina como um Estado independente.

«É Isso que é preciso fazer. Temos uma proposta na Assembleia da República para isso ser feito. Era o momento de dar esse passo», frisou.

 

Fim ao massacre e ao apartheid

35 mil mortos, 79 mil feridos e 11 mil desaparecidos: é este o «saldo» mais recente do massacre que prossegue à vista de todos na Faixa de Gaza, perpetrado por Israel com armamento (e apoio financeiro, diplomático e mediático) norte-americano e de diversos países da NATO e da União Europeia. Entre os mortos contam-se 14 mil crianças, mais de 250 trabalhadores de organizações humanitárias, quase 300 profissionais de Saúde e perto de uma centena de jornalistas.

A retirada das forças israelitas do que resta dos hospitais de Al-Shifa e Al-Nasser revelou um cenário terrível: centenas de corpos enterrados em valas comuns, incluindo de mulheres e crianças, com sinal de tortura e fortes indícios de que alguns possam mesmo ter sido enterrados vivos.

Mas há mais: 1,7 milhões de pessoas estão deslocadas (a população total do território é de 2,3 milhões) e mais de um milhão enfrenta uma situação de «insegurança alimentar catastrófica», agravada pelos obstáculos colocados pelas forças israelitas à entrada no território de ajuda humanitária. A Agência das Nações Unidas de Apoio aos Refugiados Palestinianos (UNRWA) estima que mais de 150 mil grávidas enfrentem condições sanitárias adversas, num momento em que os hospitais e centros médicos se encontram total ou parcialmente destruídos. A mesma agência garante que no mês de Março foram mortas, em média, 63 mulheres por dia.

Rafah, outrora a «zona segura» onde se concentraram em dramáticas condições de salubridade mais de um milhão de palestinianos fugidos dos bombardeamentos no Norte e no Centro do território, está agora sob fogo: não há para onde fugir na Faixa de Gaza, não há «zonas seguras», garantem responsáveis das Nações Unidas. Israel também continua a bombardear outras regiões, como Jabalia, a Norte, e Nuseirat, no Centro – onde foi atingida uma escola da UNRWA.

Já na semana passada, bandos sionistas atacaram as instalações da agência das Nações Unidas em Jerusalém Oriental.

Isolamento crescente
Israel está cada vez mais isolado internacionalmente. Há dias, na Assembleia Geral das Nações Unidas, foi aprovada uma resolução que concede «direitos e privilégios adicionais» ao Estado da Palestina, considerando-o qualificado para ser membro pleno da ONU. Apela também ao Conselho de Segurança a que reconsidere a adesão plena da Palestina à organização, pois numa recente votação neste órgão, o veto norte-americano travou essa pretensão).

O projecto de resolução, apresentado pelos Emirados Árabes Unidos (em nome do grupo de países árabes) e apoiado por muitos outros, obteve 143 votos favoráveis, nove contra e 25 abstenções. Votaram contra, entre outros, Israel, EUA, Argentina, República Checa e Hungria. Entre os países que optaram pela abstenção contam-se a Ucrânia, Reino Unido, Itália, Alemanha e Canadá. Portugal votou favoravelmente.

Entre 10 e 12 de Maio realizou-se em Joanesburgo, na África do Sul, a Conferência Global anti-apartheid na Palestina. Na abertura dos trabalhos, a ministra dos Negócios Estrangeiros sul-africana, Naledi Pandor, garantiu que «nunca foi tão urgente a unidade das forças progressistas de todo o mundo num esforço colectivo para exercer máxima pressão para pôr fim à campanha genocida que está em curso em Gaza e acabar com o sistema de apartheid praticado por Israel nos territórios ocupados».

Um pouco por todo o mundo continua a manifestar-se a solidariedade com o povo palestiniano. Os acampamentos prosseguem em dezenas de universidades norte-americanas, apesar da repressão e das prisões, e na cidade sueca de Malmö, onde se realizou o Festival Eurovisão da Canção, a participação de Israel foi fortemente contestada nas ruas.

O próprio festival ficou, aliás, marcado por diversos episódios de censura, que envolveram inclusivamente a participante portuguesa, Iolanda, que actuou na final com roupa produzida na Palestina e as unhas pintadas com o célebre padrão dos keffiehs palestinianos. A representante portuguesa terminou a sua participação em 10.º lugar.

 



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