Obra de Álvaro Cunhal é necessária para a intervenção no presente e no futuro

O PCP e as Edi­ções Avante! apre­sen­taram, no dia 6, o VII Tomo das Obras Es­co­lhidas de Álvaro Cu­nhal, que reúne textos e dis­cursos pro­du­zidos nos anos de 1976 e 1977. A ini­ci­a­tiva re­a­lizou-se pe­rante uma sala cheia da Casa do Alen­tejo, em Lisboa, a quatro dias do 110.º ani­ver­sário do nas­ci­mento do des­ta­cado di­ri­gente co­mu­nista.

O livro evi­dencia vá­rios de­sen­vol­vi­mentos po­lí­ticos de 1976 a me­ados de 1977

A Re­vo­lução de Abril e as suas con­quistas, o pro­cesso contra-re­vo­lu­ci­o­nário, a re­cu­pe­ração ca­pi­ta­lista e a res­tau­ração mo­no­po­lista, e a va­li­dade para todos os mo­mentos das pa­la­vras es­critas e ditas por Álvaro Cu­nhal há quase 50 anos – foram estes os temas que do­mi­naram as úl­timas in­ter­ven­ções da tarde, re­a­li­zadas por Paulo Rai­mundo, Se­cre­tário-Geral do PCP, e Fran­cisco Melo, Di­rector da Edi­to­rial Avante!.

Na sessão, em que também par­ti­ci­param Ida­lina Si­mões, da di­recção da Edi­to­rial Avante!, Rosa Ra­biais, da Co­missão Cen­tral de Con­trolo do PCP e que di­rigiu a sessão, e José Ca­pucho, do Se­cre­ta­riado e da Co­missão Po­lí­tica do Co­mité Cen­tral, abordou-se igual­mente a vi­tória do povo por­tu­guês contra a ti­rania, a opressão, a ex­plo­ração, o atraso e a sub­missão ao im­pe­ri­a­lismo e aos grandes grupos mo­no­po­listas e aos la­ti­fun­diá­rios, cor­po­ri­zados pela di­ta­dura fas­cista. Povo este que, com a Re­vo­lução, em­pre­endeu uma trans­for­mação pro­funda na so­ci­e­dade por­tu­guesa, no sen­tido do pro­gresso e da jus­tiça so­cial.

As in­ter­ven­ções ali pro­fe­ridas in­ci­diram sobre o pro­cesso da Re­vo­lução por­tu­guesa, no de­curso do qual Álvaro Cu­nhal teve um papel de­ter­mi­nante en­quanto Se­cre­tário-Geral do PCP, quer na con­quista, con­so­li­dação e de­fesa do re­gime de­mo­crá­tico, quer na efec­ti­vação das suas ex­tra­or­di­ná­rias re­a­li­za­ções e con­quistas.

«Mais um vo­lume da sua obra [de Álvaro Cu­nhal] que nos dá a co­nhecer, com ver­dade, a re­a­li­dade e os de­sa­fios desse tempo novo, onde a a classe ope­rária to­mava nas suas mãos, com con­tri­buto do nosso Par­tido, a de­mo­cra­ti­zação da so­ci­e­dade por­tu­guesa», cons­tatou Paulo Rai­mundo. «Uma ex­tra­or­di­nária ta­refa que teve que en­frentar e su­perar a acção gol­pista das forças da contra-re­vo­lução que tudo fi­zeram para manter in­to­cá­veis os in­te­resses da classe do­mi­nante no País», con­ti­nuou.

Po­lí­tica de classe de um go­verno

Ci­tando Álvaro Cu­nhal e com­pro­vando a ac­tu­a­li­dade das suas pa­la­vras, o Se­cre­tário-Geral do Par­tido re­lem­brou que o que «de­fine a po­lí­tica de classe de um go­verno é aquilo que ele faz e não aquilo que ele diz». Assim, «um go­verno que se afirma de es­querda e so­ci­a­lista, como o ac­tual de mai­oria ab­so­luta do PS», ques­ti­onou, «está ao ser­viço de quem?». «Um Go­verno que em vez de re­tomar o con­trolo pú­blico dos sec­tores es­tra­té­gicos da eco­nomia, opta por uma po­lí­tica eco­no­mi­ca­mente cri­mi­nosa de pri­va­ti­za­ções, como são os casos da TAP e da Efacec», acres­centou.

O di­ri­gente co­mu­nista abordou de­pois as op­ções do Go­verno e os in­te­resses que servem: «um Go­verno que em vez de au­mentar, de facto, sa­lá­rios e pen­sões, opta por ceder a exi­gên­cias do pa­tro­nato»; «que em vez de tomar me­didas para con­trolar os preços de bens es­sen­ciais, opta por re­mendos que mais não fazem do que pro­teger lu­cros»; «que em vez de re­vogar a ca­du­ci­dade da con­tra­tação co­lec­tiva e repor o prin­cípio do tra­ta­mento mais fa­vo­rável ao tra­ba­lhador, opta por manter as normas gra­vosas da le­gis­lação la­boral, a pre­ca­ri­e­dade e os ho­rá­rios des­re­gu­lados».

Esse é, acres­centou, «o mesmo Go­verno que em vez de ga­rantir o di­reito à ha­bi­tação, im­pedir o au­mento das rendas e fazer os lu­cros da banca su­portar o au­mento das taxas de juro, opta por os deixar in­to­cá­veis»; «que em vez de in­vestir nos ser­viços pú­blicos, no SNS e na Es­cola Pú­blica, opta por en­tregar aos grupos eco­nó­micos mais di­nheiro e re­cursos pú­blicos»; «que em vez de ga­rantir jus­tiça fiscal, que baixe o IRS para quem tra­balha, os im­postos para as micro, pe­quenas e mé­dias em­presas, o IVA da elec­tri­ci­dade, do gás e das te­le­co­mu­ni­ca­ções para todos, re­siste a taxar lu­cros ex­tra­or­di­ná­rios das grandes em­presas».

Ora, con­cluiu, «um Go­verno assim, com estas op­ções de fundo que em tudo são acom­pa­nhadas por PSD, CDS, Chega e IL, co­loca-se efec­ti­va­mente, não ao ser­viço dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País, mas sim ao lado e ao ser­viço dos grupo eco­nó­micos».

De 1976 a 1977

Usando da pa­lavra antes de Paulo Rai­mundo, o di­rector da Edi­to­rial Avante!, Fran­cisco Melo, acom­pa­nhou os de­sen­vol­vi­mentos his­tó­ricos e po­lí­ticos abor­dados nos vá­rios textos de Álvaro Cu­nhal reu­nidos neste tomo, que se inicia com a obra «A Re­vo­lução Por­tu­guesa, o Pas­sado e o Fu­turo», pu­bli­cado em No­vembro de 1976, e ter­mina com o dis­curso no co­mício do PCP de 2 de Agosto de 1977, re­a­li­zado no Pa­vi­lhão dos Des­portos, em Lisboa.

Na apre­sen­tação, abordou apenas al­gumas das te­má­ticas pre­sentes nos textos deste ex­tenso VII tomo: a di­nâ­mica da ali­ança Povo-MFA e a sua im­por­tância na re­a­li­zação das pro­fundas trans­for­ma­ções re­vo­lu­ci­o­ná­rias que o PCP, após o seu VI Con­gresso, re­a­li­zado em 1965, já pre­co­ni­zava; o al­cance e os re­sul­tados da Re­forma Agrária e da cam­panha de na­ci­o­na­li­za­ções; os erros e in­su­fi­ci­ên­cias da Re­vo­lução de Abril, como os ex­plica, na sua obra, Álvaro Cu­nhal; os con­frontos do 25 de No­vembro e a acção das forças con­ser­va­doras, de di­reita e re­ac­ci­o­ná­rias; a en­trada em vigor da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa; e a vi­ragem à di­reita do I Go­verno Cons­ti­tu­ci­onal do PS, que re­cusou uma ali­ança com o PCP e pro­curou apoio à di­reita. De acordo com a in­ter­venção de Fran­cisco Melo, todos estes acon­te­ci­mentos e ele­mentos estão pre­sentes, pelo prisma de Álvaro Cu­nhal, no VII tomo das suas obras es­co­lhidas.

«Por opção de classe do seu grupo di­ri­gente, o Go­verno do PS so­zinho con­ti­nuou a en­ve­redar pela in­tran­si­gência face às rei­vin­di­ca­ções e aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores, dos sin­di­catos, das or­ga­ni­za­ções das classes e ca­madas mé­dias, de que o PCP tinha dado e con­ti­nuava a dar provas, tal como hoje as dá, de ser o seu lí­dimo re­pre­sen­tante por ser o seu de­no­dado de­fensor em todas as cir­cuns­tân­cias», afirmou ao ter­minar o di­rector da edi­tora, tra­çando um pa­ra­le­lismo entre o I Go­verno Cons­ti­tu­ci­onal e o ac­tual Go­verno.

Afirmar le­gado de Álvaro Cu­nhal no seu 110.º ani­ver­sário

Como re­feriu Rosa Ra­biais na aber­tura da sessão, a apre­sen­tação do VII Tomo das Obras Es­co­lhidas de Álvaro Cu­nhal marca, desde já, um dos mo­mentos altos da ce­le­bração do 110.º ani­ver­sário do des­ta­cado di­ri­gente co­mu­nista, que se cumpre a 10 de No­vembro. Amanhã, pre­ci­sa­mente, re­a­liza-se a sessão pú­blica «O co­mu­nismo hoje e amanhã – A ac­tu­a­li­dade do le­gado de Álvaro Cu­nhal», em Viana do Cas­telo.

Re­feriu ainda que a re­a­li­zação de ini­ci­a­tivas de apre­sen­tação do livro abertas à par­ti­ci­pação de todos, em cada dis­trito, per­mi­tirão a abor­dagem dos di­versos temas por ele sus­ci­tados. E se­gu­ra­mente sus­ci­tarão o de­bate po­lí­tico e ide­o­ló­gico sobre o le­gado de Álvaro Cu­nhal, a sua obra, vida e o ines­ti­mável con­tri­buto que deu na luta do Par­tido para o der­rube do fas­cismo e para a Re­vo­lução do 25 de Abril.

 

Con­teúdo do VII Tomo

No con­texto em que se ce­lebra por todo o País, e com múl­ti­plas ini­ci­a­tivas, o 50.º Ani­ver­sário do 25 de Abril, este vo­lume das Obras Es­co­lhidas de Álvaro Cu­nhal, con­tri­buiu para um maior co­nhe­ci­mento sobre o pro­cesso re­vo­lu­ci­o­nário e o de­sen­ca­dear da contra-re­vo­lução.

Abran­gendo um pe­ríodo que vai de 1976 a me­ados de 1977, o vo­lume in­clui en­saios, ar­tigos, en­tre­vistas à co­mu­ni­cação so­cial (na­ci­onal e es­tran­geira) e dis­cursos em co­mí­cios e ini­ci­a­tivas do PCP, como o de en­cer­ra­mento da im­por­tante Con­fe­rência Na­ci­onal para a Re­cu­pe­ração Eco­nó­mica.

Com­pre­ende também o ex­tenso re­la­tório apro­vado pelo Co­mité Cen­tral do PCP ao VIII Con­gresso re­a­li­zado em 1976, texto que aliás abre o vo­lume, A Re­vo­lução Por­tu­guesa – O Pas­sado e o Fu­turo.

Este VII Tomo, man­tendo as ca­rac­te­rís­ticas dos an­te­ri­ores, é o maior pu­bli­cado até agora, com 914 pá­ginas, e, além de co­ligir textos até agora dis­persos, é ainda acom­pa­nhado por vá­rios ín­dices e mais de 900 notas, que per­mi­tirão a quem lê uma me­lhor com­pre­ensão dos textos.

O Tomo I das Obras Es­co­lhidas de Álvaro Cu­nhal com­pila textos da­tados de 1935 a 1947; o II de 1947 a 1964; o Tomo III de 1964 a 1966; o Tomo IV de 1967 a 1974; o Tomo V reúne textos pro­du­zidos nos anos de 1974 e 1975; e o VI abrange o ano de 1976.

 

Co­nhecer o pas­sado para per­ceber o pre­sente

«O pre­sente vo­lume que hoje é aqui apre­sen­tado per­mite ver e con­firmar quão ac­tuais estão as ideias e po­si­ções aqui ex­pressas.

Per­mite per­ceber o acerto de aná­lise, não por exer­cí­cios de adi­vi­nhação, mas porque a lei­tura dos acon­te­ci­mentos séria, ri­go­rosa, re­a­lista, en­ri­que­cida co­lec­ti­va­mente, de classe, di­a­léc­tica, con­tinua a re­velar-se a mais acer­tada e a que per­mite uma me­lhor in­ter­venção sobre a re­a­li­dade para a poder trans­formar.

Per­mite per­ceber que quase 50 anos de­pois de estas li­nhas que hoje pu­bli­camos terem sido es­critas e pro­fe­ridas, vale a pena co­nhecê-las, ajuda-nos a per­ceber a re­a­li­dade em que in­ter­vimos, sem cultos nem sau­do­sismos, mas com per­feita cons­ci­ência do re­le­vante, rico e in­subs­ti­tuível con­tri­buto do ca­ma­rada Álvaro Cu­nhal para co­nhecer o que se passou nesse pe­ríodo e assim me­lhor co­nhecer os tempos que vi­vemos e pro­jectar um fu­turo me­lhor para o nosso povo e o País.»

Paulo Rai­mundo, Se­cre­tário-Geral do PCP, na sessão de apre­sen­tação do livro

 



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