PCP pede intervenção do Governo nos custos à produção do leite
Durante uma visita a uma exploração leiteira em Alfeizerão, Alcobaça, o Secretário-Geral do PCP defendeu que o Governo do PS pode e deve intervir nos custos à produção do leite. Se nada for feito, mais explorações vão encerrar.
«O custo de produção de uma vaca subiu cerca de 60 por cento»
A iniciativa, em Valado de Santa Quitéria, realizou-se na quinta-feira, 19, no âmbito da campanha «Viver melhor na nossa terra», e foi acompanhada pelo proprietário da vacaria e queijaria, Jorge Silva, que é também presidente da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP).
Durante a visita, explicou a Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP, que o leite está a ser vendido pelo produtor a 46 ou 47 cêntimos, apesar de os custos de produção por vaca rondarem os 56 cêntimos. João Frazão, da Comissão Política, e Luís Caixeiro, do Comité Central e responsável pela Organização Regional de Leiria, integraram a delegação do Partido.
Nos últimos cinco meses, o preço do leite pago aos produtores (entre os 46 e os 47 cêntimos por litro) já desceu cerca de 11 cêntimos, sem registar idênticoabaixamento nos custos de produção. Pelo contrário, tudo está mais caro, nomeadamente o gasóleo, a palha e as forragens para os animais. Segundo Jorge Silva, «o custo de produção de uma vaca subiu cerca de 60 por cento», logo «o leite também tinha que aumentar».
Entretanto, segundo um estudo da Cadeia de Valor de Leite UHT, a indústria e distribuição mantêm margens positivas e os prejuízos são sempre para os produtores. Também a European Milk Board, associação de produtores de leite europeus onde está filiada a APROLEP, alertou para a «terrível situação do mercado dos lacticínios no que respeita aos preços do leite».
Para este produtor, o Governo tem que tomar medidas«se quiser manter a produção de leite nacional», que podem passar, na sua opinião, «por apoios para compensar as perdas» ou «distribuição de resultados» entre a produção, «o sector mais fraco e que mais sofre», a indústria e a distribuição.
Propostas
Osector leiteiro perdeu, nas últimas duas décadas, mais de 90 por cento dos produtores, passando de mais de 70 mil para pouco mais de três mil. Nos últimos dois anos registaram-se fechos na ordem das 200 empresas por ano. Além do abandono de vastas áreas do território, esta situação coloca também novos problemas face à concentração das explorações.
Com esta visita, o PCP quis associar-se a «este grito de alma» dos produtores de leite, que, «com muito esforço e trabalho», continuam a produzir, todos os dias, mesmo «a perder dinheiro». Neste sentido, o Governo tem a obrigação de «intervir em duas linhas: nos custos dos factores de produção» e na «pressão política», no sentido de criar condições «para que o preço à produção seja mais elevado», o que «obrigaria a fixar os preços na distribuição».
Relativamente ao peso dos factores de produção, o Executivo PS «podia e devia» intervir do ponto de vista dos combustíveis e na «compra conjunta dos factores de produção», o que permitiria «vendê-los aos produtores a preços mais acessíveis».
Paulo Raimundo repartiu a responsabilidade da crise no sector entre o Governo, do PS, o PSD, o Chega e a IL, que, neste caso concreto, «alinham profundamente» com as «opções erradas que apertam os produtores e acabam por apertar as nossas vidas». «Estamos perante um sector que ainda é autosuficiente na produção de leite para consumo pela dedicação destes produtores», valorizou.