República da Guiné-Bissau – um Estado forjado na luta
Completam-se dentro de dias, a 24 de Setembro, 50 anos sobre a proclamação do Estado da Guiné-Bissau, ainda durante a luta armada de libertação nacional dirigida pelo PAIGC contra a dominação colonial portuguesa.
Amílcar Cabral, o dirigente revolucionário que encabeçou o combate independentista na Guiné e em Cabo Verde, destacava, na sua mensagem de Ano Novo, no início de 1973, a originalidade do caminho para a independência da sua pátria. «Da situação de colónia que dispõe de um movimento de libertação e cujo povo já libertou em 10 anos de luta armada a maior parte do seu território nacional, vamos passar à situação de um país que dispõe do seu Estado e que tem uma parte do seu território nacional ocupado por forças armadas estrangeiras», explicava. E avisava que «nada, nenhuma acção criminosa ou manobra ilusionista dos colonialistas portugueses, poderá evitar que o nosso povo africano, dono do seu próprio destino e consciente dos seus direitos e deveres, dê esse passo transcendente e decisivo para a realização do objectivo fundamental da nossa luta: a conquista da independência nacional e a construção, na paz e na dignidade reconquistadas, do seu progresso verdadeiro, sob a direcção exclusiva dos seus próprios filhos, sob a bandeira gloriosa do nosso Partido».
De nada valeu ao colonialismo português que agentes seus tenham assassinado cobardemente Amílcar Cabral, a 20 de Janeiro de 1973, poucos dias depois de proferir essas palavras. Apesar do seu crime ignóbil, o Estado fascista colonialista não conseguiu impedir o avanço vitorioso da luta emancipadora dos povos guineense e cabo-verdiano e, ao contrário, provocou a sua aceleração.
Em resposta ao desaparecimento do seu líder, o PAIGC intensificou o combate político e militar em todas as frentes, realizou o seu 2.º Congresso e reuniu, nos dias 23 e 24 de Novembro desse ano, nas áreas libertadas do Boé, a primeira Assembleia Nacional Popular do país. Esse parlamento, que contava apesar da guerra com uma maioria eleita de deputados, aprovou a Constituição, constituiu o governo e proclamou o Estado da Guiné-Bissau, logo a seguir reconhecido pela Organização das Nações Unidas.
O nascimento da República da Guiné-Bissau contribuiu para um mais rápido avanço da História. Poucos meses depois, a 25 de Abril de 1974, culminando décadas de resistência e luta dos trabalhadores e do povo contra o fascismo, o Movimento das Forças Armadas dirigiu o levantamento militar que derrubou a ditadura fascista e com aliança Povo/MPA, abriu caminhos para a conquista da liberdade, da paz e da democracia, os caminhos da Revolução de Abril. Pouco depois, as novas autoridades portuguesas e os movimentos de libertação (PAIGC, MPLA, FRELIMO e MLSTP) entabularam conversações. A 10 de Setembro de 1974, Portugal reconheceu a independência da Guiné-Bissau e, ao longo de 1975, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola tornaram-se independentes. O colonialismo português em África foi, assim, derrotado e liquidado.
Hoje, a Guiné-Bissau, Estado forjado na luta, festeja meio século de existência e o seu povo generoso continua – apesar dos problemas herdados da dominação estrangeira e das novas dificuldades e contradições – a construir o desenvolvimento, a paz e o progresso social, aspirações comuns a todos os povos do mundo.