Laicicismos
Há por aí quem reduza a Jornada Mundial da Juventude às polémicas sobre gastos e contratação pública. Matérias não desvalorizáveis, que deverão ter esclarecimento sobre aspectos da organização do evento, não justificam a submersão de conteúdos e a imposição de um manto de silêncio sobre o que no seu âmbito tem sido afirmado.
Independentemente de enquadramentos e fundamentos distintos, de visões diversas quanto à identificação das causas em que radicam problemas assinalados, a verdade é que muito do que o Papa Francisco disse incomodará os que seguem a cartilha dominante. Um desconforto traduzido numa selectiva ocultação dessas palavras. O apelo à Paz e o questionamento feito pelo Papa a quem na Europa e no Ocidente prefere os conflitos e o armamento em vez do investimento no combate às desigualdades, a desumana relação com as migrações de que o drama do Mediterrâneo é expressão visível, o ambiente enquanto garantia às novas gerações uma vida sadia e com dimensão social, são palavras com significado.
Deixemos as mistificações. Não há nenhuma confusão sobre laicidade do Estado, separação da(s) igreja(s) e Estado. Há apenas que reconhecer que no tempo em que vivemos esta Jornada ultrapassa os limites da religião, constitui um momento de convívio, solidário e multicultural, a que não se deve ser indiferente. Os incómodos reais na vida dos que cá estão resultam, não tanto da presença de outros, mas das insuficiências de infra-estruturas e serviços. Não é preciso haver jornadas para se conhecer dificuldades de mobilidade ou acesso a cuidados de saúde.