África contribui para a paz mundial

Carlos Lopes Pereira

Realizou-se esta semana, em Luanda, uma reunião de dirigentes de quatro organizações africanas, com o objectivo de harmonizar as iniciativas de paz relativas à situação na República Democrática do Congo.

Participaram chefes de Estado da Comunidade da África Oriental, da Comunidade Económica dos Estados da África Central, da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, além de responsáveis da União Africana e observadores das Nações Unidas.

Precedido por encontros preparatórios de ministros dos Negócios Estrangeiros, da Defesa e do Interior dos países envolvidos, o fórum quadripartido debateu a coordenação de esforços indispensável à concretização da paz no Leste do Congo, país que, devido à cobiça que despertam as suas imensas riquezas naturais, é flagelado desde há décadas por ingerências, golpes, agressões e guerras, em especial na zona oriental do seu vasto território.

Esta cimeira foi a mais recente diligência levada a cabo pelos países do continente no sentido de cumprir o compromisso de «silenciar as armas em África», propósito contudo ainda longe de ser atingido.

Mas os Estados africanos – ao mesmo tempo que reclamam maior e melhor representação em organismos multilaterais como o Conselho de Segurança da ONU e exigem a reforma de instituições ao serviço das grandes potências «ocidentais» como o FMI e o Banco Mundial – intervêm cada vez mais na busca da paz não só em África como também em outras partes do mundo.

É disso exemplo a missão africana que se deslocou a Kiev e a Moscovo, procurando contribuir para a solução do conflito na Ucrânia, que ameaça escalar para uma guerra de proporções ainda maiores e que, desde já, afecta a África ao bloquear a exportação de cereais e fertilizantes russos para países do continente.

A missão foi constituída pelos chefes de Estado da África do Sul, Cyril Ramaphosa; do Senegal, Macky Sall; da Zâmbia, Hakainde Hichilema; das Comores, e também da União Africana, Azali Assoumani, assim como pelo primeiro-ministro do Egipto, Mostafá Madbuli, e por representantes do Uganda e do Congo. Reuniu-se no dia 16, em Kiev, com o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, e no dia seguinte, em Moscovo, com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Apresentou uma proposta para resolução da crise que inclui 10 pontos sobre garantias de segurança; liberdade de circulação de cereais pelo Mar Negro; libertação de prisioneiros de guerra; e o imediato início de negociações entre os dois lados.

Para Ramaphosa, a proposta apresentada pelos dirigentes africanos «estabeleceu a base para futuras interacções que contribuam para encontrar o caminho da paz e resolver este conflito devastador». Já Putin asseverou que a Rússia «saúda a equilibrada abordagem do conflito pelos países africanos» e indicou que o desenvolvimento das relações com os Estados africanos constitui uma «prioridade» para Moscovo.

Precisamente, de 26 a 29 de Julho vai decorrer, em São Petersburgo, a II Cimeira Rússia-África e um Fórum Económico e Humanitário, evento que a diplomacia africana e russa tem vindo a preparar em conjunto. Será, decerto, ocasião para o fortalecimento da já antiga cooperação russo-africana e uma oportunidade de a África continuar a contribuir para a procura da paz mundial.

 



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