Câncio, os métodos e as fontes

Nesta coluna não é hábito tratar-se episódios de manipulação e discriminação na comunicação social numa abordagem que centra o problema no jornalista, até porque a realidade é estrutural, mas há casos tão reveladores que merecem um olhar mais detalhado.

Fernanda Câncio é jornalista do DN, mas também tem um espaço de opinião no jornal que nos dá um vislumbre de métodos e preconceitos presentes nas redacções. No seu texto da última terça-feira, dia 20, escreveu sobre a posição do PCP face à guerra e a natureza do poder ucraniano, a propósito da declaração em resposta à provocação da presidente do Parlamento Europeu dirigida ao PCP, numa sessão solene em que foi recebida na Assembleia da República.

Câncio começa por questionar a afirmação de que o poder ucraniano promove a prisão e assassinato de opositores a partir de um estranho argumento para uma jornalista de investigação: não conhece. Suscitada a dúvida pediu pistas no Twitter e escreveu uma página no jornal a partir do que encontrou no Google e das respostas que recebeu numa rede social. De facto, a partir do que ela própria obteve com a sua pesquisa, encontrou referências várias a prisões e assassinatos promovidos pelas autoridades ucranianas, mas lamentou não ter encontrado «uma única notícia de fontes jornalísticas fiáveis», apesar de ter encontrado mais do que eventualmente esperava.

No final, acusou o PCP de «falsear» e «inventar», o que «lhe tira razão quando denuncia o facto de haver tão poucas notícias, e tão pouca investigação jornalística, sobre os desmandos e as suspeitas de desmandos». Ou seja, a jornalista de investigação reconhece que os média dominantes ignoram muito do que se passa na Ucrânia, apesar da «denúncia, por agências de direitos humanos e investigações jornalísticas, de mortes resultantes de tortura e negligência por polícias e guardas prisionais ucranianos», mas é o PCP que mente e inventa.

Mas o texto de Câncio tem o mérito de nos dar elementos para perceber como se fazem notícias nos meios dominantes. Estranhando que a resposta do PCP à presidente do Parlamento Europeu não tenha sido notícia e que a denúncia de prisões e assassinatos de opositores na Ucrânia não tenha sido objecto de investigação, avança com duas hipóteses de explicação: ou toda a gente sabe do que o PCP fala quando o denuncia, e portanto não é preciso investigar nada, ou toda a gente sabe que «o que o PCP diz sobre a Ucrânia não é para ligar». Conclui que, «como não será a primeira, parece claro que é a segunda».

Não podemos deixar de concordar, mas até se pode generalizar a afirmação bem para lá das fronteiras da Ucrânia: ainda esta semana tivemos um bom exemplo, com o apagão mediático em torno do centenário de José Dias Coelho. Nem a efeméride nem a iniciativa que o PCP realizou no domingo foram notícia, apesar da reconhecida obra e dimensão criadora de Dias Coelho nas artes plásticas, na resistência antifascista e, quando se assinalam os 50 anos do 25 Abril, por ter sido um dos presos e assassinados pelo fascismo português.

Resta uma questão: afinal, onde estão as tais «fontes jornalísticas fiáveis» em que Câncio confia?



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