Colômbia e guerrilha do ELN assinam em Havana cessar-fogo

A terceira fase dos Diálogos de Paz terminou em Havana com a assinatura de um acordo de cessar-fogo entre o Estado colombiano e o movimento guerrilheiro ELN. O processo de paz vai prosseguir agora com mais conversações, na Venezuela.

Processo de paz vai prosseguir, na Venezuela, com nova ronda de conversações

Representantes do Estado da Colômbia e do Exército de Libertação Nacional (ELN) chegaram a acordo, em Havana, no dia 9, sobre um cessar-fogo bilateral. O acordo foi alcançado durante o terceiro ciclo dos Diálogos de Paz que decorriam desde 2 de Maio e terminaram agora na capital cubana com a presença dos presidentes de Cuba, Miguel Diaz-Canel, e da Colômbia, Gustavo Petro.

Os negociadores do governo colombiano e do ELN assinaram os Acordos de Havana, que estabelecem a participação da sociedade colombiana no processo de paz e o cessar-fogo bilateral e temporário em todo o país.

Foi decidido também realizar-se um quarto ciclo da mesa dos Diálogos de Paz, que decorrerá na Venezuela, entre 14 e 23 de Agosto, durante o qual se fará o balanço dos acordos aprovados até agora.

O documento prevê um cronograma que permitirá a inclusão do conjunto da sociedade colombiana na construção da paz, através da convocatória e instalação, no próximo dia 25, de uma comissão nacional de participação.

Os convénios assinados prevêem a activação de um canal de comunicação entre as partes, a redacção de protocolos pendentes, o início de acções de pedagogia e a aplicação prática de mecanismos de monitorização e verificação do cessar-fogo nacional e temporário alcançado entre o governo colombiano e o ELN.

O negociador-chefe do ELN, Pablo Beltrán, afirmou no acto de encerramento do terceiro ciclo dos Diálogos de Paz que o movimento continua a exigir a retirada de Cuba da injusta lista, elaborada pelos Estados Unidos da América, de países que supostamente patrocinam o terrorismo.

Por sua parte, o presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel, afirmou que o seu país jamais incumprirá os compromissos contraídos pelas partes no processo de paz entre a Colômbia e o ELN. O dirigente cubano exortou os dois lados a aproveitar o momento especial que o país sul-americano vive e a impulsionar a tão ansiada paz na sociedade colombiana.

Já o chefe do Estado colombiano, Gustavo Petro, qualificou como um acto de profunda injustiça que deve ser emendado a inclusão de Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo que os EUA insistem em manter. Considerou que a ilha «recebeu uma punhalada nas costas» por parte do anterior presidente colombiano, que propiciou a inclusão de Cuba nessa lista, quando na verdade Havana contribuiu decisivamente para o processo de pacificação na Colômbia. Petro revelou que manteve esta posição de rejeição da medida coercitiva dos EUA quando se reuniu, recentemente, na Casa Branca, com o presidente norte-americano.

 

Manifestações em todo o país de apoio ao governo de Gustavo Petro

Apoiar as reformas sociais propostas pelo governo foi o propósito central das grandes manifestações populares que tiveram lugar, no dia 7, na Colômbia.

As reformas, nas áreas da saúde, do trabalho e da protecção social, estão a ser debatidas no parlamento colombiano, num contexto político de fortes ataques da extrema-direita ao governo. Se forem aprovadas, transformarão radicalmente o acesso dos cidadãos aos cuidados sanitários, a empregos dignos e a reformas dignas.

As grandiosas manifestações de apoio às políticas do presidente Gustavo Petro ocorreram nas principais cidades colombianas.

Na capital, Bogotá, o desfile popular partiu do Parque Nacional e seguiu até à Praça Bolívar, com os manifestantes empunhando cartazes a apoiar o governo e bandeiras colombianas, e integrou grupos musicais e de batucadas, que encheram de colorido a Sétima Avenida, ao longo da qual a população se mobilizou.

«Eu desfilo a favor das reformas, pela mudança, em apoio a Petro», foi uma das muitas consignas entoadas pelos manifestantes, oriundos de diversos sectores sociais. Tal como havia prometido, o presidente, acompanhado da vice-presidente e de vários membros do governo, assim como congressistas do Pacto Histórico, juntaram-se à marcha.

A Praça Bolívar foi pequena para a enorme demonstração de apoio, em que participaram jovens, povos originários, sindicalistas, donas de casa e muitas outras pessoas que confiam nas propostas de mudança governamentais. Expressaram o seu apoio em especial às reformas nos sectores da saúde, do trabalho e das pensões, que estão em debate no Congresso e que as forças da direita, na oposição, rejeitam.

O líder da Central Unitária de Trabalhadores, Francisco Maltés, tinha convocado a população colombiana a apoiar as reformas sociais defendidas pelo governo. A este apelo responderam afirmativamente outras organizações sindicais, congressistas, estudantes, mulheres, partidos políticos e diversos sectores que votaram por Petro e suas políticas e se opõem às acções desestabilizadoras denunciadas pelo Pacto Histórico, a aliança das forças progressistas colombianas.

 

Presidente alerta contra golpe de Estado «brando»

Gustavo Petro destacou o enorme apoio popular ao seu governo e salientou que o povo que o elegeu continua com ele. A sua intervenção teve lugar na Praça Bolívar, em Bogotá, onde dezenas de milhares de pessoas se reuniram para respaldar as propostas a favor das maiorias.

Assegurou que tanto ele como o povo querem tornar realidade o programa de governo pelo qual a maioria dos cidadãos votou nas urnas. «Esse programa diz que a Colômbia deve ser uma potência mundial da vida. Esse programa diz que, para ser potência mundial da vida, a Colômbia deve estar em paz», insistiu Petro, interrompido diversas vezes por aplausos.

Ao referir-se a recentes sondagens e informações de alguns meios de comunicação, sublinhou que o povo colombiano não abandonou o governo e continua maioritariamente de pé, na luta pela justiça e a paz. «Querem destruir o apoio popular ao governo, isolar o governo do seu povo para derrotar as reformas de justiça social e submeter os congressistas ao grande capital», alertou. E advertiu que as extrema-direita colombiana procura executar um «golpe brando», um golpe de Estado, um golpe contra a vontade popular, semelhante ao que ocorreu no Peru contra Pedro Castillo.

«Saibam que Petro não está só e, se se atreverem a violar o mandato popular, o povo da Colômbia sairá de cada rincão a defender, com as suas mãos limpas, alegres e sem violência, o triunfo e o mandato popular», garantiu o presidente. E repisou: «O povo colombiano decidiu a mudança. (…) Que não se atrevam a romper a democracia na Colômbia, porque enfrentarão um gigante: o povo da Colômbia».

 



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