África do Sul na mira de sanções dos EUA

Carlos Lopes Pereira

Não são novidade as sanções unilaterais e ilegais impostos pelos EUA a países que não aceitam submeter-se aos seus ditames e rejeitam as suas políticas agressivas visando a hegemonia mundial.

Sabem-no por experiência própria os povos de Cuba, Nicarágua e Venezuela, na América; do Irão, no Médio Oriente; e, mais recentemente, da China e Rússia, potências apontadas pelo imperialismo norte-americano como principais inimigos estratégicos.

Na mira de medidas punitivas dos EUA está agora a África do Sul.

Noticiam jornais norte-americanos que alguns congressistas, dos partidos Democrata e Republicano – de facto, ambos pertencentes ao partido único da guerra e dos negócios –, enviaram uma carta pedindo que o presidente Biden castigue a África do Sul pelas suas boas relações com a Rússia.

O primeiro «castigo» seria transferir para outro país a realização de uma conferência comercial, relacionada com a Lei para Crescimento e Oportunidades em África (AGOA, na sigla em inglês), legislação que possibilita o comércio com tarifas alfandegárias reduzidas entre os EUA e diversos países africanos. As reuniões anuais dos Estados envolvidos nesses negócios realizam-se alternadamente nos EUA e na África do Sul.

Segundo o diário The New York Times, fiel porta-voz das elites norte-americanas, «esta é a primeira tentativa concreta de represálias por parte de membros da administração face à crescente opinião em Washington de que a relação entre a África do Sul e a Rússia avança numa direcção que ameaça os interesses nacionais dos EUA».

Os congressistas advertiram a Casa Branca de que Pretória está «em risco de perder os benefícios» do AGOA. As exportações da África do Sul para os EUA ultrapassam os três mil milhões de dólares por ano. O país norte-americano é o segundo maior parceiro comercial da África do Sul. O primeiro é a China.

Os EUA criticam a África do Sul por ter participado em Fevereiro num exercício naval com a China e a Rússia (aliás, previsto há muito). Acusam Pretória, sem provas, de ter fornecido armas a Moscovo. E insistem que o governo sul-africano apoia a Rússia no conflito na Ucrânia, embora Pretória desminta, reafirme a sua posição de não-alinhamento e clarifique que as Nações Unidas não impuseram sanções contra a Rússia e o que há, nesse campo, são medidas coercivas unilaterais, as quais a África do Sul não acompanha.

Na verdade, com pressões políticas e diplomáticas, abertas ingerências e sanções económicas, os EUA pretendem que a África do Sul tome posição contra a Rússia e a China. Neste quadro, tentam também sabotar a próxima cimeira dos BRICS, prevista para Agosto, em Joanesburgo. E não vêem com bons olhos a iniciativa africana de enviar proximamente a Moscovo e Kiev uma missão de paz, formada por seis chefes de Estado, liderados pelo presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, que procurará contribuir para uma solução pacífica de um conflito que atinge de forma indirecta a África.

Tal como outros países do continente, a África do Sul não se deixará intimidar pelas ameaças de Washington. Entre outras razões, porque o seu povo e os seus dirigentes têm memória histórica e não se esquecem de quem esteve a seu lado durante a luta contra o sanguinário regime do apartheid e de quem apoiou a minoria racista ao longo de décadas.

 



Mais artigos de: Internacional

Colômbia e guerrilha do ELN assinam em Havana cessar-fogo

A terceira fase dos Diálogos de Paz terminou em Havana com a assinatura de um acordo de cessar-fogo entre o Estado colombiano e o movimento guerrilheiro ELN. O processo de paz vai prosseguir agora com mais conversações, na Venezuela.

PAICG e aliados vencem na Guiné-Bissau

A coligação PAI – Terra Ranka, encabeçada pelo PAIGC, ganhou com maioria absoluta as eleições legislativas na Guiné-Bissau, conquistando 54 dos 102 lugares do parlamento guineense. Aguarda-se agora a formação de um novo governo.

Assange luta contra extradição para EUA

Julian Assange, preso em Londres, prossegue a luta para evitar que as autoridades do Reino Unido o extraditem para os EUA. A defesa do fundador da WikiLeaks apresenta esta semana mais um recurso.

Fim do envio de armas para a Ucrânia e acordo de paz, pedem militares espanhóis

Militares reformados de distintos ramos das Forças Armadas espanholas assinaram um manifesto em que pedem à União Europeia que pare o envio de armas para a Ucrânia, com o objectivo de alimentar a guerra, e centre os esforços em conseguir um acordo de paz que ponha fim a «esta loucura». Entre os subscritores, informa o...

A composição futura do Parlamento Europeu

Tendo no horizonte as eleições que decorrerão entre os dias 6 e 9 de Junho de 2024, foi votada a proposta de composição do Parlamento Europeu (PE) para o mandato 2024-2029. Esta proposta insiste em manter e acentuar desequilíbrios e distorções já hoje existentes, tendentes a reforçar o peso dos Estados-Membros que, no...