África do Sul na mira de sanções dos EUA
Não são novidade as sanções unilaterais e ilegais impostos pelos EUA a países que não aceitam submeter-se aos seus ditames e rejeitam as suas políticas agressivas visando a hegemonia mundial.
Sabem-no por experiência própria os povos de Cuba, Nicarágua e Venezuela, na América; do Irão, no Médio Oriente; e, mais recentemente, da China e Rússia, potências apontadas pelo imperialismo norte-americano como principais inimigos estratégicos.
Na mira de medidas punitivas dos EUA está agora a África do Sul.
Noticiam jornais norte-americanos que alguns congressistas, dos partidos Democrata e Republicano – de facto, ambos pertencentes ao partido único da guerra e dos negócios –, enviaram uma carta pedindo que o presidente Biden castigue a África do Sul pelas suas boas relações com a Rússia.
O primeiro «castigo» seria transferir para outro país a realização de uma conferência comercial, relacionada com a Lei para Crescimento e Oportunidades em África (AGOA, na sigla em inglês), legislação que possibilita o comércio com tarifas alfandegárias reduzidas entre os EUA e diversos países africanos. As reuniões anuais dos Estados envolvidos nesses negócios realizam-se alternadamente nos EUA e na África do Sul.
Segundo o diário The New York Times, fiel porta-voz das elites norte-americanas, «esta é a primeira tentativa concreta de represálias por parte de membros da administração face à crescente opinião em Washington de que a relação entre a África do Sul e a Rússia avança numa direcção que ameaça os interesses nacionais dos EUA».
Os congressistas advertiram a Casa Branca de que Pretória está «em risco de perder os benefícios» do AGOA. As exportações da África do Sul para os EUA ultrapassam os três mil milhões de dólares por ano. O país norte-americano é o segundo maior parceiro comercial da África do Sul. O primeiro é a China.
Os EUA criticam a África do Sul por ter participado em Fevereiro num exercício naval com a China e a Rússia (aliás, previsto há muito). Acusam Pretória, sem provas, de ter fornecido armas a Moscovo. E insistem que o governo sul-africano apoia a Rússia no conflito na Ucrânia, embora Pretória desminta, reafirme a sua posição de não-alinhamento e clarifique que as Nações Unidas não impuseram sanções contra a Rússia e o que há, nesse campo, são medidas coercivas unilaterais, as quais a África do Sul não acompanha.
Na verdade, com pressões políticas e diplomáticas, abertas ingerências e sanções económicas, os EUA pretendem que a África do Sul tome posição contra a Rússia e a China. Neste quadro, tentam também sabotar a próxima cimeira dos BRICS, prevista para Agosto, em Joanesburgo. E não vêem com bons olhos a iniciativa africana de enviar proximamente a Moscovo e Kiev uma missão de paz, formada por seis chefes de Estado, liderados pelo presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, que procurará contribuir para uma solução pacífica de um conflito que atinge de forma indirecta a África.
Tal como outros países do continente, a África do Sul não se deixará intimidar pelas ameaças de Washington. Entre outras razões, porque o seu povo e os seus dirigentes têm memória histórica e não se esquecem de quem esteve a seu lado durante a luta contra o sanguinário regime do apartheid e de quem apoiou a minoria racista ao longo de décadas.