Cowboiadas
Entretidos que andarão com os rocambolescos acontecimentos no Ministério das Infraestruturas, reportados nas suas diversas versões em função da visão de cada guionista, pouco espaço sobrará para escrutinar o que de substancial e politicamente relevante fica submerso. É uma evidência difícil de negar que a narrativa fará inveja a muitas produções holiwoodescas, seja a que preencheria em parte o que é próprio de westerns (fazendo juz à nossa costela ocidental que a designação do estilo traduz, seja na já referida, seja na de far west) seja em filmografia que celebrizou Al Capone.
Na vertigem do que se vai registando e acrescentando – o conhecido ditado «quem conta um conto acrescenta um ponto» tem, na criação jornalística, perfeita realização – não faltam narrações sobre portáteis surripiados, níveis de confidencialidade da informação aí transportada, quebra da pacatez ministerial por berrarias e correrias diversas, a persistente dúvida que corrói a investigação mediática sobre o eventual sequestro de funcionárias ou a mera procura de refúgio nas instalações sanitárias do gabinete. Ao que ainda se deverá de aduzir, por fim mas não menos importante, a reportada mobilização de forças de ordem, que do porteiro do Ministério à PSP, da Judiciária ao SIS, se terão visto metidos ao barulho, num alvoroço tal que só pelas razões que se conhecem – avaria de motores e falta de combustível – a corveta Mondego não terá sido chamada ao local.
Como as palavras são como as cerejas, perdida terá ficado o que antes do desenrolar de texto se queria sublinhar. Ou seja, a forma despercebida com que passou a tantos e zelosos escrutinadores mediáticos, a significativa razão que no rescaldo da desarmonia ministerial terá levado Costa a depositar todas as fichas no seu ministro Galamba – a de ver nele, como quis explicitar, a pessoa a quem confia como principal missão a de levar até ao fim o criminoso processo de privatização da TAP.