«Inteligência artificial»

Filipe Diniz

A primeira advertência que há a fazer neste texto é que não se irá falar da muito séria questão da inteligência artificial senão em termos de semântica: as duas palavras juntas podem ter vários sentidos.

Ou seja: quando vemos o cortejo da generalidade dos comentadores encartados nos media dominantes, é quase irresistível encontrar um paralelo no mundo biológico. Há desde gorilas a cobras e ratazanas. Mas a empresa Boston Dynamics dos EUA fabrica coisas que fornecem outro paralelo no mundo da robótica: um robot antropomórfico (Atlas) e outro como um cão (Spot). Ambos não têm cabeça – o Spot é até vulgarmente conhecido como «cão sem cabeça», o que é verdadeiramente emblemático no nome e na função.

A Boston Dynamics sabe o caminho do lucro. Os seus robots são apresentados quase como brinquedos, mas é no negócio da guerra que ambicionam prosperar. E o mesmo se passa com os comentadores «sem cabeça». Trabalham numa base bastante limitada de «inteligência artificial»: o que têm a dizer gostaria de adaptar-se à realidade, mas chega demasiado formatado das mesmas centrais e isso vê-se cada vez mais. E até pode suceder que esta palavra «inteligência» tenha maior proximidade com os chamados «serviços de inteligência» do que com qualquer outra coisa.

Às vezes os mais toscos são os melhores exemplos. Um agora «jornalista» que antes integrou o governo Passos/Portas dá uma entrevista com pretensões «geopolíticas» (Sábado, 11.05.2023) que culmina com esta robótica enormidade dirigida ao PCP: «temos um partido alinhado com o nosso inimigo geopolítico, que julgo que trabalha directamente com as autoridades russas. […] Não há um pedido de responsabilidades.»

Será «inteligência artificial» ou genuína imbecilidade?

 



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