Ofensiva dos EUA em África

Carlos Lopes Pereira

Os Es­tados Unidos da Amé­rica in­ten­si­ficam a ofen­siva di­plo­má­tica em África, com o ob­jec­tivo de­cla­rado de con­tra­ba­lançar a cres­cente «in­fluência» da China e da Rússia no con­ti­nente.

Nesta se­mana, o se­cre­tário de Es­tado norte-ame­ri­cano, An­tony Blinken, des­locou-se à Etiópia, país que mantém ex­ce­lentes re­la­ções de ami­zade com a China.

Nem de pro­pó­sito, dias atrás foi co­me­mo­rado em Adis Abeba o quinto ani­ver­sário da li­gação fer­ro­viária entre a ca­pital etíope e o Dji­buti. Cons­truída em co­o­pe­ração com a China, a elo­giada fer­rovia, num per­curso de 750 qui­ló­me­tros, con­tribui para a in­te­gração re­gi­onal e para o fo­mento das trocas co­mer­ciais, tendo fa­ci­li­tado a cir­cu­lação de pes­soas e mer­ca­do­rias. A obra é um dos in­ves­ti­mentos chi­neses no país e in­tegra o pro­jecto da Nova Rota da Seda, de cri­ação de infra-es­tru­turas (ca­mi­nhos de ferro, es­tradas, portos e ae­ro­portos) para in­cre­mentar o co­mércio mun­dial, com be­ne­fí­cios par­ti­lhados entre os países en­vol­vidos.

Mas a vi­agem de Blinken à Etiópia, ainda que no quadro da con­fron­tação de Washington contra Pe­quim e Mos­covo, tem ou­tros pro­pó­sitos ime­di­atos: trata-se de abordar com os go­ver­nantes etíopes a im­ple­men­tação do acordo de paz no norte do país. A sua agenda in­clui con­ver­sa­ções com altos res­pon­sá­veis lo­cais para «ga­rantir a paz du­ra­doira» e, se­gundo a im­prensa, com ope­ra­dores de ajuda hu­ma­ni­tária e re­pre­sen­tantes de or­ga­ni­za­ções da so­ci­e­dade civil para dis­cutir a en­trega de ajuda, a se­gu­rança ali­mentar e os ine­vi­tá­veis «di­reitos hu­manos das co­mu­ni­dades afec­tadas». Vai também en­con­trar-se com di­ri­gentes da União Afri­cana, para de­bater «as pri­o­ri­dades glo­bais e re­gi­o­nais par­ti­lhadas», no se­gui­mento dos com­pro­missos as­su­midos na ci­meira de lí­deres afri­canos e norte-ame­ri­canos re­a­li­zada em De­zembro do ano pas­sado em Washington.

Antes de aterrar em Adis Abeba, Blinken es­creveu nas redes so­ciais que «os países afri­canos são par­ceiros fun­da­men­tais na se­gu­rança ali­mentar, na crise cli­má­tica, na saúde mun­dial, nos di­reitos hu­manos e na paz», me­re­cendo por isso uma maior re­pre­sen­tação nas ins­ti­tui­ções in­ter­na­ci­o­nais.

Apesar das pa­la­vras bo­nitas, é in­te­res­sante su­bli­nhar que a guerra que hoje sus­cita as aten­ções do se­cre­tário de Es­tado norte-ame­ri­cano foi tra­vada entre 2020 e 2022 entre se­pa­ra­tistas da re­gião nor­tenha do Tigré e forças fe­de­rais etíopes, con­flito em que Washington apoiou aber­ta­mente os re­beldes. Esta é uma prá­tica im­pe­rial em que os EUA têm enorme ex­pe­ri­ência: pri­meiro pro­movem as guerras, de­pois en­viam ajuda hu­ma­ni­tária e, quando podem, tropas, sempre em nome da paz e da de­fesa dos di­reitos hu­manos…

Além da Etiópia, o ac­tual pé­riplo de Blinken por África levou-o ao Níger, país que acolhe bases mi­li­tares de França, EUA e Ale­manha e é um dos prin­ci­pais ali­ados de Paris e Washington na guerra do «Oci­dente» contra o djiha­dismo na zona do Sahel.

Ou­tros res­pon­sá­veis norte-ame­ri­canos, como a se­cre­tária do Te­souro, Janet Yellen, a em­bai­xa­dora na ONU, Linda Thomas-Gre­en­field, e a pri­meira dama, Jill Biden, vi­si­taram países afri­canos, nas úl­timas se­manas. A vice-pre­si­dente, Ka­mala Harris, vai no fim deste mês ao Gana, à Tan­zânia e à Zâmbia.

Estas vi­a­gens estão re­pletas de pro­messas de in­ves­ti­mentos e, claro, de «pre­o­cu­pa­ções» com a paz, os di­reitos hu­manos e, so­bre­tudo, com a pre­sença, aliás an­tiga, da China e da Rússia em África.

 



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