Ofensiva dos EUA em África
Os Estados Unidos da América intensificam a ofensiva diplomática em África, com o objectivo declarado de contrabalançar a crescente «influência» da China e da Rússia no continente.
Nesta semana, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, deslocou-se à Etiópia, país que mantém excelentes relações de amizade com a China.
Nem de propósito, dias atrás foi comemorado em Adis Abeba o quinto aniversário da ligação ferroviária entre a capital etíope e o Djibuti. Construída em cooperação com a China, a elogiada ferrovia, num percurso de 750 quilómetros, contribui para a integração regional e para o fomento das trocas comerciais, tendo facilitado a circulação de pessoas e mercadorias. A obra é um dos investimentos chineses no país e integra o projecto da Nova Rota da Seda, de criação de infra-estruturas (caminhos de ferro, estradas, portos e aeroportos) para incrementar o comércio mundial, com benefícios partilhados entre os países envolvidos.
Mas a viagem de Blinken à Etiópia, ainda que no quadro da confrontação de Washington contra Pequim e Moscovo, tem outros propósitos imediatos: trata-se de abordar com os governantes etíopes a implementação do acordo de paz no norte do país. A sua agenda inclui conversações com altos responsáveis locais para «garantir a paz duradoira» e, segundo a imprensa, com operadores de ajuda humanitária e representantes de organizações da sociedade civil para discutir a entrega de ajuda, a segurança alimentar e os inevitáveis «direitos humanos das comunidades afectadas». Vai também encontrar-se com dirigentes da União Africana, para debater «as prioridades globais e regionais partilhadas», no seguimento dos compromissos assumidos na cimeira de líderes africanos e norte-americanos realizada em Dezembro do ano passado em Washington.
Antes de aterrar em Adis Abeba, Blinken escreveu nas redes sociais que «os países africanos são parceiros fundamentais na segurança alimentar, na crise climática, na saúde mundial, nos direitos humanos e na paz», merecendo por isso uma maior representação nas instituições internacionais.
Apesar das palavras bonitas, é interessante sublinhar que a guerra que hoje suscita as atenções do secretário de Estado norte-americano foi travada entre 2020 e 2022 entre separatistas da região nortenha do Tigré e forças federais etíopes, conflito em que Washington apoiou abertamente os rebeldes. Esta é uma prática imperial em que os EUA têm enorme experiência: primeiro promovem as guerras, depois enviam ajuda humanitária e, quando podem, tropas, sempre em nome da paz e da defesa dos direitos humanos…
Além da Etiópia, o actual périplo de Blinken por África levou-o ao Níger, país que acolhe bases militares de França, EUA e Alemanha e é um dos principais aliados de Paris e Washington na guerra do «Ocidente» contra o djihadismo na zona do Sahel.
Outros responsáveis norte-americanos, como a secretária do Tesouro, Janet Yellen, a embaixadora na ONU, Linda Thomas-Greenfield, e a primeira dama, Jill Biden, visitaram países africanos, nas últimas semanas. A vice-presidente, Kamala Harris, vai no fim deste mês ao Gana, à Tanzânia e à Zâmbia.
Estas viagens estão repletas de promessas de investimentos e, claro, de «preocupações» com a paz, os direitos humanos e, sobretudo, com a presença, aliás antiga, da China e da Rússia em África.