África faz o seu caminho

Cristina Cardoso

África tem enorme potencial de desenvolvimento

África é um continente cujos países, na sua diversidade e no seu conjunto, possuem imensas riquezas naturais, representam cerca de 20% da superfície habitável do planeta, a sua população atinge os 1400 milhões de habitantes e é das mais jovens do mundo. Um continente que tem todo o potencial para, com as suas forças, garantir o seu desenvolvimento. No entanto, tem dos índices de desenvolvimento humano mais baixos do planeta, sendo o continente com maiores fragilidades.

África e os seus povos têm uma trágica história de ocupação, espoliação, exploração e opressão por parte dos países colonizadores europeus, o que ainda hoje tem profundos reflexos nos desenvolvimentos em cada país. Ainda hoje, esse passado guia as relações das antigas potências coloniais com o continente africano, expressas na dívida externa, nas relações comerciais desiguais e com contrapartidas penalizadoras, na presença militar a pretexto da segurança e combate ao terrorismo, na rapina dos recursos naturais, na contenção dos fluxos migratórios, na ingerência nos assuntos internos...

Mas a luta heróica dos povos africanos, que levou à grande vaga de libertação nacional que varreu o continente nos anos 50/60, abriu caminhos para a independência, a construção de laços de amizade e cooperação, a defesa da soberania e rejeição de dependências neocoloniais, que se mantêm.

No quadro do agravamento da situação internacional marcada pela política de confrontação e guerra dos EUA, da NATO e da UE, África é hoje alvo de pressões e chantagem por parte do imperialismo, procurando condicionar o seu posicionamento próprio perante a guerra na Ucrânia e as suas diversificadas relações com a Rússia e a China. A este continente, como ao mundo, apresenta-se a perspectiva do domínio hegemónico do imperialismo ou o avanço para um mundo baseado nos princípios da Carta das Nações Unidas, em relações com respeito mútuo, na igualdade soberana dos Estados, na paz e cooperação.

Os EUA encetaram nos últimos meses várias iniciativas para pressionar e procurar alinhar os países africanos com a sua estratégia de confrontação e guerra, como foi o caso da cimeira EUA-África realizada em Dezembro passado. Na calha, continua ainda a denominada Lei de Combate às Actividades Russas Malignas em África, avançada pelo Câmara de Representantes dos EUA em Abril de 2022, que tem como objectivo sancionar todos os países africanos que desenvolvam relações com a Rússia.

O presidente de África do Sul afirmou que os africanos não devem ser punidos pelo seu posicionamento de não alinhamento entre as grandes potências e que esta lei apenas traria danos a África e marginalizaria o continente. Aliás, a política de sanções unilaterais imposta pelos EUA contra diversos países, como Cuba, Venezuela ou o Zimbabué, foi recentemente criticada pelo governo da África do Sul.

Em várias ocasiões os países africanos têm afirmado que não devem ser postos na situação de ter que escolher entre a EUA ou a Rússia e a China. As razões estão à vista: a relação histórica com a União Soviética, que foi solidária com os movimentos de libertação e os jovens estados independentes, o contributo que a China tem dado para o desenvolvimento do continente com benefícios para ambas as partes, a solidariedade no combate à fome, as trocas comerciais justas...

Seja na diversificação das suas relações internacionais ou mesmo rejeitando a dependência neocolonial como recentemente se verificou com a expulsão das tropas francesas no Mali e no Burquina Faso, África continua o desafio de trilhar o seu caminho de independência e soberania, aquele que os seus povos escolheram.




Mais artigos de: Opinião

Onde é que eu já ouvi isto?

É bem conhecida a afirmação atribuída a Maria Antonieta, em plena crise económica e social provocada pela política antipopular de Luís XVI, proferida quando o povo francês clamava por pão, e a senhora, impressionada com a ferocidade dos protestos, de forma candente e seguramente toldada pela fartura que nunca lhe faltou,...

Um altar-palco por dia

O PCP vem denunciando há anos os milhões de dinheiro público que têm sido entregues de mão beijada a grupos privados. Na passada sexta-feira, durante um jantar em Coimbra, o Secretário-geral do PCP elencou novamente exemplos chocantes: 1250 milhões de euros em 2021 para as PPP rodoviárias; 16 mil milhões para a banca...

Habitação no Censo: cara, degradada e insalubre

O problema da habitação no nosso país contém os traços de uma situação social intolerável. Está muito longe de se resumir à questão do direito a ter um lugar onde habitar. Dados recentes, nomeadamente os oriundos do Censo 2021, ilustram-no. A dinâmica de financeirização do acesso à habitação conduziu a uma situação em...

Lola

«Um preto de cabeleira loura ou um branco de carapinha não é natural, o que é natural e fica bem é cada um usar o cabelo com que nasceu.» Criado nos anos 80 do século passado, o anúncio que imortalizou o Restaurador Olex data de um tempo em que o «politicamente correcto» ainda não tinha sido inventado, não havia redes...

Pela Paz! Não à escalada de confrontação e guerra!

Como o PCP tem justamente salientado, os EUA, com o alinhamento dos seus aliados – particularmente da NATO e da União Europeia, mas também do Japão e de outros países da região Ásia-Pacífico –, tem vindo a intensificar a sua estratégia de domínio hegemónico global, atingindo um patamar...