A verdade pela boca deles

Ângelo Alves

Há evidentes sinais de arrastamento do conflito na Ucrânia

Apesar de sinais de negociações em torno da guerra na Ucrânia, os factos e elementos de análise apontam para um quadro de prosseguimento sem fim à vista daquele conflito e mesmo de uma decisão dos EUA, NATO e União Europeia de aumentar a tensão com a Federação Russa.

No plano da dita «ajuda» militar, com a aprovação pelos EUA de um novo pacote de quase 300 milhões no dia 9 de Dezembro, já se conta às dezenas de milhares de milhões de dólares o investimento bélico norte-americano naquele conflito. O recente comunicado do G7, em que se afirma a decisão de «atender aos requisitos urgentes da Ucrânia para equipamentos militares e de defesa com foco imediato em (…) sistemas e capacidades de defesa aérea», as notícias do possível envio do sistema de misseis Patriot para a Ucrânia; a declaração do governo britânico de «manter a mente aberta para o fornecimento de mísseis de longo alcance com o objectivo de atingir locais de lançamento de drones que os russos têm usado»; e as declarações do ministro francês dos Negócios Estrangeiros admitindo um novo envio de armamento para a Ucrânia, tornam evidentes os riscos de arrastamento e alastramento do conflito, como aliás já o demonstram os crescentes ataques em território russo, que mais do que relevância militar, visam sobretudo impedir para já quaisquer perspectivas de negociação.

No plano económico, a União Europeia prossegue, com a preparação do 9.º pacote de sanções, a sua «missão suicida», atribuída pelo «grande irmão» transatlântico, que mais do que prejudicar a Rússia parece ser desenhada para ir debilitando cada vez mais as economias europeias – como aliás já o demonstra a recessão na Alemanha –, com graves consequências do ponto de vista social, como nós bem sabemos em Portugal.

No plano político, a recente decisão da Time de atribuir a Zelensky o título do personalidade do ano 2022 é um sinal claro que este ainda não é o tempo para deixar cair o homem de mão dos EUA, sinal replicado na Europa por variados prémios, e pela decisão da União Europeia de mais uma vez convidar Zelensky, desta vez para discursar no Conselho Europeu, alimentando assim mais uma vez a questão da adesão da Ucrânia à União Europeia.

O facto cada vez mais evidente é que esta guerra, que nunca deveria ter tido início e que deve terminar o mais depressa possível, não começou no dia 24 de Fevereiro de 2022. Começou muito antes, nomeadamente após o Golpe de Estado de 2014 e as atrocidades e crimes que se lhe sucederam, numa estratégia que é hoje ainda mais claro ser de confrontação com a Federação Russa.

Aliás, «os Acordos de Minsk foram uma tentativa para dar tempo à Ucrânia. O objectivo era ganhar tempo. E [a Ucrânia] usou esse tempo para ficar mais forte, como se pode constatar hoje. (…) Estava claro para todos nós que o conflito estava congelado, que o problema não tinha sido resolvido, mas foi exactamente isso que deu à Ucrânia um tempo precioso». Não, não foi o PCP que fez esta afirmação, foi exactamente Angela Merkel, uma das protagonistas dos Acordos de Minsk, votados no Conselho de Segurança da ONU, e que, como o PCP afirmou, nunca foram cumpridos pela Ucrânia.




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