O capitalismo não é verde
A propósito dos protestos que alguns jovens têm vindo a promover em torno do clima, João Miguel Tavares (JMT), escrevendo no Público do passado dia 17 – e aproveitando para bolçar mais um pouco do seu «ranço» ideológico – declara-se «rodeado de pessoas adultas que padecem de um estranho deslumbramento: sentem-se cheias de vontade de simpatizar com os jovens que protestam pelo clima».
JMT mostra-se indignado por haver pessoas que simpatizam com «os gestos, os discursos e as tontices», só porque «são oriundas de jovens bem-intencionados» que classifica como «manifestações etéreas ou suspiros apocalípticos de quem jura que o mundo está para acabar em 2030 e nem consegue concentrar-se nas aulas». Umas «parvoíces», vocifera, recomendando aos jovens: vão mas é estudar e deixem-se destas coisas!
Ora, saberá JMT que a degradação ambiental é uma questão séria - pela qual o capitalismo é o grande responsável – e, portanto, é natural que haja quem (incluindo os jovens) se preocupe com o futuro. Saberá também JMT que são os centros ideológicos do grande capital que aterrorizam os jovens com visões castratofistas procurando fomentar o medo (e, até mesmo, o pânico) paralisante, procurando inculcar a ideia de que, se o fim do mundo está próximo, então, nada há a fazer a não ser «curtir a vida» e esperar. Ou, então, desviando os jovens das verdadeiras causas do problema e da luta organizada e consequente para lhes pôr fim, estimula uma linha de acção que, independentemente das intenções de denúncia e contestação, não ponha em causa o sistema, ou seja, o modo de produção capitalista – que não é verde nem nunca o será.
Claro que há uma outra atitude consciente, uma outra forma de luta – a luta organizada em que, pela sua consciência e projecto alternativo, os jovens comunistas são imprescindíveis – que coloca o capitalismo «no banco dos réus» das agressões ao clima, à Natureza, ao ambiente e à própria humanidade, luta por um sistema alternativo ao capitalismo, o socialismo, e exige resposta urgente para esses problemas.
Ou seja, onde JMT vê «tontices», os jovens (e os adultos) vêem razões para lutar. Ao deixar implícito o apelo: «vão lá estudar, deixem-se destas coisas», JMT faz lembrar um outro apelo de má memória radicado no «ranço» ideológico do fascismo: não se metam em política, a vossa política é o trabalho.