Narrativas orçamentais

Os debates parlamentares sobre os orçamentos do Estado são sempre boas oportunidades para a criação de novas narrativas mediáticas. A discussão do Orçamento do Estado para 2023, esta semana, na Assembleia da República, trouxe a repetição de fórmulas antigas para destacar o acessório em detrimento do essencial do que ali esteve em debate: as soluções (e a falta delas) para os problemas do País.

As peças de televisão são particularmente dadas a estas rábulas, alimentando a tendência crescente para transformar a informação noutras coisas. Sob o pretexto de revestir as peças informativas por um tom mais «leve» e «descontraído», com o propósito declarado de tornar a informação mais apelativa, o que de facto vimos foram largos minutos dedicados a referências musicais e outros episódios «insólitos» – minutos que faltaram para mostrar o que o Orçamento contém, o que não contém e as alternativas que naquele debate foram avançadas.

A tendência desta temporada orçamental foi inaugurada pela RTP, no Telejornal do primeiro dia de debate, com uma peça em que se ouviram deputados a citar canções, a perder a voz, a fazer graças com tudo isso. Porventura não querendo ficar para trás, no dia seguinte foi a vez de a SIC repetir a dose no seu Jornal da Noite, coroada com o sorriso divertido do pivô no final, como que a dar o mote: enquanto o Governo não garante o pão, a estação de Balsemão garante o circo, esperando fazer de todos nós tolos.

Mas a SIC é multifacetada e tem respostas diferenciadas para diferentes públicos. Para aqueles cujo interesse no debate orçamental não fica saciado com os resumos dos noticiários, a estação tinha preparado uma outra narrativa na emissão em directo que fez do debate parlamentar na SIC Notícias. O esquema de leitura do debate – e da vida política nacional – seguida pelos decisores editoriais daquele canal ficou claro logo no início da sessão parlamentar, assim como ficou clara a vontade de o impor aos telespectadores. Depois de transmitir em directo a intervenção inicial do primeiro-ministro e a primeira pergunta do PSD, a SIC Notícias passou para um comentário em estúdio durante a primeira intervenção do PS, dizendo que voltariam à Assembleia da República quando chegasse a vez da oposição. E, de facto, voltaram para São Bento para ouvir o Chega e a IL, voltando a interromper a emissão em directo durante a intervenção do Secretário-Geral do PCP. Para a SIC, mas não só, existem partidos de primeira, partidos de segunda e partidos a silenciar.

Aquilo que o debate parlamentar demonstrou, no entanto, foi o alinhamento do Governo e do seu Orçamento com os interesses dos grupos económicos e a ausência de resposta ao que falta nos salários e nas pensões, no controlo dos preços, nos serviços públicos. Mas mostrou também que a alternativa existe e que as soluções para os problemas do País passaram por ali, por maior que seja a vontade dos donos da comunicação social dominante em o esconder.




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