Indignação e protesto no País contra o aumento do custo de vida
Convocadas pelo movimento Os mesmos de sempre a pagar – contra o aumento do custo de vida, realizaram-se acções de indignação e protesto em todo o País, exigindo a valorização de rendimentos e a fixação de preços de bens e serviços essenciais.
Está tudo mais caro e não há salário ou reforma que aguente
A jornada, concentrada sobretudo no sábado, 24, fez-se de acções diversificadas, como marchas, concentrações, distribuições e contactos.
Em Lisboa, foram muitos os que se concentraram no Largo de São Domingos, junto ao Teatro Nacional D. Maria II, empunhando cartazes e faixas com as principais reivindicações: do controlo de preços da energia, dos combustíveis e da alimentação à redução do IVA da electricidade e do gás para a taxa mínima de seis por cento, passando pelo urgente aumento de salários e pensões de modo a que o poder de compra seja reposto. A concentração culminou uma manhã intensa, marcada por mais de 40 acções de contactos com as populações.
No Porto, a concentração teve lugar na Praceta da Palestina, onde dominava uma imensa faixa vermelha, onde se inscrevia a branco o nome do movimento, ele próprio uma palavra de ordem de enorme alcance político. A marcha percorreu as ruas adjacentes ao local da concentração e passou pelo renovado mercado do Bolhão, onde todos os dias se sente de modo dramático – para vendedores e utentes – as graves consequências do aumento dos preços dos bens alimentares.
Também em Setúbal, o movimento promoveu uma caminhada pelas ruas do centro, parando depois junto a uma loja do Pingo Doce, onde foram proferidas as intervenções. Como não podia deixar de ser, lembrou-se que se a maioria sofre sem saber como enfrentar as despesas do dia-a-dia, há quem acumule lucros extraordinários – nomeadamente os grupos dos sectores da energia, dos combustíveis e da grande distribuição comercial.
Daí ter-se escolhido, também em Coimbra, uma loja do Continente para realizar a acção de protesto, no caso um buzinão automóvel à passagem pelo grupo de activistas do movimento que empunhava faixas e apelava à participação dos automobilistas. No distrito de Leiria decorreram acções de contacto e agitação nos concelhos de Leiria, Marinha Grande, Alcobaça, Caldas da Rainha, Peniche e Bombarral, assim como em Évora, esta última na histórica Praça do Giraldo. Em Elvas, foram montadas bancas para recolha de assinaturas para uma petição que o movimento tem em curso, com as reivindicações fundamentais, e em Ovar realizou-se uma tribuna pública com diversas intervenções focando diferentes aspectos deste grave problema social.
Em Braga, o protesto assumiu a forma de acampamento na Arcada, local central da cidade, demonstrando-se dessa forma simbólica a indignação perante a passividade do Governo relativamente à especulação e ao aumento do custo de vida. No Funchal decorreu uma acção mas no dia 23.
Há quem ganhe – e muito
O movimento Os mesmos de sempre a pagar – contra o aumento do custo de vida, tanto na mobilização como nas próprias iniciativas, insiste no direito a viver com dignidade e recusa que seja o povo a pagar uma «crise» para a qual não contribuiu: «Foi a crise, depois a COVID-19, agora é a guerra. Há sempre razões e desculpas, mas no fim a conta sobra sempre para os mesmos. Está tudo mais caro e não há salário ou reforma que aguente.»
Demonstrando de modo simples e directo que se há quem perca – a maioria dos portugueses – outros há que ganham com esta situação, o movimento faz as contas: «Sobe a inflação, o pão, o gás, os combustíveis, os vegetais, a carne, o peixe, a massa, o óleo, a fruta, a renda da casa, a luz. Sobem aos milhões os lucros das grandes empresas (6 maiores bancos – 617,4 milhões de euros; GALP – 420 milhões de euros; Jerónimo Martins – 261 milhões de euros; Sonae – 118 milhões de euros; EDP Renováveis – 265 milhões de euros). Sobe tudo menos os salários e as reformas.»